Rio Grande do Norte, quarta-feira, 24 de abril de 2024

Carta Potiguar - uma alternativa crítica

publicado em 21 de agosto de 2012

Batman ou o “V” ou os partidos políticos são eternos?

O ano era 2003, o mês março… Eu era mais um dos então felizes alunos que haviam passado no vestibular. Lá estava, esmagado, como sempre, por outros tantos colegas que se espremiam dentro do Circular. De longe avistava o setor-2, suas paredes de pedras , suas salas com janelas feitas para lugares onde neva…

Bem, isso faz tempo, hoje as coisas mudaram. A UFRN é uma das poucas universidades que não aderirem a greve das IEs federais. Na verdade, mais parece um eterno canteiro de obras, já que são muitos os investimentos. É, os tempos mudaram, mas algumas coisas em Natal parecem não acompanhar o ritmo das obras da sua Universidade Federal!

Voltando ao meu feliz ingresso no curso de Ciências Sociais da referida instituição, passei algum tempo fascinado, doido pra me envolver com o que pudesse. Logo recebi um convite – aceito, quase que imediatamente – para compor uma chapa do Centro Acadêmico – que na época não tinha o formato de assembleia que tinha até um tempo desses. Se não me engano, infelizmente era chapa única, não tínhamos concorrentes. Atingimos o quórum… Chamávamos a “Ciranda do Acontecer” (risos), tratava-se de um grupo muito diverso, bem intencionado, com alguns de seus membros assumidamente ligados à legendas partidárias e à candidatos a vereador na cidade, mas a maioria de nós não era afeito aos tais partidos.

Portanto havia uma preocupação e um acordo subsequente: não permitir que a estrutura do C.A fosse aparelhada por qualquer grupo partidário. Bem, como era de se esperar nossa ciranda fez alguns movimentos interessantes, outros nem tanto, mas não é dela que quero falar. Lembro-me desse período para dizer como foi através do C.A que o estranho e maravilhoso mundo do Movimento Estudantil se abriu para mim.

Até então eu só havia estudado em escolas particulares, e na última, onde passara sete anos, sempre que ocorria alguma manifestação estudantil a própria diretora ou seus inspetores apareciam nas portas das salas para avisarem que nós não tentássemos descer. Disso se seguia todo um longo discurso sobre “lugar de estudante era na escola”. Bem, fizemos algum barulho dentro, mas a mim nada se comparou com as manifestações que envolveram especialmente os anos de 2003 a 2004. Paramos a BR-101, fizemos cordões humanos na frente do BOPE, ou mesmo do GATE, que no dia 31 de dezembro de 2003, teve seus soldados nos batendo, pouco depois de um distinto vereador, impedido de sair da CMN por manifestantes sentados na saída da garagem da casa, desceu de seu luxuoso carro e puxou um revolver calibre 38 para nós.

Foi um tempo bom do qual guardo um sentimento de nostalgia profunda. Se não conquistamos novos direitos, ao menos conseguimos manter os já conquistados… Por fim, continuamos pagando meia-passagem aos fins de semana…
Foi ali também que conheci os mais variados militantes de legendas partidárias, vi bandeiras das mais diversas cores tremularem, a maioria vermelhas, mas (Pasmem!) algumas azuis. Aos poucos fui me aproximando de alguns desses, deixando de ser chamado de “massa”, passando a ser chamado de “companheiro”. Ambas expressões novecentistas que me dão nos nervos, não mais que outra, que passei a ouvir sobre a minha pessoa, diziam que eu era um “bom quadro” (Hã?).

Junto com isso surgiam diversos convites que se resumem na seguinte frase: “Venha conhecer melhor o nosso partido”. Nunca aceitei nenhum desses convites, mas isso não me impediu de ler seus sites, conversar com seus membros, buscar compreender as mais diversas questões que para mim eram bem novas. Quase me filiei a um partido, um que tem algo de comum com o escudo do Botafogo, até já recebia cumprimentos nos ombros e ouvia frases cochichadas dizendo “Ele tá com a gente”.

Entretanto, tais discursos, convites e batidinhas nos ombros e outras demonstrações de afetos foram gradativamente diminuindo, sendo trocadas por olhares de desconfiança. Já não mais era convidado para algumas reuniões. A culpa era toda minha, eu havia viajado por quase dois anos com diversas pessoas, de diferentes partidos, em congressos, Fóruns Sociais, enfim, visto elas em ação. Como posso ter visto tudo isso e não ter me decidido? Simples, eu me negava a falar em bloco! Não estou dizendo com que não tive meus desejos e afetos comungando com muitos sujeitos partidarizados, pelo contrário, foram muitos os momentos em que isso se deu!

Mas é que eu via grupos distintos, a maioria se dizendo de esquerda, com os dedos em riste uns para os outros. Cada qual apontando os membros de outro grupo de alienado, conservador, pelego (outra palavrinha que tenho ojeriza). Cada qual que dissesse também que seu partido tinha várias correntes, mas no final das contas essa diversidade era silenciada em certos momentos.

Ao perceber certas contradições não assumidas – e que eram bem semelhantes aquelas apontadas como inadmissíveis no outro grupo – e criticá-las, botando a “boca no trombone” mesmo, percebi tentativas de me silenciarem. Claro que isso não se deu apenas comigo, foram tantos outros que não aceitando a adequação a qualquer preço tinham um compromisso de expor determinadas contradições, ainda que doesse no próprio grupo, ou no próprio pulso.

Não há nada de heroico nisso, apenas uma necessidade de expressar o que se pensa, partindo do pressuposto que ninguém é massa, ninguém é quadro, mas sim pessoas, reunidas, afetadas, provocando-se mutuamente, comprometidas sim com a desconstrução do status quo, mas sem a crença idiotizante de que alguém estaria mais capacitado para abrir a cabeça de alguém… Nada mais parecido com o fundamentalismo religioso, ao meu ver… Apenas mudam o vermelho do Cristo Crucificado para o vermelho do Marx endeusado…

E de lá pra cá se passaram nove anos, nesse sentido não vi grandes mudanças. Não deixei de lutar ao lado de alguns colegas e amigos, apenas ganhei o nome de apartidário e até de anarquista… Não sei bem o que querem dizer com isso, mais parece uma tentativa de me encaixar em um grupo, me rotular… Tudo bem, que sejam os outros a fazerem, ainda que eu não goste… Ainda vejo gente querendo saber de que partido sou, alguns voltaram com os antigos convites, tendo as mesmas recusas. Fazer o que? Compreendo que diante das conjunturas muitas vezes não temos escolhas, precisamos jogar o jogo. Mas, compreendo também que esse jogo possui brechas, que podem ser tateadas e, vez por outra, encontradas. São essas brechas que, acredito, nos permitem jogar o jogo, mas não todo ele! E isso não se coaduna com a partidarização…

As legendas partidárias não devem ser ignoradas em sua importância histórica, assim como a conquista do sufrágio universal, da qual muitos militantes partidários (mas não só) lutaram para conquistar. No entanto, como qualquer outra instituição humana, deve ser vista enquanto um construto social e não um dado natural, muito menos divinizado como algo que não pode ser questionado em sua existência e permanência. Entendo que alguns se prendam a esse formato de “fazer política”, pois lutaram muito por um espaço para agora se desprender dele. Apenas seguem o ritmo das lutas que tinham como alvo o comunismo, mas que parava em uma transição – o socialismo – e nunca mais sairam dela.

Veja um tanto de partidos que se dizem de esquerda quanto os que não se assumem de direita, fotos photoshopadas, bocas de urna, e, o pior de tudo, o discurso vanguardista, salvacionista e as falas em bloco. Alguns, mais convictamente de esquerda, irão dizer que não pretendem chegar ao poder, mas expor suas ideias, mexer com a estrutura. Como assim? Fazendo as coisas do mesmo jeito que sempre fizeram? Uns usam da militância de seus candidatos, seu histórico de lutas… Outros o currículo lattes de alguém que é doutor… Todos dizem que trarão mudanças, que seu candidato traz inovações. Todos reproduzem um discurso meritocrático (tão liberal!!) de que seus candidatos são merecedores de crédito, de confiança, potenciais revolucionários… Que mudança efetiva propõe ao usarem dos mesmos discursos – e até algumas práticas – de dois séculos atrás? Que revolução é essa que usa dos mesmos mecanismos e estratégias (de marketing?) de seus opositores?

Não se trata de desilusão ou de ter abandonado qualquer tipo de utopia, apenas não compartilho de muita coisa do que tenho visto. Ainda tenho alguma fé na humanidade, especialmente na sua capacidade de se reinventar, de desconstruir e reconstruir, a partir da percepção de que nenhuma instituição é eterna, ainda que tenha tido grande importância histórica, social e cultural, deve ser questionada em sua base em algum momento.

Os partidos são instituições caducas, em crise, como a maior parte das nossas divinizadas e universalizadas instituições ocidentais: com grande importância histórica, mas estéreis na atualidade. Lembram-me o Batman, capaz de por bandidos nas cadeias em prol da manutenção do mesmo sistema, mantendo desigualdades de classe, e tantas outras… Nessas horas me vejo preferindo o “V”… É hora de implodir, ainda que nos doa, ainda que sem as bombas… Um pouco de amor, por favor!!!

Gilson Rodrigues Jr

Bacharel em Ciências Sociais (UFRN) e antropólogo - mestre e doutorando pela Universidade Federal de Pernambuco. Foi professor substituto da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), onde permanece ministrando aulas no curso de Ciências Sociais (EAD). Tem experiência nos seguintes temas: desigualdades, marcadores sociais da diferença; remanescentes de quilombo e antropologia do direito/ jurídica. Atualmente se dedica a estudar no processo de doutoramento a interface entre ações humanitárias, Estado e religião,

15 Responses

  1. Paulo Emílio disse:

    “Como você OUSA criticar os partidos políticos? Os dos outros, porque o meu nunca erra!” (provérbio partidário).

  2. Túlio Madson disse:

    O problema do partido é exatamente esse: ele parte.

  3. Caro Gilson,

    Em tempos de occupy, Slavoj Zižek muito bem disse: “Sabemos o que não queremos, nos resta descobrir o que queremos”. Toda crítica propositiva é válida e importante para que se aprimorem as instituições, as PESSOAS.

    Em meu particular, sou um entusiasta da reforma política, de que se afaste da politiKa interesses financeiros, que se institua a democracia interna dentro das instituições representativas, hoje esta restrita a poucas instituições e ainda assim, um pouco limitada.

    Mudanças são sempre necessárias, mas que a preocupação aspeada acima seja uma provocação.

    Saudações fraternas! (correndo para a frente da tevê, acaba de começar o horário eleitoral).

    • Gilson disse:

      O problema, Tiago, é que reforma pressupõe usar o que se tem, apenas tirar o que não presta. Isso já é alguma coisa, sem duvidas, ma desconfio que seja pouco… Penso mesmo, como tentei expor, em outros formatos organizacionais, longe dos vanguardismos partidários…Bem, e quanto a provocação, achei que ao final do texto havia dito o que desejo, por mais utópico que seja… Mas dai a saber o que quero… viiiiixi… Admiro a fé dos que acham que sabem…

  4. Rafael disse:

    Queira você ou não são estas instituições ”caducas” que dominam o cenário político atual. São os partidos fortes e enraizados nos mais amplos setores sociais que impulcionam a disputa pelo poder estatal. Se você achar que não é dessa maneira é porque vc vive em Marte ou acredita na fada do dentinho

    • Gilson disse:

      Rafael, eu não devo ter sido claro o bastante, e não vou tentar isso agora… Até quero conhecer Marte, mas moro por aqui sim… Eu realmente não disse que não “achava que era dessa maneira”, muito pelo contrário… O texto TODO (a meu ver, mas você não tinha que perceber isso), expõe a situação, de uma forma analítica, ainda que lhe falte profundidade, como vem se dando… O que expus foi o incômodo com a coisa exatamente como está… Ainda mais por perceber o tanto de gente disposta a manter do mesmo jeito… E isso, você, e muitos, já fazem muito bem, seja aqui, em Marte, ainda que não acreditem na fada do dentinho (nada mais americano, não é?!)

  5. Lucas disse:

    eu gostaria de ver no brasil a figura da candidatura avulsa, sem partidos pra sustentar, onde o candidato de fato mostrasse suas intençoes, planos, independente de ser um representante da esquerda ou da direita, antes de tudo seria um representante de ideias, pelo menos acho eu.

  6. Daniel Menezes disse:

    Tulio e Gilson, numa democracia as pessoas tomam “parte”, escolhem entre diferentes projetos. Querer que não tomem “parte”, é pedir o retorno das sociedades totalitárias aonde as diferenças políticas são secundarizadas.
    O texto é antipolítica e “parte” da ideia de que as organizações políticas são ruins. Ora, é preciso cuidado para não ficar reproduzindo preconceitos primários, sob a perspectiva de estar sendo crítico.
    Os “políticos” não vêm de marte, como brincou certa vez Renato Janine Ribeiro. Nós somos os “políticos”.

    • Gilson disse:

      Daniel, meu querido, não sei bem onde eu disse no texto que não desejo que as pessoas tomem “parte”… Apenas questionei o formato com que isto se dá, e sua esterilidade… Antipolítica? Acho que não, Daniel… Comentário, esse seu, a meu ver bem equivocado, quando ao longo do texto busquei mostrar um desejo de uma outra política, até mesmo um outro sistema… Você fala em democracia, defende este conceito como se fosse algo dado… Isso sim, me soa senso comum acadêmico, isto sim me parece preconceito primário ao se deparar com algum tipo de questionamento que vá de encontro, por exemplo, a esta democracia como ai está… Não parto da ideia de que organizações políticas sejam ruins (Juro, ainda estou procurando de onde você tirou isso), apenas parto da premissa de que as organizações políticas não são eternas e devem ser questionadas, desconstruídas, reelaboradas… Bem, é preciso ler os textos que falem do que não gostamos com mais atenção, pra não cair no erro de cair em lugares comuns, “sob a perspectiva de está sendo crítico…” =**

    • Túlio Madson disse:

      Há uma diferença fundamental entre “ele parte” e “ele toma parte”.

  7. Leon K. Nunes disse:

    Ninguém diz que partidos (ou outras organizações) não podem ser questionados. Podem e devem. Daí a apontá-los como esgotados historicamente, vai um grande abismo. Se os partidos ainda são a forma de organização preponderante, não é por acaso.

    É preciso acabar com essa visão do partido como uma boiada. Um partido representa um programa, não nega individualidades. Quem vê um partido como um ambiente assépticos, sem contradições internas, está recaindo num preconceito muito infantil. Isso não tem a ver com mais ou menos capacidade de nada, mas sim com o direito resguardado aos cidadãos de, unidos em torno de um programa que considerem emancipador, lutar para trazer mais gente em torno desse programa.

    E a sensação de pastosidade na política que temos hoje, com os partidos parecendo todos iguais, não é um sintoma da modernidade, mas sim do neoliberalismo.

  8. Cleyton disse:

    Li seu texto Gilson Rodrigues e achei interessante, ainda que não apresente nenhuma novidade. Est déjà vu. Sua crítica pareceu-me se concentrar mais no aspecto “formal”, mas não desprendido de certa ideologia, acerca dos partidos. Se eu acertei, não tenha dúvida, foi porque comungo, em partes, com essa percepção. Mas não só eu e você criticamos a “forma” dos partidos vigentes. Os poucos sobreviventes da avalanche neoliberal estão conscientes também da necessidade de mudança. Até aqui, acredito, estamos de acordo. Por outro lado, seguindo o raciocínio de Gramsci, prefiro ampliar o conceito de partido, ao invés de reduzi-lo à legenda como você fez. Essa é a falha, a meu ver, do seu argumento. No instante em que lança críticas (e a maneira que emprega certos termos revela isso) às legendas, você incorpora um determinado programa político e se alia ao discurso dominante. Como se estivesse tentando fugir da própria sombra, você se afunda numa desilusão totalmente funcional à ideologia dominante. O partido dos “apartidários” ou “independentes”, como alguns costumam se intitular, é produto da maior derrota da esquerda durante século XX. É produto da vitória acachapante do neoliberalismo no âmbito ideológico sobre o trabalho. Há muitos protestos populares pelo mundo e no Brasil, em particular. Porém, é notório a falta de um programa de ruptura com o capital. O que de fato atenderia os anseios de mais democracia, mais liberdade, Etc. Etc. Ect. A rigor, em todas as “formas” históricas emergidas, os partidos sempre foram a peça essencial da transformação social. Dos Spartacus aos Jacobinos. Dos Bolcheviques aos Sandinistas. Enfim, nenhum regime foi destruído sem a presença de um partido (expressão de uma vontade coletiva revolucionária). Por isso, eu vos digo: consciente ou não, todos nós ajudamos a construir um determinado programa político. É fundamental questioná-lo. Mas, ignorá-lo, é ingenuidade.

    • Gilson disse:

      Cleyton
      agradeço pela tua leitura atenta, ainda que não o bastante. Mas pelo
      menos ao se posicionar não rebaixou o debate como é o cumum se fazer nos
      tempos atuais. Bem, vamos lá: 1) Como é bastante comum de se fazer, uma
      das primeiras coisas que você se propos a
      criticar mais contudentemente é aquilo que o texto tem de aparentemente
      mais frágil. Oras, não a toa eu restringi a crítica as legendas
      partidárias, de fato, naõ apenas como Gramsci, mas como Weber, este não é
      um conceito que se restrinja a isto, o que qualquer estudante de
      ciências sociais que se preze vai saber. Todo o texto pauta a crítica na
      situação de defesa dos partidos/legendas como se estes fossem
      instituições eternas e imutáveis. 2) Aqui acho melhor citar o artificio
      retórico que você de forma inadequada se vale: “Como se estivesse
      tentando fugir da própria sombra, você se afunda numa desilusão
      totalmente funcional à ideologia dominante. O partido dos “apartidários”
      ou “independentes”, como alguns costumam se intitular, é produto da
      maior derrota da esquerda durante século XX. É produto da vitória
      acachapante do neoliberalismo no âmbito ideológico sobre o trabalho.” Em
      primeiro lugar, estes rótulos que você aponta não se encaixam a minha
      pessoa, mas como tentei apontar no texto, apesar de não gostar das
      rotulações, compreendo que elas sejam socialmente inevitáveis… Dessa
      forma é melhor que elas venham de outros, como muito bem fez você agora.
      Um segundo ponto a ser destacado é que ao contrário do que tu se propõe
      não compactuo de uma perspectiva dicotomica, bastante tipica de uma
      perspectiva marxista (não marxiana, a meu ver) presa a uma discussão do
      século XIX. Dessa forma, considero bastante limitante pensar no
      enfraquecimento dos partidos, adequados como ficaram a máquina
      burocrática capitalista, apenas aos avanços do neoliberalismo, quando
      outras diversas configurações sociais comoõem este triste cenário,
      inclusive a falta de competência dos diversos grupos de esquerda em seu
      auto-avaliarem de forma crítica, mudando estratégias, sem que isso fosse
      significar mudança em seus princípios. O problema que se torna patente
      na tua fala, fazendo coro com a de tantos outros colegas cientistas
      sociais é que esquecem que a história tem diversos outros eventos de
      grupos que se uniram, se posicionaram, e não estiveram sobre a bandeira
      de uma proposta marxista, de legenda partidária, ou coisas do tipo…
      Sim, se formos adentrar o conceito de partido de forma mais ampla, sem
      sombre de duvidas que isso se deu nesses contextos. Exemplos? O
      movimento pelos direitos civis nos EUA; a postura do Governo Mandela
      logo após a saída do proprio Mandela da Prisão; o movimento pela
      Independencia da Índia. Devem existir outros, mas história nunca foi o
      meu forte… Bem, dicordo radicalmente de que meu argumento se una aos
      ditams dominantes, tendo em vista que não me posicionei contra as
      pessoas se unirem ao redor de objetivos, a partir da construção de um
      olhar crítico – em cada um, o que leva tempo, algo que os tradicionais e
      vanguardistas revolucionários não tem tempo – junto com um sentimento
      de pertença ao redor de objetivos, no entanto o que questionei foi a
      forma como isso vem sendo tradicionalmente feito, sempre sob o discurso
      da inovação, da mudança, só que não. Talvez esteja sendo radical demais,
      ufanista demais ao pensar que é hora de uma ruptura mais radical, uma
      revolução cultural (como defendia Gramisci) ou simbólica, como propôs
      Bourdieu. Isto é possível? Continuo defendendo isso, o que não pode
      acontecer sem que haja desconstruções sérias do status quo, que tem na
      naturalização de principios neoliberais um lugar confortável. Isto,
      inclusive, aparece fortemente nos discursos meritocráticos, não
      coincidentemente presente nas posturas e campanhas de candidatos a
      cargos eletivos, sejam os de direita ou os de esquerda, assim como de
      seus apoiadores. A meu ver, poucas coisas são tão liberais quanto o
      discurso meritocrático… Adam Smith que o diga…

  9. Dilberto Lima Rosa disse:

    Gostei muito do seu texto, Gilson, com ótima fluência e, entre uma nostalgia ilusória aqui e outra ali, boas discussões sobre a necessidade urgente de novos parâmetros para as nossas partidarizações: nada de acomodações, mas fluência, sempre, a adaptar o que deve ser adaptado já! Oque dizer mesmo dos ditos “e esquerda”? Aqui na minha sofrida coirmã de vocês, São Luís, o PT se irmanou com… Roseana Sarney! O Poder e a sede por ele acabaram por deixar a desfaçatez menos explícita, com todos mostrando mesmo que só querem chegar lá – não importando o caminho… Ando desgostoso, mais ainda do que você…

    Só uma “correção” (li os comentários e, não, não se trata de observações críticas a qualquer parte sociológica do texto): ainda prefiro o Batman, sabe? A DC já reformulou bastante o personagem, que não só se tornou um grande filantropo (real, não só aquele de jogar esmolas a esmo), como também se converteu num grande contestador do Sistema – vide clássicas histórias como “Cavaleiro das Trevas” ou “O Messias”… Implodir o sistema pode parecer tentador à primeira vista, mas logo se esgota a ‘vendetta’ de V e não temos um sistema para oferecer por no lugar…

    Meu abraço e apareça no meu humilde espaço (se a Roseana não o embargar antes, ré, ré)!

  10. Dilberto Lima Rosa disse:

    A propósito: o Google não ofereceu o endereço do meu blogue – por isso, aqui vai (e me perdoe o comercial gratuito, mas é pela boa causa da troca de ideias): http://www.osmorcegos.blogspot.com

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