Rio Grande do Norte, quinta-feira, 28 de março de 2024

Carta Potiguar - uma alternativa crítica

publicado em 5 de agosto de 2012

Blink: Num piscar de olhos

postado por Carta Potiguar

Anax Ribeiro – Professor de lingua inglesa e jornalista

E se víssemos somente com os olhos? E se usássemos apenas os olhos pra ver? Será que as coisas seriam diferentes? Rubem Alves define o ato de ver explicando que “há muitas pessoas de visão perfeita que nada veem”. O ver é algo tão complexo, envolve tantas coisas, desde grandezas físicas, passando por estímulos químicos, à fisiologia da visão, que ver “com os olhos” simplesmente não acontece.
Lógico que o processo de ver começa nos órgãos sensoriais da visão. A visão é responsável por 75% de nossa percepção. O estímulo visual é a luz, energia eletromagnética transmitida em forma de ondas. Porém, como a quantidade de energia emitida é proporcional à frequência da onda e inversamente proporcional ao comprimento de onda, na verdade TUDO o que vemos, enxergamos, olhamos, resulta da INTERPRETAÇÃO de mensagens, que são inicialmente apenas energia eletromagnética, e da SUPERPOSIÇÃO que o cérebro faz das imagens invertidas, que o olho esquerdo e direito enviam separadamente (cada olho possui seu próprio campo visual).
Então, como a energia/imagem depende da interpretação que o cérebro faz, cada um dos sete bilhões de seres humanos neste planeta vê diferentemente um do outro. É a condição humana de pensar que molda a visão. Cada pessoa pode simplesmente ver o que quiser ver, tendo como base seus valores morais, éticos, experiências de vida, limitações (físicas e mentais), sabores, dissabores, alegrias, angústias etc. E a partir disso imaginar, inferir, refletir acerca do que está vendo.
A palavra imaginar significa conceber, criar na imaginação, CRIAR IMAGENS. Na música de Tunai e Sérgio Natureza, “As Aparências Enganam”, imortalizada na voz de Elis Regina em 1979, o refrão, ao dizer “…as aparências enganam aos que odeiam e aos que amam…” acaba resumindo a fragilidade de um julgamento baseado na interpretação de uma imagem feita por um cérebro influenciado por dois sentimentos poderosos (o amor e o ódio).
O ser humano é um ser imagético. Nós “gostamos” de ver. Estimulamos e somos estimulados com e pela visão. Sentimos a necessidade de criar imagens. Produzimos imagens até mesmo quando estamos dormindo. MAS, precisamos aprender, ou reaprender, a ver o mundo, nossos valores, a vida, o local onde moramos, as pessoas com quem convivemos. Precisamos VER…simplesmente VER.

Carta Potiguar

Conselho Editorial

One Response

  1. Laís disse:

    Adorei esse texto. Bacana mesmo!

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