Rio Grande do Norte, sábado, 20 de abril de 2024

Carta Potiguar - uma alternativa crítica

publicado em 3 de julho de 2012

Violência contra a mulher deve ser caso de Polícia?

postado por Vanda Regina

“Só um tapinha não dói, um tapiiinha… Canta o estridente funk”. Mas imagine você, mulher, passa das 22 horas, você saiu mais tarde do trabalho e caminha sozinha em direção à estação de metrô que sempre usas. Ao entrar, a estação está vazia, vem um grupo de três rapazes caminhando, que ao cruzar com você, um deles resolve fazer a “gracinha” de bater com força em seu bumbum, você, com toda reação que pode ter, já que está sozinha e, óbvio, é mais fraca fisicamente que três homens juntos, sai os chingando alto…

Antes de chegar à catraca, que liga às escadas para plataforma de embarque, há um funcionário perguntando o que houve, você imediatamente responde: – fui agredida por aquele rapaz! E ele diz: – me acompanhe até à plataforma. Na plataforma da frente era possvível ver os três rapazes com um outro funcionário, que os impediu de embarcar no trem que vinha. E ele pede que identifique o agressor.

Para tranquilizá-la, o funcionário te leva para o escritório da estação e informa: – A polícia está a caminho, não se preocupe. O fato é que dentro de minutos, duas viaturas chegam ao local. Você é atendida por 3 policiais homens. A primeira coisa que o comandante da operação fala é: Desculpa por não termos uma policial mulher para atendê-la. Mas não há nenhuma no plantão de hoje.

Bom, em uma viatura, segue o acusado de agressão e em outra a vítima. Todos partem em direção à delegacia. O escrivão e o delagado te recebem informando que o acusado passará a noite presso e, mais uma vez, se desculpam por não haver uma policial no platão, explicam que geralmente não funciona assim, a regra é que ela seja atendida por uma mulher. A primeira coisa quevocê fala é: Olha, não queria dar esse trabalho, não fui eu que chamei a Polícia, foi o serviço do metrô. (É bom lembrar, que sentimentos de culpa e vergonha pela agressão sofrida são típicos em mulheres de vítimas de agressão).

O delegado responde: – Isso não vem ao caso. Imagina se você passou por abuso na infância, ou foi violentada semana passada. O que aconteceu agora tem peso diferente para cada pessoa e minha obrigação é apurar. Não sei quem é você, nem o que isso pode acarretar na sua vida. Tenho de tratar todos igualmente. E aí inicia-se o interrogatório do que aconteceu. Passado a apuração, a delegado encaminha uma viatura para deixá-la em casa.

Uma mês depois, chega uma correspondência na casa sua casa ( a vítima), comunicando local e hora do julgamento do acusado. Você acha mais prudente não ir. É… a essa altura, cara leitora, você deve tá pensando: Nossa, mas como essa equipe de policiais e a Justiça agem bem e rápido, só sendo em crônica feminista! E eu te digo: Em Londres, foi verdade e aconteceu com uma amiga. Sim, só um tapinha dói e, em países onde a violência contra mulher é levado à sério, só um tapinha, dói e pode dar cadeia!

Vanda Regina

Vanda Regina Albuquerque é jornalista , socióloga, ativista da AMB e sócia do Coletivo Leila Diniz/Natal-RN, atualmente trabalha na União e Inclusão em Redes e Rádio (UNIRR/SP). Contatos: vanda.jorn@gmail.com e no twitter: @vralbuquerque

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