Rio Grande do Norte, quinta-feira, 28 de março de 2024

Carta Potiguar - uma alternativa crítica

publicado em 19 de maio de 2012

Marcha da Maconha: uma outra Política de Drogas é possível

postado por Alyson Freire

Neste domingo, dia 20/05, ocorrerá em Natal, a 3ª edição da Marcha da Maconha, organizada pelo Coletivo Antiproibicionista Cannabis Ativa. A concentração inicia às 10h na Ponta do Morcego, praia do Meio, na Zona Leste da capital potiguar, com caminhada até a área de lazer de Brasília Teimosa.

Além das passeatas, o Coletivo vem promovendo ciclos de palestra e debates à propósito da descriminalização da maconha no Brasil e sobre substâncias psicotrópicas em geral. Intervenções que ajudam a jogar um pouco mais de luz e racionalidade nesta seara tomada pelo pensamento único de que o impedimento e a repressão policial às drogas são as únicas alternativas sensatas e legítimas.

Pra onde se olhe, a manutenção da criminalização e da repressão policial não resolveu os problemas que realmente importam resolver em relação às ditas drogas: a formação e a guerra entre gangues de traficantes pelo controle de territórios, o poder econômico, militar e político de  quadrilhas organizadas e cartéis mafiosos, o mercado de drogas como fonte de financiamento de armas, da corrupção policial e de recrutamento juvenil para o crime, entre outros mais. Nem mesmo foi capaz de solucionar o mais básico dos problemas a que o Estado e seus aparelhos se propõem a resolver, isto é, estancar o comércio ilegal de drogas. A ineficácia da política de criminalização-repressão agrava-se ainda mais quando analisada do ponto de vista de seu custo aos cofres do Estado e em termos das vidas ceifadas ou abortados que a guerra ao tráfico, direta e indiretamente,  ocasionou.

A realização da Marcha, garantida, recentemente, em seu direito de manifestar pelo STF, implica algo mais do que praticar a liberdade de expressão ou reivindicar a legalização da venda e consumo de uma substância psicoativa. Ela é um indício consistente de que parte significativa da sociedade há entendido, finalmente, que é o momento de buscar, ou pelo menos discutir, outras soluções e alternativas em relação à política de drogas, reformulando nossas atitudes e ideias a respeito do acesso e uso dessas substâncias. E nisso, ao contrário do que gostariam de sugerir os mais conservadores, não se trata de ser “a favor das drogas”, mas sim de ser “a favor” de outra forma de lidar com elas – política de redução de danos, descriminalização, autocultivo, regulamentação da produção, distribuição e comercialização das substâncias psicoativas, entre outras.

Conforme tem insistido, reiteradamente, estudiosos do tema, manter a questão do acesso às drogas presa a um contexto de proibição e criminalização pouco ajuda a atenuar todas as consequências sociais, políticas e pessoais implicadas no comércio e no uso dessas substâncias. É o momento de passarmos efetivamente para um outro contexto, no qual as substâncias psicoativas, algumas delas pelo menos, sejam abordadas como temas de saúde, educação e de opções de relaxamento e fruição individuais ou coletivas legítimas. As Marchas, que ocorrem em todo país, são fecundas oportunidades de dar a devida visibilidade aos argumentos antiproibicionistas e aos “movimentos canábicos” para aqueles setores que insistem em ignorá-los ou deturpá-los.

Alyson Freire

Sociólogo e Professor de Sociologia do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia (IFRN).

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