Rio Grande do Norte, sexta-feira, 29 de março de 2024

Carta Potiguar - uma alternativa crítica

publicado em 27 de outubro de 2012

Apagão, nordestinos e piadas: tudo pode em nome do riso?

postado por David Rêgo
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Após o apagão do dia 25 de Outubro as redes sociais tornaram-se campo para a disseminação de uma série de “piadas” que tinham como alvo “brincar” com o suposto  “subdesenvolvimento do nordeste”.

O Humor agora parece que tornou-se o escudo para dar legitimidade ao preconceito. Tudo pode em nome do riso, até mesmo ser preconceituoso. Afinal, “é só uma piada”. Parte-se de um pressuposto que o riso é um reflexo direto da alegria e não existe problema nela.  Esquecem-se que a piada pode ocupar outras funções além da alegria. Ela é também uma ótima ferramenta para expor ao ridículo e humilhar.

Para compreender melhor os processos que “geram o riso” podemos ir rapidamente ao “howstuffwoks” e observar que entre as “teorias do riso” está a chamada “teoria da incongruência” que afirma:

A teoria da incongruência sugere que o humor cresce quando lógica e familiaridade são substituídas por elementos que normalmente não andam juntos. O pesquisador Thomas Veatch diz que uma piada se torna engraçada quando esperamos uma coisa e acontece outra. Quando a piada começa, nossas mentes e corpos já estão antecipando o que vai acontecer e como ela vai terminar. Esta antecipação tem a forma de um pensamento lógico interligado com a emoção e é influenciado por nossas experiências passadas e por nossos processos de pensamento.

O riso não é “consentido”. É uma surpresa. Não trata-se de um ato plenamente consciente. Não é bem uma escolha.

Muitos tem como pressuposto que: se riu é porque é engraçado ou gostou. Existe, inclusive, uma cantada muito usada pelos homens: soltam alguma cantada e logo após afirmam: “se riu é porque gostou”! Ao ver a combinação de uma cantada e a frase “se riu é  porque gostou” é natural que o alvo da cantada passe a rir.  Rirá,  mas não propriamente por ter gostado da cantada. Muitas vezes rirá de alguém que achou ridículo. A menina alvo da piada pode rir por vários motivos que vão desde “a boa piada e do homem engraçado” ao  “homem ridículo”. O riso ali pode ser tanto por ter gostado como por ter achado ridículo e não ter gostado. Ainda assim gerou o riso.

Também rimos de situações que nos desagradam muito. Quando você ri para esnobar uma situação errada. Este riso também não aparece “por decisão”, é reflexo, isso sim, de uma situação onde o autor do  riso julga ter visto uma situação “surreal” que foge completamente do bom senso e da realidade. Ri como forma de deboche/protesto, uma forma de expressar o descontentamento com o que foi dito ou feito.

O riso não express apenas alegria, felicidade e contentamento.

Assim sendo, expor seus preconceitos não é piada, é violência. E o “riso” e a piada também servem para violentar. Não são “naturalmente bons”.

 

David Rêgo

Sociólogo, antropólogo e cientista político (UFRN). Professor do ensino médio e superior. Áreas de interesse: Artes marciais, política, movimentos sociais, quadrinhos e tecnologia.

10 Responses

  1. Ewerton Alípio disse:

    Que autor empombado. Não vejo preconceito nessas piadas.

  2. Caio Cesão disse:

    Boa reflexão.

    Gostei principalmente dessa frase: “O humor agora parece que tornou-se o escudo para dar legitimidade ao preconceito”.

    Há tempos que venho me indispondo contra esse tipo de humor idiota.

    É deprimente ver um povo que ri da sua própria desgraça e permanece inerte quando se fala em tentar mudar.

  3. David, Danilo Gentili, Rafinha Bastos e demais integrantes da trupe neo-fascista de stand-upers metidos a engraçadões discordam do seu texto.

  4. John disse:

    Que ridículo! Coitadismo normal para os esquerdistas pobristas de federais. Falar que gaúcho é viado, que o Acre não existe é lindo, agora fazer piadinhas com a pobreza do nordeste é politamente incorreto. Apesar de ser verdade. Tá na hora de exumarmos Chico Anísio pra fazê-lo pagar por ter feito piadas com homossexuais, pobres e negros.

  5. Yuri Kotke disse:

    Eu acho que piada se responde com piada. Ficar ofendido não é muito eficiente. O interessante é usar sua indignação para dar o troco e fazer o preconceituoso refletir ao sentir o preconceito na pele. Tem um exemplo aqui:
    http://sphotos-e.ak.fbcdn.net/hphotos-ak-ash4/270510_441737202529727_974151213_n.jpg

  6. Junior disse:

    A esquerda brasileira é uma coisa que eu não entendo… Por favor, alguém me explique. Veja bem: Ninguém toca no assunto das mortes que Stálin cometeu para falar que “nem tudo vale pela revolução”; muito menos falam da desastrosa revolução francesa, ao contrário, a exaltam. O argumento mais comum é que “Os movimentos se desvirtuaram.” MAS ELES SEMPRE SE DESVIRTUAM. Mas aí pode, matar milhões, como os discípulos do psicopata Marx fizeram, pode, pois é em nome de um “bem maior”. Contudo, uma piada é motivo de pânico geral, “temos que tomar cuidado com os reacionários”, dizem. Já estão tão contaminados por Rousseau e Marx que o cérebro não consegue mais processar coisas como brincadeira, piada, ironia. Isso é bem comum de ditaduras, não?

    Em nome do politicamente correto, vocês proibirão a venda de Ary Toledo em pouco tempo. E, por que não, livros de “Direita”, como fizeram na Venezuela? Aliás, tratando direita como tudo e todos que não concordam com a visão de vocês. Adoram gritar “reacionário!”, “burguês!” a qualquer sinal de discordância. Ora, pensar que ainda têm a cara de pau de se auto-proclamarem defensores da democracia. Gramsci está orgulhoso do trabalho que estão fazendo (apesar de que talvez muitos esquerdopatas nem saibam quem ele é rsrs).

    Ó, como é lindo a maneira que vocês se mostram como defensores da moral e dos bons costumes… Parece até a inquisição! HAHA. A diferença é que, ao invés de deus, vocês adoram o Che.

    • Olá Júnior, duas observações: 1º: odeio comunismo, o “esquerdista” aqui é liberal. 2º: o texto em momento algum fala de proibição de nada, de onde você tirou essa ideia de proibir? Eu não estou dizendo que devemos proibir, estou diendo que devemos ridicularizar, é diferente. Não tire conclusão precipitadas, apegue-se ao que o texto diz e nada mais do que isso, não faça suposições nem generalizações, apegue-se apenas ao texto. E eu não adoro nem deus nem che, sou ateu.

      • Andre Garcia disse:

        Porque vc censurou minha mensagem caro moderador? E ainda escreveu a mesma coisa só que de forma menos irônica…

  7. Baiano disse:

    Tomar no cu todos esses fpd do sul… depois vem p k curtir no verão, vcs deveria ter mais respeito….

  8. Tudo tem limite! Não sou adepta do “politicamente correto” ou do “humanamente aceitável” e baboseiras do gênero, mas tudo tem o seu limite. Quando ocorrem problemas em outras regiões do país que não sejam o Norte ou Nordeste, não se vê nortista ou nordestino fazendo piada. Muito ao contrário; é justamente dessas regiões que nasce a solidariedade que apoia as demais regiões do país. Então agora estamos liberados pra fazer graça de tragédias como o deslizamento do Morro do Bumba no RJ, as mortes na festa de Ano Novo em Angra dos Reis ou das tempestades que devastaram SC? Janeiro tá chegando e, com ele, as chuvas de verão que devastam a região Sudeste como todo ano, desde que eu nasci. E bem antes disso… Agora, vocês do Sul e Sudeste, por favor me respondam: por que todo santo ano a gente vê esse filme se repetindo na sua região?

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