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Carta Potiguar - uma alternativa crítica

publicado em 7 de junho de 2012

Marcha da maconha, das Vadias e Bicicletadas: o que possuem em comum?

postado por Carta Potiguar

Por Tiago Cantalice

É inegável que os movimentos sociais estão passando por um período de profundas transformações não vistas desde o nascimento do chamado Novos Movimentos Sociais da década de 1970, que livraram-se do sindicalismo e da égide da questão de classe e trouxeram para o cenário político sujeitos antes invizibilizados, como as mulheres, os negros, os homossexuais, a periferia urbana, os ecologistas, entre outros, dispostos a discutir outras condições de desigualdade, diferenças que também fazem a Diferença.

De lá para cá, vimos esta militância política ser, em boa parte, engolida pelo partidarismo e pelas Organizações Não-Governamentais, alvo hoje de descrédito por muitos devido à ausência ideológica, ao caráter puramente assistencialista e ao oportunismo de várias delas, ávidas pelos financiamentos públicos. Quanto à política partidária, a falta de legitimidade é crescente há muito tempo, basta ver os índices de abstenção dos eleitores (entre justificações, votos nulos e brancos, ou simples não comparecimento às urnas) e o aumento do voto “cacareco” ou de “protesto” (como os dados a candidatos sem propostas sérias como Miguel Mossoró e Tiririca).

Contudo, nos últimos anos vemos uma nova mobilização da sociedade civil em torno de questões antes desconsideradas e ainda hoje vistas pelos mais conservadores e conformistas como desimportantes.

“Com tanto a se reivindicar, essas pessoas ficam lutando pelo direito de ficar doidão!” – Frases como essas são muito frequentes nos dias de hoje. Mas, ao contrário do que se pense, essas novas demandas sociais não inviabilizam as anteriores e mais tradicionais. Aliás, desde o advento das redes e mídias sociais nunca se viu tanta movimentação da sociedade civil. A reforma agrária e a legalização do cultivo, comercialização e uso da maconha precisam aprender a conviver e a ocupar simultaneamente o espaço público.

Os carolas da esquerda e os reacionários da direita afirmam que marchas como a das Vadias são um desvirtuamento dos reais interesses e prioridades coletivas. Repito: uma coisa não impede a outra, ademais há espaço para todos nas ruas, avenidas e demais arenas públicas. Sem falar que está mais do que comprovado que não adianta focar ou priorizar um eixo de poder para acabar com as desigualdades, a frente de batalha e disputa política tem que ser plural. É exatamente isso que os atuais movimentos vêm fazendo.

Vale apontar algumas características entre eles:

É importante tomar em conta no contexto da popularização desses movimentos, o crescimento da classe média no Brasil. Atendidas necessidades prementes, as demandas sociais se voltam para questões localizadas em outros patamares. A exigência pela ampliação da abrangência das garantias fundamentais e direitos individuais força o Estado a perceber a relevância dessas demandas e legitimar o direito das pessoas a reivindica-las, a exemplo da decisão do STF em meados do ano passado quanto à constitucionalidade da Marcha da Maconha, com base no direito à liberdade de expressão.

Não há como negar, portanto, que a Marcha da Maconha, das Vadias e as bicicletadas são movimentos da classe média, o que não quer dizer que sejam herméticos.

Outro ponto, já comentado, é o uso das redes sociais para divulgar, articular e mobilizar esses movimentos.

Um último que cabe destacar, nessa rápida e despretensiosa análise, é a crítica irônica, o sarcasmo e o bom humor que permeiam todos eles, o que tira dos movimentos sociais aquele ar pesado, carrancudo, chato e sem carisma. Talvez seja isso que os fazem movimentos tão populares, a notar pela Marcha das Vadias, que traz frescor ao limitado movimento feminista. Tal marcha consegue se embrenhar em setores sociais que nunca se interessaram pelas palavras de ordem do antigo feminismo e se abre à participação de homens, coisa que as feministas fundamentalistas consideram uma heresia, posto que, assim como a repórter da Band-Bahia, Mirella Cunha, prejulgam os homens como agressores.

Na luta contra o tráfico e pelo direito do uso de psicotrópicos, pela quebra do duplo padrão moral e pelo direito de não ser julgada pela roupa que usa, e na luta contra a ditadura do automóvel e pelo direito dos ciclistas de usar as vias públicas, quem ganha é a democracia. Na multiplicação de vozes, reforça-se o regime democrático.

O convívio harmonioso com a diversidade é uma urgência.

A luta contra conservantes prejudiciais à saúde (como a amônia posta na maconha) e o narcotráfico, contra atos banais ou extremos de misoginia, e contra a guerra no trânsito são também práticas do cuidado de si.

Carta Potiguar

Conselho Editorial

4 Responses

  1. @BicikloAkt disse:

    Não existe classe, nosso movimento é de todos. Nas ruas unidos somos mais fortes. 

  2. Marcos Lemos disse:

    “Nao paga gasolina!
    Nao paga IPVA!
    Pega e bicicleta
    e venha pedalar!”

  3. Muito bem lembrado, meu caro amigo!!

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