Rio Grande do Norte, sexta-feira, 19 de abril de 2024

Carta Potiguar - uma alternativa crítica

publicado em 5 de abril de 2012

Circular-UFRN: Quando viramos sardinhas

postado por Gustavo Vilella Whately

Quinta feira passada (29/03/2012) ocorreu uma manifestação estudantil por causa do problema da superlotação do ônibus circular que anda dentro da UFRN. O ato foi organizado por um grupo de estudantes chamado de “Frente de Esquerda Universitária”, que reivindica o aumento da frota dos circulares de acordo com a atual demanda estudantil. O interessante foi ver surgindo alunos, que não participavam inicialmente da frente, trazendo outros problemas que precisam ser debatidos e resolvidos pela reitoria e órgãos que podem resolvê-los. O evento parece ter tido algum sucesso, pois conseguiu um encontro com representantes da reitora, e no dia seguinte anunciou-se que um novo ônibus iria ser cedido para a universidade. A questão é: esse novo ônibus irá suprir a atual demanda?

O problema do circular não é novo na universidade, mas esse ano atingiu sua marca crítica. Com uma frota de 5 ônibus, apesar de só 4 funcionarem, os estudantes e moradores da região que utilizam esse transporte mais pareciam sardinhas enlatadas do que pessoas utilizando um transporte urbano. Em alguns casos, o ônibus chegava ao ponto de não poder parar nos pontos, pois, de tão cheio, os usuários estavam prensados nas portas, e não havia como entrar no ônibus. Para ilustrar, trago um evento que presenciei: segunda-feira, 16h30 (que não é horário de pico) o circular estava tão lotado que não pode parar no nos 3 últimos pontos dentro da universidade (em direção ao Via-Direta).

O problema é pior ainda no período da noite, deixando os estudantes correndo risco em locais pouco iluminados com uma segurança pífia. Andar por ali também não é a melhor opção, devido à distância e a insegurança do local. O problema realmente está muito sério. Isso, ainda, sem contar que os ônibus parecem não ter horários certos, são má qualidade e depredados.

Engraçado notar como, até nisso, a universidade esta sendo um reflexo da sociedade. O problema do circular apenas reflete o problema do transporte público como um todo em Natal. Os ônibus urbanos parecem não cumprir um horário definido, deixando o usuário esperando um longo tempo, que às vezes pode chegar à uma hora de espera (o que se agrava nos finais de semana). Os ônibus são velhos, as cadeiras desconfortáveis e na maioria das vezes com pouco espaço uma para outra, obrigando as pernas a ficarem prensadas. E, ainda por cima, as pessoas viram sardinhas lá dentro. Nos horários de pico, a grande maioria dos ônibus se encontra tão lotado que se torna quase impossível respirar.

Nós, os usuários, deixamos de ser pessoas, cidadãos, e viramos sardinhas enlatadas.

Os estudantes  procuram se mover para mudar essa realidade na universidade. E na cidade?

Gustavo Vilella Whately

Professor. Politólogo. Doutor em Ciências Sociais pela UFRN.

5 Responses

  1. Érika Lula de Medeiros disse:

    Enquanto isso, a copa vem trazendo para Natal as obras de “mobilidade urbana”, tão alardeadas pelos gestores como grandes benefícios para nossa cidade. Lamentável é constatar como essas grandes obras não se propõem a resolver questões de mobilidade em Natal: consistem basicamente na construção e ampliação do trajeto que ligará o aeroporto de São Gonçalo ao Arena das Dunas e à rede de hotéis da via Costeira.

    O REUNI aumentou significativamente a comunidade acadêmica da UFRN, mas a infraestrutura correspondente tem vindo a passos bem lentos… que o digam o circular (já caótico antes do programa, imagine agora) e o RU…

  2. Pedro Andrade disse:

    Infelizmente o número de ônibus circular-UFRN
    não acompanha o crescente número de alunos da universidade e por isso, temos a
    superlotação dos veículos que conduzem os estudantes. Se por um lado, é de
    conhecimento de todos que o poder público não investe na frota de ônibus que
    circulam pelo campus universitário, coisa que deveria fazer. Por outro, é pouco
    incompreensível que uma universidade, local de ampla produção de conhecimento e
    de produção tecnológica, não tenha apresentado soluções inovadoras,
    inteligentes e criativas para resolver o seu próprio problema, como por
    exemplo: carona solidária ou um sistema compartilhado de uso de
    bibicletas.

    Acredito que o assunto exige a
    responsabilização tanto dos órgãos públicos como também da própria universidade,
    que a cada ano que passa aumenta seu número de alunos sem se comprometer a
    oferecê-los o transporte coletivo mais confortável.

  3. Allan Patrick disse:

    E a urbanização do Campus da UFRN é toda feita pensando em carros. Pedestres e ciclistas são cidadãos de 2ª classe.

  4. Paulo Emílio disse:

    Ainda há esperança na comunidade acadêmica. Na minha época de manifestação, os alunos que estavam no Circular nos chamavam de “vagabundos de humanas”. 

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