Rio Grande do Norte, quarta-feira, 24 de abril de 2024

Carta Potiguar - uma alternativa crítica

publicado em 29 de fevereiro de 2012

A lorota da Coteminas

postado por Daniel Menezes

Quando se instalou em São Gonçalo do Amarante, a Companhia Tecidos Norte de Minas (Coteminas) recebeu terreno para a construção do parque industrial e isenção fiscal. Em troca, eles prometiam empregos e que viriam para ficar.

No entanto, revendo os seus planos, a empresa resolveu fechar a sua fábrica e desempregar 3 mil pessoas (alguns falam em 15 mil entre diretos e indiretos). Apresentou em seu lugar um empreendimento imobiliário de 1 bilhão de reais, que conterá shoppings, prédios comerciais e residenciais.

O pequeno detalhe é que ela irá construir no terreno que lhe foi doado em troca da instalação da fábrica e da geração de empregos.

Em resumo, recebeu um mega terreno doado pela prefeitura, nunca pagou imposto e agora, desfazendo o acordo, vai usar o espaço para uma destinação completamente diferente.

Os bobo alegres de plantão pintaram a manobra como positiva para o RN.

Será?

INICIATIVA PRIVADA?

Em entrevista, a governadora enfatizou o espírito empreendedor do dono da Coteminas. Poxa, neste contexto quem não seria?

JUSTIÇA ROSADA

Enquanto que o terreno “doado” não é questionado e a coteminas já se considera dona, há em todo o RN pessoas que vivem em terrenos “invadidos” (não há também uma “apropriação” da coteminas, na medida em que ela pratica desvio de função no uso do espaço que lhe foi cedido com um fim pré-estabelecido?) por pequenos moderadores e o governo e prefeituras não têm a menor preocupação de legalizar a situação dessas pessoas.

ARRANCADA?

Rosalba Ciarlini não perdeu, juntamente com Jaime Calado, a oportunidade de utilizar a marca principal de sua gestão: as frases de efeito:

“É um projeto que marca o desenvolvimento de São Gonçalo e do RN”, disse ela.

IMPARCIALIDADE PARCIAL

O texto abaixo é jornalístico ou se trata de um informe publicitário? Descreveu tão belamente o empreendimento que um desavisado, ao ler, pode até se interessar. Faltou dizer só o preço.

Do nominuto

 

O projeto de Horizontes do Potengi é um marco do planejamento sustentável, contribuindo para a melhoria das condições socioambientais do município e da Região Metropolitana. Estão previstas áreas para posto de saúde, creche, escolas de Ensino Fundamental, Médio e Educação Ecológica, biblioteca e clube.

Localizado em área privilegiada às margens do Rio Potengi, o empreendimento terá edifícios sempre voltados para o verde e geograficamente dispostos à brisa marítima, valorizando o olhar para a cidade de Natal.

Além da interação com os amplos espaços abertos, disporá de facilidades para o dia-a-dia das famílias, como: escola, creche, clube, shopping e cinema, além de parque ecológico. Uma grande praça central, com restaurantes e artesanato regionais, integrará socioculturalmente os moradores, usuários e frequentadores. Tudo a distâncias que dispensam a utilização de automóveis e ônibus.

Horizontes do Potengi foi apresentado hoje (24) às autoridades do Estado do Rio Grande do Norte e do Município de São Gonçalo do Amarante, em uma demonstração de confiança no futuro da região e com a certeza do indispensável apoio à viabilização do investimento.

IMPARCIALIDADE PARCIAL II

A maioria dos jornais difundiram o seguinte título:

Coteminas investe R$ 1 bilhão em São Gonçalo do Amarante

Não seria mais adequado dizer:

Coteminas de São Gonçalo fecha as portas e desemprega 3 mil pessoas

Ou:

Após anos de isenção fiscal, Coteminas resolve construir empreendimento em terreno doado pela prefeitura

Não seria mais honesto com a situação vigente? Afinal, 3 mil pessoas perderam os seus empregos imediatamente. A coteminas alega que irá criar, num cenário de longo pazo, 2 mil empregos.

CARTA POTIGUAR

Por isso que a @cartapotiguar prefere explicitar suas convicções do que praticar malabarismo mental, que tem como objetivo esconder inclinações ideológicas e econômicas.

Não queremos subestimar a inteligência dos nossos leitores.

E só se respeita o leitor jogando limpo e pondo as cartas na mesa.

Foto: Elisa Elsie 

Daniel Menezes

Cientista Político. Doutor em ciências sociais (UFRN). Professor substituto da UFRN. Diretor do Instituto Seta de Pesquisas de opinião e Eleitoral. Autor do Livro: pesquisa de opinião e eleitoral: teoria e prática. Editor da Revista Carta Potiguar. Twitter: @DanielMenezesCP Email: dmcartapotiguar@gmail.com

8 Responses

  1. Cleyton Fernandes disse:

    Enquanto vivermos com uma grande parcela dos meios de comunicação sob o jugo de uns poucos – e as alternativas, como a Carta Potiguar, são poucas e de baixo alcance – teremos de conviver com essa tipo de manipulação bajulatória bastante comum nesse curral! Sobra-nos o boca-a-boca, intensificado pelos ‘retweets’ atuais. Essa parece ser a única arma, quando pensamos em soltar aos ventos o que os ‘grandes’ não querem que se saiba. Façamos, então, a nossa parte!

  2. Pedro Paulo disse:

    Excelente artigo.

  3. Miltonbraz disse:

    Depois de ver noticias de que o governo do maranhçao deu 9,5 milhores para o carnaval do rio, não sei como o povo nçao faz manifestações contra esta corja de pilantras!

  4. Paulo Emílio disse:

    É tão bom não ter amarras políticas… =)

  5. Mostradanus disse:

    Corajoso, parabéns. E pior que não há a menor dúvida que isso tenha realmente ocorrido e esses grandes industriais fazem isso o tempo todo com a desculpa de “gerar empregos”. Em Brasilia no tempo da ditadura militar a gente via praças inteiras desaparecerem para serem construidos shoppings e galerias comerciais, pagando obviamente dividas de financiamento de campanha.

  6. Vicente Mauricio disse:

    Cara-de-jabuti e cara-de-coruja falam demasiadamente e fazem quase nada. Daniel, SGA deveria ser um grande canteiro de obras na infraestrutura, mas parece que o segundo “bicho” supracitado pensa que o aeroporto é em outro município, se tem alguma rua pavimentada é por causa das construtoras que fazem residenciais e casas.

    Sugiro ao nobre Sociólogo fazer uma matéria sobre a criminosa falta de uma linha de ônibus, que ligue o centro de SGA à zona sul de Nata, e poder municipal, DER e Estado inventam trocentas desculpas por ainda não ter feito essa linha, pois é de saber até do mundo mineral que mais de 80% dos trabalhadores e estudantes da Grande Natal se deslocam diariamente para a zona sul.

  7. Blpassaia disse:

    o terreno foi doado mesmo? tens certeza?

  8. Sincero disse:

    Toda essa estória de mega empreendimento era apenas uma desculpa para mascarar o fechamento da fábrica e encobrir, com uma cortina de fumaça, o pobres trabalhadores desempregados. Lamentável!

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