Rio Grande do Norte, quarta-feira, 24 de abril de 2024

Carta Potiguar - uma alternativa crítica

publicado em 3 de fevereiro de 2012

Assalto e pânico seletivo: Natal é maior do que a zona sul

postado por Daniel Menezes

Uma padaria do bairro de Petrópolis foi assaltada. O crime deixou três feridos e alimentou um rastro de pânico que ganhou os jornais, redes sociais, blogs e outros canais. Chegaram a fazer, inclusive, uma corrente no twitter para espalhar os rostos dos bandidos.

A histeria se alastrou como pólvora queimando alimentada pelas “teses” recheadas por chavões: “a criminalidade atinge índices alarmantes”, e/ou que “bandido bom é bandido morto”.

É a típica visão de parte da classe média e elite natalenses funcionando. A concepção que tende a considerar importante apenas aquilo que acontece no “lado sul” da cidade.

Que defende a regulamentação do uso dos Parrachos de Pirangi somente quando os “populares” começam a invadir a praia dos donos de lanchas.

Que olha atravessada para os ônibus coletivos transitando pelo litoral sul. “Pirangi presta mais não. Tá passando ônibus coletivo aqui”, me disse um amigo certa vez, apontando com o bico que fazia com a boca para uma família que lanchava na areia da referida praia.

Que só lembra do cajueiro quando tem de transitar por ali. Não poderíamos discutir todos os apelos sazonais contra o cajueiro com um “cortem essa árvore que quero passar”?!

Que usa a palavra “misturado” para todo e qualquer espaço que não seja, continuando no vocabulário que se assemelha com limpeza social, “mais elitizado”.

E aí, tentando romper com essa visão, vale perguntar: quantos assaltos similares ocorreram, só esta semana, nas zonas norte e oeste?

E o pânico?

Cadê os jornais, editoriais, correntes desesperadas no twitter, etc?

No máximo, patrulha policial…

PS. O tema de um assalto a uma padaria não é desimportante. Só penso que Natal não começa em Ponta Negra (esqueçam a vila daquela praia) e não termina nos cafés e shoppings de Petrópolis (com, para essa visão, algumas ilhas dispersas de civilização).

Um pouquinho de (uma outra) visão de conjunto faria bem e arejaria mais a discussão..

Daniel Menezes

Cientista Político. Doutor em ciências sociais (UFRN). Professor substituto da UFRN. Diretor do Instituto Seta de Pesquisas de opinião e Eleitoral. Autor do Livro: pesquisa de opinião e eleitoral: teoria e prática. Editor da Revista Carta Potiguar. Twitter: @DanielMenezesCP Email: dmcartapotiguar@gmail.com

11 Responses

  1. Anônimo disse:

     um cara cortou a cabeca do outro na zona norte, eu vi essa semana no patrulha…
    nem vi o povo com esse pânico todo por aí… pq enfim, foi na zn…aliás, “lá” na zn, tipo, é outro canto, né natal não…

  2. Helena disse:

    rsrsrs, David, espero não estar sendo noobie ou chovendo no molhado falando isso, mas acho até engraçado certas coisas que ocorrem aqui com relação à essa coisa de a ZN “não ser Natal”. Só pela forma com que as pessoas se referem ‘ao outro lado’ já dá pra perceber várias coisas. Já reparei por exemplo, que é hábito de quem mora na porção norte da cidade – imagino eu que seja justamente pela forma com que a porção sul a vê –  de não falar o bairro em que reside, parece que lá tudo é a mesma coisa e mais, que a ZN fica em outro planeta. É mais ou menos como a tal da Africa, um continente enorme que tem trocentos países, trocentas etnias e trocentas coisas diferentes umas das outras, mas que todo mundo chama aquilo tudo de “Africa” e pronto. Pode ver, aqui em Natal, você pergunta pra uma pessoa da Zona Norte ‘onde tu mora?’ e em 90% das vezes ela faz uma cara do tipo ‘viiish, tu não sabe não, é bem looonge’ aí você insiste e acaba ouvindo apenas “Zona Norte”. rsrs. Aí geralmente eu pergunto ‘sim, mas em que bairro, digaí’ e a pessoa me olha com aquela cara de espanto e ‘tenho certeza que tu nem faz idéia de onde seja, pq tu quer saber?” e por fim, responde “Igapó, Nova Natal, Santarém et al”, felizmente na maioria das vezes compreendendo que eu sou apenas uma pessoa curiosa que vê todos os bairros da mesma maneira, ou seja, se eu converso com alguém de Lagoa Nova ou Capim Macio querendo saber onde mais ou menos fica a residência da pessoa, o mesmo faço com quem mora em qualquer outro bairro. E mesmo que mal conheça o lugar ainda assim faço questão de saber direitinho onde fica, perto de onde, como chega, etc, porra não é tudo Natal??? Chega a ser impressionante como rola essa coisa do ‘ah mulher, nem se interessa, provavelmente você nunca pisou nem vai pisar lá mesmo…” Enfim, são essas pequenas coisas que na minha humilde opinião já denunciam que existe bem mais entre a parte sul e a pate norte de Natal do que um rio e duas pontes…

  3. Thiago Filipe disse:

    muito boa a observação do nobre amigo, bem como os comentários…

  4. Diego josé disse:

    Apoiado!

  5. Igorgois disse:

    Daniel Menezes o senhor está ficando chato e repetitivo. É claro que a burguesia da cidade merece suas críticas, mas vc esta rotulando as pessoas de forma equivocada.

    O assalto a padaria não foi um assalto comum das outras áreas da cidade, o meliante atirou sem motivo algum nas pessoas, e diga-se de passagem, pessoas que não são da elite de Natal, já que o almoço daquela padaria tem preço popular.

    todo dia tem assalto em Natal, seja qual região, mas não é todo dia que acontece a barbaridade que ocorreu em Petropolis, se não fosse a sorte (ou Deus pra quem quiser) essas pessoas atingidas teriam partido dessa pra melhor.

    Foque em outra coisa, a elite e classe média natalense tem sim suas hipocresias, mas não vamos generalizar, nem incluir isso em todos os fatos que acontecem em Natal.

  6. Simplista, pra nao dizer raso…tendencioso….muito aquém de artigo jornalistico. mas para o que se propõe deve estar perfeito.

  7. Daniel Menezes disse:

    Caro Igor,

    assista patrulha policial diariamente. Aí sim você verá o que é desgraça, barbaridade e “violência gratuita”.
    Por isso que, em certo sentido (não defendo o patrulha policial integralmente. Acho que há lá uma banalização da violência), o tele expectador do patrulha policial está certo quando diz: assisto patrulha porque ele fala sobre o meu mundo. 
    Outra, a questão não é quem foi atingido, mas aonde o assalto ocorreu.
    Pode ter a certeza, meu caro, que se o assalto tivesse ocorrido no Alecrim, que é aonde a atendente mora, a repercussão teria sido bem menor, ou você não concorda comigo?!
    Não se trata de ser repetitivo, porque, alias, não uso a argumentação de classe para tudo.
    Só é público e notório que os temas que são considerados importantes são aqueles que atingem a classe média mais tradicional (não a nova classe média) da cidade.
    São as preocupações concernentes a essa classe, que não ocorre apenas em Natal, que dominam a discussão pública.
    E aí, para completar, não sou eu quem sou repetitivo, é o racismo de classe que se repete diariamente na cidade. Ele consegue, quase que diariamente, impor os temas que são relevantes para o poder público e aqueles que não são.
    Vou citar mais uma questão recente, que a imposição de pauta foi tão gritante, que fez o MP do Meio AMbiente intervir sobre o tema.
    Parrachos de pirangi, quando massificado, criou uma histeria pelos que antigamente tinham o monopólio daquele espaço (ou você acha que ninguém nunca tinha ido ali). O desespero e a pressão foram tão grandes, que a promotora normatizou o uso.
    Enquanto isso, moradores da Zona Norte lutam há anos contra a poluição sonora gerada pela Shock Show e pelos Shows que ocorrem no Panatis e em um Shopping e o tema nunca atinge os jornais, os colunistas não mencionam e o MP, nem de longe, se apressa em resolver o problema.
    Portanto, é uma classe social com uma visão de mundo, tentando tornar “uma” visão de mundo como “a” visão de mundo por excelência.
    Quer ler um pouco mais sobre as manifestações natalenses em relação ao racismo de classe? Veja como Macau é falado em relação a Caicó…
    Quanto a chatice… talvez seja porque eu toque num tema que não é muito agradável de se ler…
    Grande Navarro,

    não sou jornalista. E quis, de fato, contra o olhar tendencioso que imperou nas análises posteriores ao assalto, ser também tendencioso para tornar visível a tendência da visão, que se pretende ser única na cidade.

    Bem, é isso.

  8. Igorgois disse:

    primeiro desculpa se fui mau educado. Mas é que as suas últimas matérias vc já criticava os hipocritas da classe média, de certa forma há de se concordar. Mas é que aquele assalto em questão foi merecedor de destaque, foi uma coisa anormal naquela região e de uma violência sem sentido, até pq os caras só levaram 100 reais. Mas quase mataram 3 pessoas, inclusive uma moça ficou paraplégica.

    Eu acredito que quando acontece assaltos no Alecrim e em outras lojas da cidade principalmente se for violento tem sua repercusão sim, inclusive no RNTV reportou sobre um assalto numa loja de informatica em plena luz do dia no Alecrim no começo de janeiro. E no mesmo programa vivem falando que foi encontrado um corpo esquartejado no bairro tal e um homem morto numa rua carroçável num bairro periferico x.

    Claro que as regioes periféricas da cidade tem crimes bem mais violentos, porem assaltos a lojas atirando em todo mundo não vejo muito nao. Vejo (no patrulha policial) realmente assassinatos, estupros, entre outros crimes pesados. Mas não acho q seja comum assaltos onde o bandido atira nas pessoas por motivos banais todo dia nas outras áreas das cidades.

    Mas acho q vamos concordar numa coisa, do mesmo jeito que o patrulha polical fala sobre o mundo daquele telespectador, as mídias e repórteres que vc criticou atinge o seu público alvo. E não ache q todo mundo da classe média que se impressionou e explorou esse tema é preconceituoso com o resto da cidade.

    OBS: os parrachos é a farofada  da elite, vão lá e parecem uns porcos, sujam tudo. Falam do pobre farofeiro que suja a praia de farofa e galeto, mas vão pro mar e jogam suas latas, refrigerantes, copos, restos de camarao, etc,etc…

    • David Rêgo disse:

      Olá Igor,

      Concordo com sua posição. Penso que ao escrever em “formato de blog” podem surgir alguns problemas como ser mal compreendido devido ao “estilo” do texto ser curto e sem maiores explicações e pormenores. Fora isto creio que suas postagens estão de acordo com muito do que Daniel e muitos de nós da Carta Potiguar pensamos. Sempre digo que o melhor dos textos são os comentários o debate aqui travado só comprova minha teoria. hahahaahaha ;D

  9. Ana disse:

    É verdade tudo o que disse… Notei essa discriminação exagerada, depois que vim morar aqui a 6 anos para estudar… Mas acredito que tudo isso acontece por causa da cultura da cidade… Alíás, da não cultura da cidade. Natal parece que não é Nordeste?! Campina Grande na Paraíba é um exemplo de Cidade Cultural. No fim das contas são as pessoas que são discriminadas que não sabem dar respostas certas. Outro dia um professor da UFRN disse que Ponta Negra estava entregue às traças…. E eu respondi: ” E quem liga para Ponta Negra e companhia limitada? O futuro agora é São Gonçalo do Amarante (Cidade que terá o novo aeroporto internacional do RN)…” KKK… Ele ousou me questionar? NÃO!!!!

  10. Luã Nóbrega disse:

    parece com joão pessoa
     

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