Rio Grande do Norte, sexta-feira, 19 de abril de 2024

Carta Potiguar - uma alternativa crítica

publicado em 9 de maio de 2012

Falácias dos Movimentos Sociais

Movimentos cujas bases foram inicialmente bem-intencionadas tornaram-se uma péssima maneira de representar as pessoas boas quem dizem representar.

postado por Felix Maranganha

Imagem: ssoosay

Não direi que todas as mulheres e todas as feministas são crias de Satã, isso seria uma falácia. Tampouco direi que o Movimento Evangélico como um todo trouxe apenas dor e sofrimento ao mundo, pois, como todo e qualquer movimento social ou ideológico, os Evangélicos são tomados por pessoas boas e pessoas más. Alguns negros do Movimento Negro Brasileiro são pessoas de bom caráter, e alguns são pessoas de caráter duvidoso, algo que encontramos em todo e qualquer grupo humano. Porém, direi aqui que inúmeros movimentos cujas bases foram inicialmente bem-intencionadas tornaram-se uma péssima maneira de representar as pessoas boas quem dizem representar. Neles existem, como em qualquer outro grupo humano, aquela faixa de 10% de bem-intencionados calados (os bons silenciosos de Martin Luther King Jr.), 10% de mal-intencionados midiáticos e expressivos (os malvados gritadores) e 80% de ingênuos úteis que estão no movimento apenas por estar, pensam pouco a respeito dos fundamentos do mesmo e são por isso mesmo facilmente manipuláveis por qualquer um que esteja com a mídia do movimento nas mãos.

O problema é que os Movimentos Sociais Organizados (MSO) não têm como meta a liberdade de ninguém. O que eles buscam é categorizar uma classe por meio de uma abstração. Por abstração, entende-se que antes da escravidão, a cor da pele era só uma idiossincrasia, assim como antes da Igreja Católica, o conceito de heresia era doutrinário, e não político. A partir do momento em que um grupo torna-se dominante, ou um fato físico torna-se um fato histórico, a idiossincrasia desaparece, e cria-se uma classe social (discordo de Marx aqui, portanto, pois a classe social não é nada mais que uma abstração). Porém, como fazer com que minha idiossincrasia torne-se motivo para que eu justifique atos de crueldade, detratação dos direitos humanos, perseguição e violência? Simples, basta criar uma abstração qualquer em torno dela ou insistir na que está desaparecendo. Hitler fez isso na Alemanha com os judeus. Ser de origem semita ou ariana era apenas uma idiossincrasia, nada que justificasse privilégios ou repressões na letra da lei. Foi assim até que, por um momento, alguém percebeu que os arianos eram mais manipuláveis, insistiu-se na abstração ariana, fundou-se o Partido Nazista, demonizou-se a abstração oposta, semita, confiscaram-se as armas para não haver nenhuma reação, e com isso quase vinte milhões de pessoas foram mortas em campos de concentração nazistas.

Criar duas abstrações para jogar uma contra a outra é a mais velha das estratégias militares, tanto que os Romanos usaram isso nas Guerras Púnicas para derrubar a imagem dos cartagineses, na época uma civilização avançadíssima. A estratégia “de guerra” de um MSO nos dias atuais começa com uma alusão à Declaração Universal dos Direitos Humanos para justificar uma luta que, a princípio, é válida e justificável. No começo são pessoas bem-intencionadas, que querem nada mais que a igualdade e o fim da opressão. Como a DUDH é libertária e preconiza uma preocupação em garantir direitos básicos e algumas garantias universais que sejam aplicáveis a quaisquer seres humanos pelo Estado, então sua luta recebe títulos honrosos como justa, igualitária e libertária. Depois de fundado o grupo, chegam os mal-intencionados (não há exceções, sempre que um Movimento Social surge, não demora muito para os abutres pousarem na carcaça). Algumas pessoas, dotadas de determinadas ideologias, começam a defender bens sociais inócuos e que ferem diretamente bens individuais. Os 80% de ingênuos úteis nesses movimentos são aos poucos doutrinados no sentido a acharem-se especiais, superiores ou diferenciados, e, com isso, começam a considerar todos os que não se encaixam nesse grupo como não-especiais, inferiores ou “uma massa homogênea”. Eles passam a usar o mesmo discurso que atacam contra os que nem de longe lhes são hostis. Começam a lutar por direitos diferenciados, garantias especiais e privilégios para seu grupo de um modo tão velado que até parece uma luta por direitos iguais. De repente, nos vemos atolados de leis que garantem privilégios a determinados grupos, enquanto que os 10% de bem-intencionados se calam diante da Espiral do Silêncio e da patrulha ideológica, e os 10% mal-intencionados tomam a frente desses MSO e os representam na mídia.

No fim, esses mesmos MSO, que começam pautados no discurso de igualdade da DUDH começam a alardear novas diferenciações entre sua abstração e a outra abstração (algo que é negado pela DUDH), transformam todos os que fazem parte da outra abstração em uma terceira abstração, a histórica.

No fim, a DUDH é totalmente detratada em nome de uma suposta liberdade e em um falso discurso de igualdade.

No Mein Kampf, Adolf Hitler justificou de forma lógica e aparentemente coerente todo um discurso de ódio e revanchista. Afirmando que o povo ariano sofreu por séculos nas mãos dos semitas, os nazistas começaram a inserir na mente dos ingênuos úteis a falsa informação de que os semitas tinham uma dívida histórica com os arianos e, por isso mesmo, os arianos deviam lutar por um reparo histórico. Começou com privilégios para os arianos na própria letra da lei. Não demorou, e os arianos estavam quase completamente convencidos de que os semitas mereciam todos morrer, incluindo as crianças e aqueles que nada fizeram contra os arianos, simplesmente porque os semitas, enquanto classe (na cabeça dos arianos) são a causa dos males dos arianos. Criou-se uma diferenciação abstrata entre arianos e semitas, de modo a supervalorizar um e desvalorizar o outro. O Nazismo, que começou fundamentado pela pelo discurso de liberdade, igualdade e fraternidade da Declaração Universal dos Direitos do Homem da Revolução Francesa começou a alardear diferenciações entre arianos e semitas (algo que é negado pela Declaração Francesa). Como resultado, na cabeça dos ingênuos úteis, matar uma criança judia (semita) passou a ser justificável de alguma maneira estranha, e tivemos então a Ditadura Hitlerista, os campos de concentração e o extermínio de 20 milhões de seres humanos (alguns dos quais eram arianos, como eslavos e ciganos).

O Mein Kampf Nazista equivale ao SCUM Manifesto de Valérie Solanas, por exemplo. O mesmo discurso de ódio de Hitler contra os semitas é o de Solanas contra os homens. Da mesma forma que, até os dias atuais, muitos ingênuos úteis ainda acreditam e põem em prática as ideias de Hitler, a maior parte das feministas ainda se pauta nas ideias de Solanas. O Nazismo começou pautado na Declaração Universal dos Direitos do Homem. O Feminismo começou pautando-se na Declaração Universal dos Direitos Humanos. O Nazismo tinha como discurso inicial a igualdade e a liberdade. O Feminismo inicial tinha o mesmo discurso. Mas, o que aconteceu com o Feminismo para tornar-se tão próximo ao Nazismo?

Ocorreu o mesmo que vimos acontecer com todos os movimentos: corrompeu-se. Você acha que, quando T. J.Kincaid disse “heterossexuais não têm motivo nenhum para sentir orgulho” ele estava promovendo a igualdade na diversidade sexual? Claro que não! Se assim o fosse, ele diria “homossexuais e heterossexuais têm motivos de sobra para sentir orgulho juntos“. Acha que o Movimento Negro luta para que a cor da pele deixe de ser critério de ascensão ou repressão social? Óbvio que não! Se assim o fosse, seriam contrários à política de cotas. Ao lado dos movimentos Feminista, Negro e LGBTTT poderíamos colocar outros Movimentos Sociais Organizados, como o Evangélico, o Vegano, o Masculinista, o Carismático, o Ateu (como a ATEA e a LiHS), o Indígena, a Al-Qaeda, o Neonazista, a Ku Klux Klan, o Taliban ou qualquer outro que levante a bandeira de “nossa abstração vale mais“. Todos esquecem uma verdade simples. Para a DUDH, todos são iguais, e se X e Y fazem parte de todos, e X é igual a A, significa que o valor de Y também é A. Qualquer coisa que faça X ser diferente de Y, sendo ambos iguais a A consistirá em uma falácia.

Felix Maranganha

Licenciado em Letras, especialista em Educação a Distância e mestrando em Ciências das Religiões, Felix Maranganha é Linguista, Filólogo, Escritor, Filósofo, Defensor dos Direitos Humanos e Libertarianista. Pratica o Zen-Budismo, é ateu, joga sinuca e poker e adora pimenta. Alguns o confundiriam com um anti-marxista, mas ele não liga muito para essas coisas. É autor do blogue http://ocalangoabstrato.blogspot.com

30 Responses

  1. Ah, não posso deixar de concordar. Sempre tive os meus pés atrás com movimentos sociais que se dizem salvadores da humanidade… tenho visto muita ovelha sendo devorada por lobos disfarçados de ovelha. Acho que eu não preciso dizer mais nada.

    • felixmaranganha disse:

      Henrique, eu mesmo cheguei a participar de alguns, e inclusive defendi alguns no passado. Já defendi o Movimento Negro por ser mestiço e querer a simples igualdade entre todas as raças, e isso foi até me chamarem de “opressor histórico” apenas porque minha pele mestiça é um pouco mais clara que a maioria. Me senti traído, afinal, já apanhei na rua por defender o movimento negro, e é assim que eles me retribuem?

      Já fui inclusive doador da AGBLTTT-PB, até que disseram que eu (mais pra hétero que pra bi) não tinha motivo nenhum para ter orgulho. Perdi amizades e fiquei intrigado de parentes por causa disso, e é assim que eles me pagam?

      Eu apoiava o movimento feminista, até que alteraram a Maria da Penha afirmando que “homens não precisam de proteção”. Eu assinei o abaixo-assinado pela Maria da Penha, na sua redação original, aí vieram as feministas e alteraram a letra da Lei e me tiveram, homem, como agressor por pressuposto e elas, mulheres, como vítimas por pressuposto. É o único caso na lei em que você é culpado antes de provar sua inocência.

      Já fui expulso de grupo de ateus céticos porque eu disse que não concordava em sair combatendo a religião dos outros. Saí do movimento evangélico quando deixei de acreditar em tudo aquilo, mas a perseguição foi maior quando saí que o amor que me deram quando entrei.Enfim, cada movimento desses apenas me ensinou algo básico: “Quem luta por igualdade de verdade não divide as lutas sociais em categorias, luta, na verdade, para que todos sejam reconhecidos como iguais em direito e em oportunidades”.

  2. Arthur Dutra disse:

    Esse é o texto mais LÚCIDO, NECESSÁRIO e CORAJOSO que li nos últimos tempos.

    Parabéns, Félix Maranganha

    • felixmaranganha disse:

      Ando encarando o adjetivo de CORAJOSO com um certo receio ultimamente, kkkkkk.

      • Arthur Dutra disse:

        Não é para menos. Logo a patrulha dos Movimentos Sociais chegará por aqui para testar essa sua coragem kkkkkkkk

        • felixmaranganha disse:

          Rsrs, eles que venham. Ao meu ver, ou se defende o humano em sua totalidade e tirando qualquer característica que seja parte de sua condição do cálculo social, ou nada feito.

  3. Will disse:

    Sem igualdade econômica, todo o resto é uma falácia.

    • felixmaranganha disse:

      Que eu saiba, igualdade é igualdade, é um substantivo, com significado fechado em si mesmo e apontando para uma essência. Não falei em nenhuma forma de adjetivação. Aliás, adjetivar éuma falácia.

      Quando alguém sensato alega que “todos são iguais”, alguns Politicamente Corretos dizem que trata-se de um sonhador que enxerga somente a “igualdade conceitual” e a “igualdade de direito” e esquece da “igualdade material” e da “igualdade de fato”, pois deve-se entender a igualdade como um “processo de equalização”, caso contrário, apesar de “iguais em direito”, nunca haverá sem os devidos reparos históricos uma “real igualdade numérica”, e, segundo alguns, deve-se buscar a “igualdade fisiológica”, a “igualdade fisionômica”, a “igualdade histórica” e a “igualdade psicológica”.

      Claro, pois temos que entender que a “igualdade rosa” é diferente da “igualdade azul”, e a “igualdade com café” só poderá ser alcançada quando todos tiverem “igualdade de chá e leite”. Mas, como alcançar a “igualdade de chá e leite” se não promovemos por meio de ações afirmativas (lê-se “ações que detratam a DUDH, mas ninguém liga pq é de um grupo oprimido historicamente!)  a “igualdade com chocolate”, a “igualdade thundercat”, a “igualdade noturna” e a “igualdade fisiológica”? Só assim poderemos falar finalmente em igualdade. E, mesmo assim, quando esta for alcançada, deve-se promover a “igualdade de bunda” e a “igualdade genital”, afinal, igualdade só serve assim, cheia de adjetivos, né?
       
      Vai um conselho meu? Isso sim é falácia, pois fragmenta um conceito simples, o de igualdade, em centenas ou até milhares de outros tipos de igualdade, transformando cada subconceito em uma luta própria que, quando realizada, consiste justo no oposto do que se propõe em termos de igualdade quando este possui um valor substantivo.
       
      Para ilustrar, imaginem o número 4. Alguns quatros estão em Arial, outros em Arial Narrow, e alguns em Times New Romam. Coloquem um 4 ao lado de outro 4, seja qual for sua tipografia, e ambos permanecerão com seu valor de 4. Todos os 4s são iguais, independentes de sua tipografia. Somarmos um 2 Arial com um 2 Comic Sans, em cálculos paralelos, o resultado será um 4 aqui e um 4 ali, independente de qual seja sua tipografia no final. Se multiplicarmos 2 e 2, o resultado será 4. Se dividirmos 8 por 2, elevarmos 2 à segunda potência, tirar a raíz quadrada de 16 ou qualquer outra conta que seja, o que der 4 no lado de cá dará 4 no lado de lá. Todos os 4s são iguais.
       
      O PC faz diferente. O 4 Arial só é igual ao 4 Script Brush por ser conceitual e por apresentar uma igualdade de direito nos cálculos. Porém, o que ocorre na realidade, segundo os PCs, é que o 4 Arial não possui os mesmos resultados do 4 Script Brush, pois todos os 4s Ariais discriminam os 4s Script Brushes. Assim, sustentam um discurso de que não existe igualdade material entre os 4s.

      Sabem qual o problema? É que não importa quantos 4s de cá e quantos 4s de lá entram nos cálculos mais complexos, o que importa é que são todos 4s. Porém, cria-se um critério para determinar que alguns 4s podem ter privilégios nos cálculos mais complexos, mesmo que, no fim, seja tudo 4.

      É precisamente esse o problema que os Movimentos Sociais Organizados criam: dois pesos e duas medidas para entender a mesma conta.

      • Arthur Dutra disse:

        Fernando Pessoa tem algo a dizer também, caro Félix.

        Ontem o pregador de verdades dele (Alberto Caeiro)

        Ontem o pregador de verdades dele
        Falou outra vez comigo.
        Falou do sofrimento das classes que trabalham
        (Não do das pessoas que sofrem, que é afinal quem sofre).
        Falou da injustiça de uns terem dinheiro,
        E de outros terem fome, que não sei se é fome de comer,
        Ou se é só fome da sobremesa alheia.
        Falou de tudo quanto pudesse fazê-lo zangar-se.

        Que feliz deve ser quem pode pensar na infelicidade dos outros!
        Que estúpido se não sabe que a infelicidade dos outros é deles.
        E não se cura de fora,
        Porque sofrer não é ter falta de tinta
        Ou o caixote não ter aros de ferro!

        Haver injustiça é como haver morte.
        Eu nunca daria um passo para alterar
        Aquilo a que chamam a injustiça do mundo.
        Mil passos que desse para isso
        Eram só mil passos.
        Aceito a injustiça como aceito uma pedra não ser redonda,
        E um sobreiro não ter nascido pinheiro ou carvalho.

        Cortei a laranja em duas, e as duas partes não podiam ficar iguais.
        Para qual fui injusto – eu, que as vou comer a ambas?

        • felixmaranganha disse:

          Fernando Pessoa tinha uma mente ímpar para essas questões. Ele entendeu, por exemplo, no poema Abdicações, que tudo o que gera sofrimento a uma pessoa na sociedade, gera a qualquer outra pessoa na sociedade. O rico sofre por causa da pobreza do pobre, e disso ambos, rico e pobre, precisam tomar consciência.

  4. Allan Patrick disse:

    Levar a sério o SCUM Manifesto é fazer como o Roberto Freire e tuitar sobre a “decisão” da Presidenta Dilma de mudar a frase nas notas do Real para “Lula seja louvado”.

    • felixmaranganha disse:

      Bom, quando o movimento feminista deixar de levar o SCUM Manifesto a sério, eu deixarei de levar a sério.

  5. Lais disse:

     Da mesma forma que, até os dias atuais, muitos ingênuos úteis ainda
    acreditam e põem em prática as ideias de Hitler, a maior parte das
    feministas ainda se pauta nas ideias de Solanas. O Nazismo começou
    pautado na Declaração Universal dos Direitos do Homem. O Feminismo começou pautando-se na Declaração Universal dos Direitos Humanos.
    O Nazismo tinha como discurso inicial a igualdade e a liberdade. O
    Feminismo inicial tinha o mesmo discurso. Mas, o que aconteceu com o
    Feminismo para tornar-se tão próximo ao Nazismo?

    Sério, estuda um pouquinho mais antes de achar que entende.
    Nem precisa estudar muito, lê meia dúzia de artigos feministas e tu vai ver que o movimento atual se desviou bastante do radicalismo de Solanas.
    Muito confortável pegar meia dúzia de exemplos de feministas radicais e tomá-los como “a maioria” pra dar fundamento ao teu texto.
    Lamentável é saber que gente sem informação vai ler e acreditar que é assim mesmo…

    • felixmaranganha disse:

      Então me mostra pelo menos um artigo feminista relevante, amplamente aceito e explícito que diga com todas as letras que Valérie Solanas e o SCUM Manifesto não representam o movimento feminista!

      Mas lembre-se, o artigo tem de ser:
      1) Relevante: tem de ter força de influência dentro do movimento,
      2) Amplamente aceito: qualquer feminista que eu conhecer tem de saber que artigo é esse,
      3) Explícito: não adianta tergiversar, tem de ser claro, direto e objetivo.

      Existe algum?

  6. Alyson Thiago disse:

    Há coisas que somente espaços como a Carta Potiguar podem proporcionar. Nela, temos como política trazer as diferenças de ponto de vista, de abordagens analíticas e de posicionamentos políticos para dentro do site. Para que assim, o tão propalado “contraditório”, as diferenças, não seja apenas um nome, uma abstração a que se recorre para se afirmar plural e ao mesmo tempo faz-se de tudo para mantê-lo a um distância segura. Há muitos pontos que discordo do texto de Felix, abordarei apenas alguns, deixando o resto, e aqueles que não percebi, aos demais leitores e colunistas. Vamos lá!

    Seu empenho de criticar os movimentos sociais é inteiramente válido e pertinente. À ninguém e nada deve-se atribuir o estatuto de intocável. Numa crítica o que deve está em discussão é sempre os pressupostos e argumentos, jamais a própria crítica ou o caráter de seu autor (ataques pessoais, etc..).

    Dito isso, o primeiro ponto que discordo de sua análise consiste no pressuposto por demais personalista e individualista que você mobiliza pra criticar os mov.sociais, qual seja:  o caráter das pessoas, dividindo-as numa tipologia moral de bem-intencionadas, agitadores e ingênuos. O que no final das contas quer dizer apenas quem são os bons ou do bem e quem são os maus, os agentes do mal que pervertem a natureza boa dos propósitos iniciais, dos bens intencionados, manipulando os ingênuos, ignara massa de manobra. Há aqui uma série, digamos, de abstrações, não totalmente no sentido que você a compreende, mas como construções culturais – mais a frente explicitarei esse ponto. Do judaico-cristianismo à Marx, passando por Rousseau, tem-se a ideia de no início das coisas, da ordem, dos homens encontra-se sempre o bom, o bem, a pureza. Somente em seguida, o conhecimento (religião), a propriedade privada (Marx nos manuscritos) ou a sociedade (Rousseau), ou seja, agentes ou acontecimentos exteriores corromperiam a pureza inicial. Daí o fundamento de várias doutrinas, não só religiosas mas políticas: reestabelecer a pureza e bondade primevas como uma reconciliação do homem com Deus, do homem com o Homem ou do homem com a natureza.

    Tal como nessas doutrinas, nessas abstrações, você, também, a meu ver, criou uma narrativa para justificar o que seria a degeneração moral dos movimentos sociais ou afastamento de seus propósitos iniciais. Essas abstrações não são meras fantasias ou formalidades, elas são, para usar o termo de Max Weber, ideias-força, fazem parte de esquemas culturais que se incorporam em nosso psiquismo e esquemas mentais. As abstrações como construções culturais possuem eficácia prática, eficácia simbólica, capazes de tomar corações e mentes e, assim, fazer com que homens e mulheres ajam, pensem e sintam em consonância ou movidos por essas abstrações. Elas são molas da ação, dos sentimentos e do pensamento das pessoas em contextos concretos.  

    Aqui, afivelado nessa primeira crítica, apresento a segunda. Sua compreensão simplista do nazismo ou da manipulação do anti-semitismo pelos nazistas como se fosse obra de um homem só. Ora, você desconsiderou que o anti-semitismo possui uma longa história na Europa (das cruzadas, condenação medieval da usura, expulsões de vários países, os distintivos de ignominia ao caso Dreyfus), e, em particular na Alemanha, cuja intensificação do antisemitismo se deu, sobretudo, durante o século XIX não só com leis discriminatórias mas com discursos políticos e “científicos” no qual o “elemento judeu” foi retomado como um problema nacional da identidade alemã. Sem entender essa longa história e as categorias culturais e representações que, em seu decorrer, se cristalizaram sobre os judeus, formando um estigma e um repertório de preconceitos e pré-noções, tomado pelas pessoas como verdadeiros e naturais, pois ensinados na família, igreja, escolas e universidades e reproduzido em formas de leis e decretos, não é possível entender a emergência do nazismo e sua eficácia em mobilizar as pessoas para seus objetivos e crenças. Soma-se, ainda, a situação alemã de humilhação, derrotada na primeira-guerra, e tendo que, forçadamente, assina uma série de tratados que a colocaram na maior miséria econômica de sua história. A “manipulação” não seria eficaz, o uso de abstrações não tomaria corações e mentes sem esse contexto complexo. É isso que nos mostrou analistas como Hannah Arendt, Adorno e Bauman. 

    No mesmo sentido, reduzir o feminismo, um movimento complexo, com uma larga história e divisões (feministas-liberais, marxistas, existencialistas, pós-feministas, acadêmicas, militantes, etc..) a uma única mulher, é absurdo pelas mesmas razões acima quanto o seu entendimento sobre o nazismo. O objetivo do nazismo não era a emancipação dos arianos, mas a libertação da raça ariana dos elementos raciais nocivos e contagiosos (judeus, negros, ciganos, etc..), tidos como responsáveis pela não realização plena da Alemanha, reduzida aos arianos nórdicos. As mesmas abstrações ou categorias culturais terão sentidos diferentes segundo os contextos concretos e classe de agentes em que são mobilizados e reivindicados. O objetivo dos feminismos é emancipação das mulheres e, também, em certo sentido, dos próprios homens, de tudo aquilo que coloca as primeiras numa posição de subordinação e os segundos numa posição de reprodução naturalizada da subordinação das mulheres. Para verificar a força prática e plausibilidade desses dois objetivos, basta observar a história e procurar quem levou a cabo objetivos de exterminação. Até onde conheço, jamais vi um androcídio e campos de concentração de homens impetrados por feministas.

    Seu erro é tomar a visão de mundo que era hegemônica no movimento nazista, o que que era apenas residual no feminismo, um caso particular de umas poucas, quando muito grupelhos. O fato por si só de tal discurso não encontrar ressonância suficiente no feminismo é mais um argumento em favor do disparate que é a correlação que você tenta estabelecer mais por motivos políticos – criticar ou desqualificar o feminismo e os movimentos sociais – do que comparativos – explicação sociológica, filosófica e histórica.

    Mas por que toda essa digressão se a história não é o aspecto central do seu texto? Porque, nos pressupostos de sua crítica, você alça aspectos voluntaristas e individuais (caráter, manipulação) como categorias explicativas gerais. A história, na maneira como você a vê, parece uma coisa muito bem orquestrada de interesses, conspirações, como se uma parcela dos homens (grupo dominante, burguesia, 10% mal-intencionados, dá no mesmo) tivessem, claramente, a ciência de suas motivações e objetivos. Uma visão tão teleológica quanto a do marxismo vulgar.

    Há outros pontos a se discorrer ainda. Mas já me alongo por demais. O que quis mostrar é como sua crítica é movida por uma série de pressupostos, de abstrações tácitas, que te fazem ver as coisas sob um determinado ângulo, e como as categorias que você mobiliza falham por reduzir os movimentos sociais a dinâmica volátil dos caráteres e da manipulação, desconsiderando os avanços históricos e culturais, as conquistas que só foram possíveis por conta da ação e das “abstrações” que esses movimentos colocaram em marcha. Abraços,

    Alyson Freire

    • felixmaranganha disse:

      Alyson, primeiramente, agradeço a leitura, e pela discordância respeitosa. Segundo, agradeço por não usar nenhuma falácia, seguindo honestamente a Hierarquia de Graham, no qual refutou o ponto central do argumento. Porém, como todo filósofo, hei de olhar seu argumento e encontrar algumas falhas (não encare o termo em seu sentido forte, mas em seu sentido lógico, acadêmico)

      A abstração é necessária quando se examina o problema. É por meio da abstração que isolamos conceitualmente um problema, analisamos em seus vários ângulos, comparamos com outras abstrações e por conseguinte devolemos o problema. Quando Marx analisou, por exemplo, a relação entre trabalho e produção, ele não foi lá trabalhar e produzir, ele abstraiu conceitualmente o trabalho e a produção, analisou o problema. O mesmo se diz acerca de outras análises, como as que você citou, de Rousseau, ou dos que mais gosto, as abstrações sobre a Natureza Humana de Habermas. Logo, abstrair para analisar é perfeitamente normal.

      A abstração que ataquei no texto é a mesma quando aplicada socialmente. Bem se encaixa na noção de ideias-força de Weber, porém, prefiro pender mais para o Axis Ideológico de Eliade. Vejamos bem: que diferença é determinante entre um branco e um negro que torne um mais capaz e o outro incapaz para ocupar determinado cargo? Nenhuma, obviamente. A maior ou menor presença de melanina é apenas uma idiossincrasia, é como a cor dos olhos, a lateralidade ou o formato das unhas. Quando a sociedade começa a dar valores à cor negra, temos então uma abstração. Na concepção de Eliade, surge aí um Axis Ideológico, um Eixo de orientação que norteará as ações sociais, tanto que ele considerou a religião como o Axis Ideológico por excelência, ao deliminar um Axis Mundi espiritual, libertando as ações humanas de todas as formas de distinções físicas. É nesse sentido, portanto, que o termo abstração está sendo usado. Na sociedade, qualquer opinião, ou qualquer falta de clareza na seleção em que os critérios não sejam transparentes, e havendo exclusão dos negros, temos aí uma clara inserção da abstração onde ela não deveria ser critério de seleção. Quando surge um movimento social, há sempre duas escolhas a seguir, e sempre (infelizmente) escolhe-se o pior caminho. O primeiro caminho seria lutar para que essa abstração (cor da pele, no caso do movimento negro) não se torne critério social determinante, não seja motivo de orgulho ou vergonha, e não seja usado como estereótipo social. O segundo caminho seria reafirmar a abstração, usá-la como critério de benefício (daí minha crítica à política de cotas, por exemplo) e ficar reafirmando o orgulho por algo que não foi escolha do sujeito (como o orgulho de ser negro).

      A tipologia moral é necessária aqui. confesso que foi um tanto grosseira, algo que pode ser corrigido posteriormente em uma reedicção do artigo. Primeiro, para definirmos o que seriam as intenções de um grupo. Como diria Gramsci, a proposta de todo grupo social que se organiza e decide lutar por seus direitos nunca é a igualdade, mas a hegemonia. Isso é um fato em toda a humanidade. Qualquer grupo formado por humanos buscará o poder, se manter no poder e criar mecanismos para que permaneça no poder. Esquerdistas, ruralistas, negros, asiáticos, mulheres, evangélicos, ateus, nazistas e todas as “tipologias” aqui apresentadas têm essa característica pelo simples fato de serem grupos humanos. Daí, a tipologia moral que usei aqui, que confesso que foi um tanto grosseira, foi uma forma de criar uma fronteira difusa entre os que buscavam realmente a igualdade plena e os que procuram nada mais que o poder (os abutres dos quais falei). Onde ficaria essa fronteira? Justo no meio termo, na pequena horda de ingênuos úteis.

      Agora, explicando o termo “ingênuos úteis”. Tomei o termo emprestado de Theodor Adorno, mas, claro, com uma adaptação específica ao momento do qual estamos falando. O que para ele seria a Homogeneidade Útil, eu coloquei como os próprios ingênuos. Não dá para falar de fatos humanos sem, com isso, apresentar os próprios humanos. Tomemos como exemplo o Brasil. Há um número considerável de pessoas que interferem e influenciam os fatos políticos, históricos, econômicos e religiosos no Brasil inteiro. São políticos, jornalistas, intelectuais, filósofos, pensadores, líderes religiosos, artistas (os de verdade), ativistas etc. Esses constituem pontos isolados na grande massa humana que são os brasileiros. Porém, o que temos no Brasil? Uma mídia, políticas locais e nacionais e outras estratégias são usadas para manter o foco do cidadão médio em coisas alegres, e para manter seus olhares longe da política. Às vezes não é necessário uma mídia: bastam currículos escolares tendenciosos, educação falha, programas assistencialistas do tipo “cala-a-boca”, e coisas do tipo. Com os movimentos sociais organizados não seria diferente. Apenas ocorreria em nível microcósmico. O movimento anarco-punk do qual participei na adolescência é um exemplo. Sempre havia no movimento aqueles que participavam porque realmente acreditavam nos ideais. Porém, a maioria estava nele apenas por causa sabe-se lá de quê. E havia, claro, aqueles que queriam simplesmente assumir o movimento e liderar a coisa toda. Esses eram os perigosos. Quando havia uma reunião com a AETC-PB pra reclamar do preço da passagem, a minoria que acreditava realmente nos ideais ia negociar, mas os “líderes” sempre incentivavam todos a partir para a quebradeira, a machucar as pessoas. Daí que podemos entender uma verdade bem simples, e que se encaixa perfeitamente na noção dehegemonia de Gramsci: “Quem quer somente liderar consegue corromper até reunião de senhoras tricoteiras”.

      Quanto à degeneração moral, considero a degeneração dos movimentos sociais apenas uma manifestação em microcosmo da degeneração da própria humanidade. Pois é, confesso, sou pessimista assumido.

      Quanto ao Nazismo, sua crítica quanto à forma como o apresentei historicamente é aceita, mas não sem uma ressalva. O fato de termos o Ariano como símbolo da identidade cultural alemã a ponto de eliminar todos os não arianos é mero contingente nesse caso, afinal, não foi por este caminho que minha crítica se direcionou. O Nazismo poderia usar qualquer outro argumento, como “judeus comem berinjelas” (muito usado na inquisição), e o resultado seria praticamente idêntico. No caso, porém, o argumento foi sim o de reparo histórico (afinal, como poderiam firmar uma identidade ariana nacional sem primeiro eleger um inimigo?). Confesso que não li Arendt (ainda), mas vamos lembrar que qualquer pretexto usado por um grupo social para firmar o próprio orgulho e assumir o outro grupo devedor de fatos que a ele não mais pertencem (afinal, o que o tataraneto de um senhor de escravos tem haver com os atos de um tataravô do qual ele não escolheu ser descendente e sobre o qual ele não tem nenhum controle?) consiste sempre em uso indevido da história.

      Quanto ao feminismo, vale o mesmo argumento que usei sobre o Movimento Anarco-Punk. Apenas as feministas sérias sabem que existem tantas subdivisões, e a grande maioria (infelizmente) nem mesmo sabe o que é um Feminismo Existencialista. Certa vez encontrei uma feminista que se dizia fã de Simone de Beauvoir (liberal), exaltavam o SCUM Manifesto e achando que Feminismo, Femismo e Transfeminismo eram a mesma coisa. O problema? Trata-se da maioria. Isso em qualquer grupo humano. Há defensores dos direitos dos ciganos que não sabem a diferença entre um Rom e um Sindi. A maioria dos membros do movimento negro acreditam que o próprio movimento é formado por uma massa homogênea de opiniões. Problema parecido eu via no Anarcopunk: Anarcopunks Ingênuos Úteis acham que o movimento é todo uma única coisa, e esquecem que existe o Anarcopunk Budista, Filosófico, Magonista etc. Cada qual com um formato, uma linha de ação e um embasamento teórico bem específico. Nesse sentido que eu falei do Feminismo, não se tratou de redução, mas de demonstração de que a maioria delas nem mesmo sabe o que estão defendendo. Acham que Feminismo é “defender as mulheres”, e pouco ou nada sabem das feministas como Doris Lessing que são inclusive defensoras do Movimento Masculinista. Enfim, não reduzi o movimento, a massa humana ingênua é que já fez esse trabalho para mim, eu só fiz analisar o objeto em questão.

      Isso então implica que a massa não sabe nem mesmo o que defende. Desde os primeiros representantes a tentarem fundar a Frente Negra Brasileira até o Movimento Negro atual, as prioridades e as reinvindicações não somente mudaram, a grande maioria simplesmente se inverteu. A maça ingênua é sempre quem contribui com esse quadro, facilmente manipuláveis pelos discursos dos que buscam hegemonia, acabando por não mais ouvirem os sensatos que queria tão somente igualdade de oportunidades. Por isso, não desqualifiquei nenhum movimento social, apenas defendi o fato de que um Movimento Social Organizado é, per si, um ato danoso para a sociedade, uma vez que se corrompe fácil e acaba não resolvendo os problemas que originalmente se propunha a resolver.

      Vamos lá, eu sou ambidestro. Suponhamos que uma igreja qualquer tome o país. Daí eu fundo o Movimento Ambidestro. Qual sua proposta inicial? Buscar “direitos iguais e inalienáveis a todos os membros da sociedade independente de sua lateralidade”. Não demora, e é aí que se concentra minha crítica, e alguém começa a promover um discurso de ódio e revanche, pedindo reparo histórico pela perseguição aos canhotos e ambidestros, exigindo da indústria que produzam apenas produtos para canhotos. Se eu, que fundei o movimento, me puser contra, uma vez que isso feriria a proposta inicial de “direitos iguais e inalienáveis a todos os membros da sociedade independente de sua lateralidade”, pois consistiria em um prejuízo aos destros e, com isso, teríamos a persistência no critério “lateralidade” para definir benefícios e prejuízos sociais.

      A questão é: o aspecto histórico É o aspecto central do texto, e não em demonstrar a igualdade nas motivações desses movimentos, mas a igualdade em estrutura lógica de suas ações. A estrutura lógica de um movimento social é sempre a mesma. Insiste-se na abstração social para garantir os privilégios decorrentes de um discurso reparacionista.

      Daí, o grande problema dos Movimentos Sociais Organizados é que eles são categoriais, se concentram apenas em parte dessa sociedade, em vez de focar a sociedade de um modo holístico.

  7. Lola disse:

    Nossa, que horror esse
    texto. Tem que saber absolutamente nada de feminismo pra comparar um
    movimento de luta por direitos com nazismo e ainda escrever, na lata,
    “a maior parte das feministas ainda se pauta nas ideias de
    Solanas”. Eu tenho um dos blogs feministas mais visitados no
    Brasil. Faço parte do Blogueiras Feministas, um grupo com mais de
    600 pessoas. E, por incrível que pareça, não conheço nenhuma
    feminista que odeie homens ou que queira eliminá-los. A gente não
    fala de Valerie Solanas porque ela morreu faz um tempão e nunca teve
    influência alguma pro feminismo. Solanas só tem importância pros
    anti-feministas. Parece ser a única feminista que vcs conhecem.
    http://escrevalolaescreva.blogspot.com.br/2011/08/pra-quem-nao-gosta-todo-feminismo-e.html

    Foi meu amigo Allan
    Patrick, frequentador antigo do meu blog, que me avisou que um
    veículo de esquerda do RN estaria comparando feminismo com
    nazismo… como fazem os reaças. Jura que vc quer estar na companhia
    deles?

    • David Rêgo disse:

      Tb vi que a experiência empírica deles sobre movimentos sociais é bem distinta da minha. Mesmo sem dialogar diretamente, fiz um texto falando dos travestis que caiu como uma luva como forma de resposta ao texto aqui publicado (https://www.cartapotiguar.com.br/2012/05/08/travestis-e-vitoria-na-luta-pelo-reconhecimento/). Avise para suas amigas que os próprios membros da Carta Potiguar possuem um debate, respondendo textos de formas sutis, sinceras e adultas, ou seja, com diversidade de opinião sobre um tema, cada qual tendo liberdade para explorar a experiência que teve. Nunca conheci o que eles falam e convivo com feministas o dia todo há tempos. Cada um fala, afinal, de suas experiências pessoais..

    • felixmaranganha disse:

      Lola, ao citar o feminismo, eu apontei falhas gerais que podem ser encontradas em quaisquer movimentos sociais. O problema é que se alguém pertence a um movimento que publicamente é conhecido por apresentar uma figura como Valérie Solanas, é pelo menos responsabilidade do próprio movimento afirmar, em alto e bom tom, seu repúdio pelas ações e pelas ideias dela. Não é o que eu vejo. É uma crítica válida? É sim! Pelo menos por parte dos Evangélicos, por exemplo, os membros mais expressivos de algumas vertentes bradam em alto e bom som, para todos ouvirem, que Silas Malafaia não os representa (como é o caso do Ricardo Gondim e do Caio Fábio). Os alemães hoje, por exemplo, dizem que Adolf Hitler não os representa, e recentemente, Edmund Hitler, irmão ainda vivo do nosso adolfinho, afirmou em alto e bom tom em entrevista a um jornal que Adolf não representa a família Hitler. Atitudes como essas é que eu sinto faltar no próprio Movimento Feminista.

      Sobre o legado de Valérie Solanas, sugiro a leitura deste texto:
      http://arthur.bio.br/2011/08/28/sexismo/o-legado-de-valerie-solanas Quanto à insinuação de que eu seria um direitista falando em um veículo de esquerda, digo apenas o seguinte: não sou direitista, nem sou extremo-esquerdista. Sou Coletivista Libertário, algo bem diferente de ambos os lados clássicos aqui envolvidos.

  8. Lucasmsn10 disse:

    Concordo com o autor. Felizmente, ainda não encontrei esses movimentos sociais radicalistas. Espero não me deparar com algum desses na universidade. 

  9. Nelsonmuntz disse:

    Olavo de Carvalho explica militancia esquerdista gay

    • Nelsonmuntz disse:

      Félix, veja esse video, ele fala tudo que vc disse no texto e da mais um detalhe como é feito.

      • felixmaranganha disse:

        Nelson! Você por aqui!

        Agradeço pelo vídeo, mas você sabe muito bem que eu e Olavo de Carvalho não somos nem de longe parecidos. Primeiro, ele defende detratações dos direitos humanos e o direito à discriminação como “bens inalienáveis do sujeito”, algo para o que torço o nariz veementemente.

  10. Victorzito disse:

    Cara, que texto ótimo. Pôs em palavras muito do que eu penso.

    • felixmaranganha disse:

      Valeu, Victor, tem muito do que penso nele também. rsrsrs

      Como pode ver na última marcha das vadias, a realidade apenas confirma minhas colocações.

  11. Yanderson Silva disse:

    e 80% de ingênuos úteis que estão no movimento apenas por estar, pensam
    pouco a respeito dos fundamentos do mesmo e são por isso mesmo
    facilmente manipuláveis por qualquer um que esteja com a mídia do
    movimento nas mãos.
    Eses seriam os “cretinos fundamentais”. [grande Nelson Rodrigues] =D

  12. juliana disse:

    Concordo com seu texto.Não de modo absoluto, pois, não faz sentido dizer que 80% dos sujeitos de um movimento qualquer seja manipulável.Estes sujeitos fizeram uma escolha racional, mesmo que dada por motivos que para nós sejam incompreensíveis. De todo modo, concordo que o instrumento político dos movimentos sociais seja de fato a abstração de uma diferenciação que, a rigor, não existe. Não há desejo de igualdade, mas desejo de diferença e reconhecimento da diferença para que apenas alguns – do novo grupo criado – receba privilégios.
    Minha crítica dirige-se, sobretudo, ao movimento negro. Não pelo desejo de ser tratado civilmente como um igual aos demais membros da sociedade. Mas pela ideia abstrata de uma relação de descendência com a África. Uma África de reis e rainhas que nem mesmo por lá existem mais.
    Há uma substancial distinção entre considerar que códigos de cultura de povos africanos contribuíram para a formação social brasileira e que seus elementos de cultura compõe nossa sociedade. Outra coisa muitissímo diferente é estabelecer uma relação mecânica entre estes códigos de cultura e os homens negros do Brasil. Estes códigos, foram compartilhados, por razões históricas por todos os membros das classes subalternas. Incluindo aí os portugueses pobres, tanto que o fado orgina-se do jongo. Tornando-se outra forma de expressão cultural. Se o fado tem jongo, obviamente o jongo tem fado.
    Refiro-me especialmente ao movimento negro porque é qualquer coisa que me angustia singularmente, posto que, sou negra!
    O fato é que, através de processos certamente violentos, a língua que falamos é a portuguesa e somos brasileiros. E de meu lado, jamais poderia dizer que sofri mais do que qualquer branco pobre os efeitos nocivos que a escravidão legou ao Brasil. Tive uma vida de classe média muito confortável!
    Mas não estamos aqui para me analisar.
    Enfim, tenho enorme ressentimento do movimento negro por tentar me impor uma identidade que não é a minha. A minha relação com a África – de respeito e admiração – liga-se não à rainhas e reis abstratos. Mas ao povo resistente que lá vive e superou as agruras do colonialismo – movimento de dominação europeu que em tudo foi ajudado pelos reis e rainhas que julgam alguns terem alguma relação comigo por serem eles e eu negros. Mas eles não tem!
    Um povo, um grupo social se forma por identificação cultural, por convivencia contínua e por associação de interesses. Qual interesse teria eu com Zumbi dos Palmares – que era escravocrata -? Absolutamente nenhum…
    Fico por aqui, pois, vivo do meu trabalho e não da política.

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