Rio Grande do Norte, sexta-feira, 19 de abril de 2024

Carta Potiguar - uma alternativa crítica

publicado em 18 de junho de 2012

Greve da UFRN: a hora não é para “mimimi”, NÃO ganhou no voto

postado por Daniel Menezes

Enfrentei três greves durante a minha graduação. Era o tempo da gestão FHC e a UFRN juntava moedas para conseguir pagar sua conta de energia. Os departamentos estavam lotados de professores substitutos, contratados temporários. A estrutura universitária definhava, contexto que os críticos da administração Lula preferem esquecer.

As greves eram votadas e aprovadas em assembléia. Nas primeiras, os discentes apoiaram, inclusive, com manifestações. Porém, na medida em que as greves foram se multiplicando, muitos alunos – eu era um deles – começaram a questionar a validade da estratégia.

Foi então que me interessei em saber como se dava o processo de votação das paralisações. Na terceira greve que passei, fiz questão de comparecer e assistir a discussão sobre o assunto no auditório da reitoria/UFRN. O que vi foi uma reunião de um punhado de professores. Os rumos de milhares de docentes eram decididos por cerca de 40 professores.

A metodologia, pouco representativa e legitimadora do processo, começou a ser questionada por alunos e profissionais da educação e, na última greve, muitos docentes e discentes não engrossavam mais as fileiras do movimento.

Depois de um tempo e vendo a perda de aceitação das deflagrações se esvaindo, uma nova metodologia foi consentida e posta no estatuto do sindicato dos professores da UFRN, ADURN. Ao invés da aprovação em assembléia, as greves seriam votadas por plebiscito, ou seja, uma questão é posta em votação e todos os professores, sindicalizados, terão direito a sufragar seu ponto de vista nas cabines espalhadas pelos vários campi do RN.

O meio se configurou como o mais acertado. O último plebiscito, que ocorreu dia 12/06, se mostrou bem mais democrático. Ao invés dos 40 votos das antigas assembléias esvaziadas e, às vezes, meticulosamente montadas para fazer passar os interesses da cúpula sindical, o plebiscito levou mais de 900 (de cerca de 2200) professores as urnas.

Ganhou o NÃO a paralisação. Ganhou um projeto que diz respeito sobre como continuar dialogando com o governo federal. Quem perdeu, deve acatar o ponto de vista vencedor sem se “amufinar”. A oposição é o caminho.

Democracia é assim mesmo. Nossas escolhas nem sempre levam a melhor e é preciso aceitar o resultado que vem da maioria. Democracia tem de ser valorizada e preservada quando se ganha, mas sobretudo quando se perde. E isso vale para o grupo opositor a ADURN. A hora não é para mimimi.

DISCENTES

Não foram legais as declarações de membros da ADURN, tentando secundarizar/invalidar o papel dos alunos. Até porque, quando o sindicato precisa, não faz cerimônia para pedir o apoio dos discentes em seus protestos e discussões.

O DCE-UFRN perdeu boa oportunidade de lembrar aos dirigentes da ADURN um passado não muito distante em que o sindicato conclamava os “alunos para a luta”.

Daniel Menezes

Cientista Político. Doutor em ciências sociais (UFRN). Professor substituto da UFRN. Diretor do Instituto Seta de Pesquisas de opinião e Eleitoral. Autor do Livro: pesquisa de opinião e eleitoral: teoria e prática. Editor da Revista Carta Potiguar. Twitter: @DanielMenezesCP Email: dmcartapotiguar@gmail.com

7 Responses

  1. Amane disse:

    Se o plebiscito tivesse ganhado, aa grevetes estariam celebrando dizendo que “a democracia venceu”.

  2. Lucas disse:

    Falou tdo Daniel, mas tenho só mais uma contestação a fazer, mto se fala em voto opcional pois bem se num universo de eleitores esclarecidos como e o caso das eleições da adurn, dce, existe essa abstenção tda, oq leva a essas contestações imagina numa eleição geral pra presidente com voto facultativo, sinceramente já fui mais a favor do voto facultativo, hj vejo q o brasileiro em geral nao esta preparado pra ter esse direito

  3. Marília disse:

    Realmente o plebiscito tem uma abrangência bem mais democrática, no entanto, não podemos esquecer a problemática que envolve o PROIFES (sindicato do governo), sinceramente, tenho minhas dúvidas se a intenção desse plebiscito é mesmo visando um processo democrático. Além disso, a discussão sobre a greve é necessária, se as assembleias se configuram como uma “torre de babel” devemos, nós professores, trabalhar a nossa politização e nossa capacidade de diálogo. Enfim, só lamento que este site, que gosto bastante, se mostre tão partidarista. É uma discussão longa essa…

    P.S.: esclareço que não sou professora da UFRN e já fui petista, digo fui, pq estou realmente decepcionada com as atitudes e rumos do governo. Se há possibilidade de greve é culpa do governo e não do servidor.

  4. Daniel Menezes disse:

    Marília, não há partidarismo…
    Tanto é que o site publicou todos os textos pró-greve, que vimos circulando pela net.
    Acredito que as assembleias devem continuar, inclusive, para discutir a conjuntura.
    Mas o fato concreto é que o Não a greve ganhou no voto e não há como fugir disso.

    • Marília disse:

      Daniel, eu não questionei a validade do voto. Questiono e sinto falta de uma discussão mais ampla sobre a formação da estrutura do PROIFES, do sindicalismo oficial que vai de encontro a autonomia sindical que tanto se discutiu nos anos 80, essa é uma realidade que nos atinge e também não podemos fugir dela. Infelizmente.

  5. Daniel Menezes disse:

    Marília,

    concordo que falta discussão. Adurn não informa nem debate como deveria. Se há mais de 50 universidades em greve, uma discussão mais constante poderia ser fundamentada. Só repdroduzir os informes do PROIFES não basta.
    Falei a respeito disso em post anterior…

  6. César disse:

     O que eu fico pasmo aqui é ver os argumentos comparativos.

    Se os brasileiros tivessem morando em barracos, o argumento seria: “mas na era do PSDB não tinham nem barracos”.

    Se o salário fosse R$100,00 por 12 horas diárias de trabalho, o argumento seria : “mas no PSDB eram 16 horas diárias por 50 reais”.

    Ou então, argumentam quase assim:

    No Brasil a educação é um fracasso. Daí os “petistas” vêm e dizem: mas pelo menos estamos melhor que Zimbábue, Somália e Serra Leao”.

    No Brasil, temos uma legislação trabalhista atrasada e anti-dignidade. Daí os “pró-governo” dizem: “pois vai morar na China, lá é bem pior”.

    Pelo amor de Deus!!! Será que a todo momento vamos ficar nos comparando ao governo a governos fracassados? Vamos ter que toda hora nos compararmos FHC, Collor, Itamar, Médici, etc.????

    Há outras categorias federais que a todo momento recebem seus devidos aumentos: procuradores, auditores, promotores, juízes, delegados, analistas, etc.

    Por que só com a droga dos professores tem que haver esse desrespeito?

    Devemos tolerar isso somente porque o governo de agora é melhor do que o anterior????

    É isso que se está querendo dizer com essa historinha da “época de FHC, mimimi”???

    Pelo amor de Deus, colegas! Eu voto no Lula e continuarei votando na Dilma porque não quero que haja qualquer possibilidade de vir ao poder o DEM ou PSDB novamente, mas talvez a decisão de não haver greve não tenha sido tão bem acertada assim.

    Quer dizer que mais de 40 universidades federais estão à toa?

    Os argumentos que sustenta o posicionamento contrário à greve, sinceramente, são muito fracos mesmo.

    Confesso que eu eu esperava uma argumentação melhor vindo da Carta Potiguar.

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