Rio Grande do Norte, terça-feira, 23 de abril de 2024

Carta Potiguar - uma alternativa crítica

publicado em 1 de outubro de 2012

Um copo d’água à repressão: Tiros na UFRN!

postado por Carta Potiguar

Por Tiago Souto

(Mestrando em Ciências Sociais – UFRN) 

Estudantes universitários da UFRN são alvos de disparos de arma de fogo por segurança privada no campus

No discurso oficial, as formas de intervenção de Segurança “Pública”, sobre aqueles que criticam, contestam e denunciam se posicionando, revelam-se um poderoso instrumento de expansão do controle. As perspectivas deste discurso ideológico percebem as reivindicações e o debate social, facilmente como conspiração que põem em risco a “ordem social”.

No Brasil, o tema é motivo de intenso debate entre os intelectuais, dentre estes, Alba Zaluar[1], antropóloga de reconhecido saber sobre o tema, que tem se empenhado na investigação científica sobre o inacabado processo de democratização e o fracasso da segurança pública no país.

Hoje na República Federativa existem 58 tipos de polícias, incluindo as polícias da Câmara e do Senado, além destes, temos um enorme contingente de forças de segurança privada, formais e informais, incapazes de diminuir os riscos e inseguranças nas cidades.

Cabe destacar ainda que o país tem quase 5 seguranças privados para cada policial[2] o que representa um enorme ônus para sociedade e, sobretudo para os órgãos públicos que contratam esses serviços.

Esse cenário não é exclusividade dos municípios, pois as universidades tem sido alvo de patrulhamento ostensivo, como é o caso da USP, onde estudantes são revistados, em frente à biblioteca, no controle do acesso ao restaurante universitário e na abordagem em espaços de sociabilidade dos jovens, voltando-se, prioritariamente na moradia estudantil, entre negros, punks e gays[3].

Na Universidade Federal do Rio Grande do Norte, a situação não é muito diferente, na última sexta-feira, uma simples necessidade de beber água no corredor de aulas do setor II, após o horário “permitido” culminou em disparos de arma de fogo de calibre 38 na direção de estudantes universitários, que por sorte não se registrou feridos, apenas uma viatura privada depredada, pelos estudantes em reação a grave ameaça.

Essa ação traduz as formas contemporâneas de atuação das forças policiais e dos aparatos repressivos, que extrapolam suas competências legais, e o que é mais grave, ao incluir no quadro do efetivo armado da Instituição Educacional Superior 200 seguranças privados armados, num custo mensal de aproximadamente R$8.000,00 mensais para cada homem – é só fazer as contas – e pensar o quanto se tem retirado de poder da Segurança Pública do Campus (servidores) que hoje somam em torno de 140 servidores e os interesses do lobby das empresas nas licitações da UFRN, que justificam a permanência de contratos milionários, devido à famigerada “burocracia” de Estado, não só na segurança, mas também em outros contratos como limpeza e construção civil.

Universidade e Cidades em Pé-de-Guerra!

Abaixo a Repressão e Supressão da Autonomia Universitária/Estudantil!

Referências

[1] Alba Zaluar. Democratização inacabada: fracasso da segurança pública. Revista Estudos Avançados 21 (61), 2007. Link para acesso direto ao artigo http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_pdf&pid=S0103-40142007000300003&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt

2 Luciana Coelho de Washington. O País tem quase 5 seguranças privados para cada policial. Folha de São Paulo http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/1153310-pais-tem-quase-5-segurancas-privados-para-cada-policial.shtml

3Juliana Machado Brito. Guerra às drogas e territórios em disputa. <http://www.diplomatique.org.br/artigo.php?id=1125>



 

 

 

 

Carta Potiguar

Conselho Editorial

9 Responses

  1. Dan disse:

    Ninguém fala o que esse povo tava fazendo e fez , para que o vigilante atirasse para cima, como uma chamada de atenção.
    E depois o que fizeram com a viatura que chegou ao local.

  2. Dan disse:

    Nem do tapa que deram no vigilante. Que estava em numero bem menor.

    • Danni Carlos disse:

      Que dó dele!! Em menor número, armado e tal, eu tb teria atirado e depois me escondido! Quem não? Que dó, este herói merece uma medalha! GO GO GO, mandem fundir uma medalha de ouro maciço! Tenho até vontade chorar de emoção. Um herói!

  3. Esse povo foi tão somente beber água! Mesmo que estivessem fazendo o que fosse, primeiro o “segupança” -ressalta-se o despreparo desses “profissionais” – deveria pedir a identificação dos jovens, ainda mais por estar em um ambiente de estudos.. Sem falar que ele é guarda patrimonial e não exterminador de pessoas com cede…
    Ou você acha mesmo que ele deve primeiro atirar pra depois perguntar? Sendo assim, vai lá meter as caras…

  4. Ricardo disse:

    Parte de uma premissa certa para tirar uma conclusão errada. Utiliza uma possível agressão por parte de um segurança privado como argumento para criticar as forças policiais, o que legalmente não há como se confundir. Depois foge do contexto para criticar o investimento em segurança. Sei não !! É mesmo um texto de mestrando?

  5. Leon K. Nunes disse:

    Que chatice, isso. Pra mim, me parece mais um caso de desentendimento do que um sintoma das relações entre povo e polícias e outras barbaridades que falam. Não nego que houve exagero e possivelmente despreparo do segurança ao efetuar um disparo, mas isso é algo de se investigar e se punir. Transformar isso numa circunstância de repressão, de opressão do Estado, seja lá o que pra mim parece muito é frescuragem, mesmo porque essa história está muito mal contada… muito!

  6. Leilane disse:

    Parabéns pela lúcida análise Souto, dificilmente gosto do que se escreve aqui, mas dessa vez foi muito bom, parabéns mesmo…

  7. fernando disse:

    pedra cantada esse problema, a ufrn nao precisa!!(um bom analista que conheçe a realidade do RN daria esse parecer) de segurança armado, só pra roubar em contratos mais caros!Seguranças desarmados já!

  8. josesantos disse:

    Gostaria que você divulgasse a versão do guarda, pois eles devem cumprir regras de conduta e os acadêmicos, por sua vez, também teem seus deveres e não só direitos (liberdades).

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