Rio Grande do Norte, quarta-feira, 24 de abril de 2024

Carta Potiguar - uma alternativa crítica

publicado em 1 de março de 2012

Coteminas: prefeito Jaime Calado desafia a inteligência

postado por Daniel Menezes

E os informes publicitários sobre o caso Coteminas continuam se propagando pela imprensa local. Jaime Calado, entrevistado por uma rádio, foi além das análises bajulatórias de alguns jornalistas sobre o tema. Conseguiu desafiar a inteligência de qualquer ser minimamente normal e capaz de responder qual é o resultado da equação 2 + 2.

NÚMEROS ELÁSTICOS

De acordo com o prefeito de São Gonçalo do Amarante, a atual fábrica da Coteminas gerava apenas 1.300 empregos, enquanto que o novo empreendimento imobiliário trará 6 mil empregos diretos.

A estratégia retórica é simples: diminui-se os números negativos (perda de empregos) e aumenta-se os positivos (futuros postos de trabalho). O prefeito contraria os próprios dados da Coteminas passados para a imprensa. De acordo com a empresa, são 3 MIL empregos diretos e não 1.100, conforme números do prefeito. O gestor também esqueceu – porque será?! – de mencionar os empregos indiretos perdidos, que chegam a 15 mil.

Já o lado “positivo” pode ser jogado para o céu. Não há nenhuma comprovação de que o novo empreendimento trará 6 mil empregos. E menos ainda em quanto tempo. O prefeito não apresentou nem um estudo que assevere a afirmação. Entusiasmo não fundamenta estatísticas.

EU QUERO SER DESEMPREGADO

O prefeito disse que os funcionários serão remanejados para outra filial da fábrica. Os próprios representantes da empresa afirmaram, também de acordo com declarações em jornais da cidade, que a outra sede, que está situada em Macaíba, não necessita de mais empregados.

No entanto, conforme o prefeito, além de um novo emprego, os funcionários serão requalificados e assistidos.

Fiquei com a sensação de que perder o emprego é algo bom. Porque será que esse povo ainda tá reclamando?

ESQUECENDO DO ÓBVIO

Ninguém nega que um empreendimento daquele porte traga empregos e gere desenvolvimento. Mas porque o prefeito não foi questionado sobre o terreno que foi cedido GRATUITAMENTE, sem nem uma contrapartida e para outro fim que não o de construir prédios e shoppings?

Será que se amanhã algum empresário de São Gonçalo do Amarante pedir um terreno a prefeitura para construir prédios o prefeito também irá ceder?

BINGO

Para terminar de completar o sonho, tudo ainda ficará pronto antes da Copa de 2014. Será o paraíso na terra?

LEGALIZAÇÃO FUNDIÁRIA

Enquanto um mega terreno é dado de mão beijada para uma empresa construir apartamentos e cobrar pelos APs e pelo terreno também, há cidadãos no RN morando em lotes muito pequenos sem receber do Estado e das prefeituras nem 1/1000 do mesmo tratamento. Vivem na ilegalidade.

JOGANDO CONTRA

O prefeito ainda afirmou que “tem um pessoal aí que fica fazendo terrorismo. Torcendo contra”.

“Tipo assim”, como falam os meus alunos, quem critica as ações de uma prefeitura que implementa uma medida dessa magnitude sem estabelecer um mínimo de dialogo com a população e sem fazer, mais uma vez, nem um estudo, é porque torce contra?

Contra o que, caro prefeito?

Nem você sabe dizer ao certo o que acontecerá na sua cidade.

BONDADE

“Em que pese apenas 1/3 dos empregados serem de São Gonçalo do Amarante, estou preocupado com a situação deles”, enfatizou o bondoso prefeito.

Sua fala poderia ser assim traduzida: “enquanto prefeito de São Gonçalo, não deveria nem me preocupar com a maioria dos empregados. Porém, como sou legal, vou acompanhar o caso”.

PREVENÇÃO

Não sou imediatamente contra a medida. Questiono o modo não democrático como a ação (não) é discutida e a total ausência de dados que asseverem o que a empresa está dizendo e o prefeito endossando.

Porque, do jeito que está, fica a impressão de que se alguém chegar amanhã com um projeto lindo e maravilhoso, mostrando um mundo que entusiasmaria até Pangloss, personagem de Voltaire, o prefeito abre um sorriso e decide doar tudo que a cidade tem para o proponente.

OUTRA POSSIBILIDADE?

Não existe outro grupo empresarial no Brasil, ou quem sabe, já que vivemos no mundo globalizado, no planeta interessado em dar a mesma destinação para o mega terreno, mas oferecendo uma contrapartida maior do que simplesmente supostamente gerar empregos?

Porque não fazer um leilão?

Ouvir outras propostas?

Se a empresa não vai mais utilizar o terreno para o fim para o qual o espaço lhe foi cedido, a prefeitura volta a ter controle sobre a área.

Essa discussão, no entanto, parece não interessar a muito gente.

SINAL FECHADO QUE FAZ ESCOLA

Na operação sinal fechado, o MP constatou que a empresa acusada que tentou, através de inúmeras atividades ilícitas, aprovar a inspeção veicular, também patrocinou propaganda em jornais e blogs, incentivando que os jornalistas falassem “espontaneamente” sobre os benefícios da nova tarifa que os norte-riograndenses teriam de pagar.

Não é ilegal. Um jornalista elogia o que/quem ele quiser. Mas não é preciso consultar Aristóteles para saber que também não é ético.

Fizeram escola?

(PSEUDO) JORNALISMO

Por que, nesses casos, os jornalistas não costumam fazer as perguntas mais óbvias?

Daniel Menezes

Cientista Político. Doutor em ciências sociais (UFRN). Professor substituto da UFRN. Diretor do Instituto Seta de Pesquisas de opinião e Eleitoral. Autor do Livro: pesquisa de opinião e eleitoral: teoria e prática. Editor da Revista Carta Potiguar. Twitter: @DanielMenezesCP Email: dmcartapotiguar@gmail.com

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