Rio Grande do Norte, quinta-feira, 28 de março de 2024

Carta Potiguar - uma alternativa crítica

publicado em 1 de junho de 2012

A BRASILIZAÇÃO DO OCIDENTE

postado por Carta Potiguar

Por Ulrich Beck, sociólogo, professor emérito da Universidade de Munique e professor da London School of Economics – Referência da esquerda alemã e europeia- El Pais, 27

 

Traduzido pelo ex-blog do Cesar Maia

 

1. A consequência involuntária da utopia neoliberal é uma brasilização do Ocidente: são notáveis as semelhanças entre como está se configurando o trabalho remunerado no chamado Primeiro Mundo e como é o do Terceiro Mundo. A temporalidade e a fragilidade do trabalho, a descontinuidade e a informalidade estão alcançando as sociedades ocidentais, até agora baluartes do pleno emprego e do Estado de Bem Estar.

2. Assim, no núcleo duro do ocidente, a estrutura social está começando a se parecer com uma espécie de colcha de retalhos que define a estrutura do sul, de modo que o trabalho e a existência das pessoas se caracteriza agora pela diversidade e insegurança.

3. Em um país semi-industrializado como o Brasil, aqueles que dependem do salário de um trabalho em tempo integral representam apenas uma pequena parte da força de trabalho; a maioria ganha a vida em condições precárias. São representantes comerciais, vendedores ou artesãos, e oferecem todo tipo de serviços pessoais ou alternam entre diferentes tipos de atividades, empregos ou cursos de formação.

4. Na Europa, na década de 1960, apenas 10% dos trabalhadores pertenciam a esse grupo. Na década de 1980 esse número ficava em torno de um quarto, e agora é cerca de um terço do total. Se as mudanças continuarem nesse ritmo – e existem muitas razões para acreditar que será assim – em outros dez anos apenas a metade dos trabalhadores terá empregos em tempo integral, enquanto a outra metade será, por assim dizer, empregos à brasileira.

5. Assim, a política econômica da insegurança está diante de um efeito dominó. Fatores que nos bons tempos iriam se complementar e se reforçar mutuamente – o pleno emprego, as pensões garantidas, as elevadas receitas fiscais, a liberdade para decidir a políticas públicas – agora enfrentam uma série de perigos em cadeia. O trabalho remunerado está se tornando precário, os fundamentos do Estado de bem-estar estão se desfazendo, as histórias atuais de vida desmoronam, a pobreza dos idosos é algo programado com antecedência, e, com os cofres vazios, as autoridades locais não podem assumir a demanda crescente de proteção social.

6. Enquanto o capitalismo global dissolve nos países ocidentais os valores essenciais da sociedade do trabalho, rompe-se um vínculo histórico entre o capitalismo, o Estado de bem estar e a democracia. Não se engane: um capitalismo que não busque mais do que o benefício, sem levar em conta os trabalhadores, o Estado de bem-estar e a democracia, é um capitalismo que renuncia a sua própria legitimidade.

Carta Potiguar

Conselho Editorial

6 Responses

  1. Gustavo Vilella Whately disse:

    Capitalismo busca exclusivamente o lucro e a expansão do capital, não se importa com o trabalhador, o estado de Bem estar social e, muito menos, a democracia. Alias, o pensamento liberal sempre temeu e abominou a democracia.

  2. Tiago Cantalice disse:

    Que escroto! Achei o tom das comparações com a sociedade brasileira bastante discriminatórias. Sabe que a situação no Brasil é bem distinta da europeia no atual momento?

  3. Daniel Menezes disse:

    Achei também a ideia de brasilização bem etnocêntrica e substancializadora. 

  4. Lucasmsn10 disse:

    O sistema europeu está em crise, não acho que haverá uma brasilização do Ocidente, visto que  o nosso modelo também é fracassado. Os governos europeus vão ter que remunerar melhor os jovens e tirar a regalia dos idosos.. Alguns países menores e menos influentes vão perder soberania política (aliás, já estão).

  5. Ddddd disse:

    Falar em “brasilização do ocidente” é absurdo, o Brasil é que num tem rumo definido, está a deriva, adotou modelo europeu de política financeira, tapa sol com a peneira, deveria ter visto o sistema sul-coreano, educação é a saída. Um novo sistema monetário é necessário,  a reforma política deve consistir em uma nova vertente que defina partidos sérios, aplicando-lhes um duro sistema de sanções em caso de um membro vim a ser punido por improbidade administrativa, dentre outras, reforma tributária, distribuir renda, tirar dos ricos, não dá aos pobres, e sim, investir em projetos necessário, não em copa do mundo ou olimpíadas, prédios bonitinhos, estradas com destino ao nada. Quanto a reforma política, a maioria só entende a existência de república ligada a necessidade de partidos políticos, já pensaram no resumidíssimo caso norte-americano? Dois partidos, não digo que isso seja adotado aqui, pois existem falhas, mas, sim, na aniquilação de partidos, os atuais são piores que o Cabaré (ou “uisqueria”, como queiram) da Maria (no bairro do alecrim), uma zona, as eleições seriam definidas em chapas, com obrigatoriedade de 70% da chapa ser constituída por equipe de formação técnica.  

  6. antonine disse:

    babaca

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