Rio Grande do Norte, terça-feira, 23 de abril de 2024

Carta Potiguar - uma alternativa crítica

publicado em 27 de outubro de 2012

Caranguejo é quem anda pra trás

postado por Carta Potiguar

Por Mariana Meneses Fernandes

(Graduanda em Comunicação Social – UFRN)

Caranguejo é um crustáceo que faz parte da família gecarcenídeos, conhecidos também como caranguejo amarelo ou caranguejo-ladrão. Bem sabemos que caranguejos não andam para trás nem para frente e sim para o lado, e que o título recorre apenas a uma licença poética. E é exatamente sobre essa particularidade que desejo me referir, a de andar para o lado. Não são unicamente caranguejos que possuem essa prática, pessoas também fazem isso, principalmente quando se trata de poder político.

A família Alves está no poderio político do Rio Grande do Norte e à frente da nossa capital há mais de 90 anos, bem como a família Maia e Rosado. Aluísio Alves, um dos grandes nomes da política do nosso estado, é o decano dessa família. Iniciou sua vida pública na UDN como Deputado Federal, já participou do PSD e enfim ingressou na ARENA, quando foi então cassado pelo AI-5 acusado de corrupção. A partir daí as semelhanças dos Alves com o caranguejo amarelo só se estreitaram. E assim se deu a sucessão dos Alves na cena política norte-riograndense. Garibaldi Alves,
Garibaldi Alves Filho, Carlos Eduardo Alves, Henrique Eduardo Alves e os demais Alves políticos existentes no RN. O que nos dá a sensação de que nada mudou, são os mesmos nomes a cada dois e quatro anos. Se esse repeteco todo ainda fosse benéfico aos potiguares nem faria necessário tecer algum comentário.

No entanto, ao invés da política caminhar para frente rumo ao futuro e seus desafios, continua a retardar o sucesso de nossa administração pública, com essa mania oligárquica de andar paro o lado, favorecendo os mesmo, com mecanismos fisiológicos, de cabresto e de cunho curralístico.

Carlos Eduardo está como nosso candidato à prefeitura de Natal e a um passo de assumi-la novamente, lançando dessa vez como vice-prefeita Wilma de Farias. Uma hora ou outra era de se esperar tal revezamento. Devemos lembrar que nosso quase prefeito assumiu a prefeitura de Natal em 2002 quando Wilma renunciou o cargo para disputar a governadoria do Estado, e se elegeu como prefeito de fato em 2004/2008 lançando como vice-prefeita Micarla de Souza, que posteriormente se candidatou à prefeitura natalense. Definitivamente, revezamento não tem sido boa pedida para nós. Sobre sua candidatura no período de 2004 a 2008 é digno citar suas iniciativas (que fique claro o termo iniciativa) em obras públicas, bem como projetos socioculturais, “investimentos” na área da saúde e da educação, além da criação de habitações populares e o saneamento básico em várias regiões da cidade, uma vez que todas foram devidamente propagandeadas. Mas é ainda mais honesto lembrarse desse outro detalhe: “Quais delas ficaram prontas, entregues e beneficiaram de fato a população?”. As que chegaram perto de sair do papel serviram apenas para fazer o que os caranguejos amarelos e os Alves historicamente fazem de melhor, abiscoitar. Dos saneamentos invisíveis às 8 toneladas de remédios jogados fora, nada, nem mesmo o Parque da Cidade conseguiu escapar de cair no mangue.

É bom revermos nosso conceito sobre a suposta rivalidade existente nesse segundo turno entre Hermano Morais e Carlos Eduardo. Se pensarmos bem, quem apoia Carlos agora é Mineiro e quem sempre apoiou Hermano? Garibaldi Alves Filho. Ainda preciso dizer alguma coisa? Ela não existe. São Marias farinha do mesmo buraco. A verdade é que o passado nunca foi embora. Eis o exemplo mais polido de verdade. Estamos num dilema quase centenário e a culpa não é dos caranguejos, pois a eles cabe apenas a competência de andar para o lado. Cabe a nós a de andar para frente.

Carta Potiguar

Conselho Editorial

5 Responses

  1. Ramon Gurgel disse:

    Excelente texto. Enquanto estivermos à mercê dessas podres oligarquias, viveremos optando pelo “menos ruim” dos candidatos e isso para mim é inadmissível. Torço para que os eleitores um dia sejam menos ficha suja. Vou anular de novo, não tem condições de escolher algo diante de tanta porcaria. Sem mais!

  2. voto nulo disse:

    Finalmente um texto em que podemos enxergar um olhar crítico a essa nossa política mesquinha “mais do mesmo”!!! Já era hora!!!

  3. Daniel Menezes disse:

    Discordo do texto por entender que “sobrenome” não é sinônimo de DNA.
    Para quem é de classe média e não utiliza serviços públicos, de fato, não vê “diferença” entre Carlos Eduardo e Hermano, ou só as percebe
    quando a questão é o ingresso do Malafaia na campanha. Por que? Porque não as sente na pele.

    Fica fácil falar que “todos são iguais”, ou mesmo afirmar voto nulo. como o pedido vem sendo feito das mais variadas formas pomposas de afirmar o alheamento eleitoral, o que, no fim das contas, cai na mesma lógica “passivizante”.

    É o problema da miopia política, que não consegue enxergar a política como processo, mas como algo dado.

    Carlos Eduardo, Hermano e Mineiro representam três projetos distintos, com algumas aproximações e diferenças. Agora, no jogo eleitoral, é preciso saber recuar para depois avançar. O segundo turno em Natal foi construído democraticamente, quer a gente queira ou não.
    O próprio Mineiro, acredito eu, que representa um bom projeto, poderia estar no segundo turno, se não existisse essa desconfiança de parte de quem se diz de esquerda em relação a eleição. É o típico tiro no pé que ocorre de dois em dois anos.
    Nessa lógica, independentemente da conjuntura, ser “Alves” não presta.

    É um discurso fácil, pois, no fim das contas, não construímos alternativa clara.
    Só construímos a pose de críticos é que somos “superiores a política” (criando uma relação de ser levado a reboque dela).

  4. picato disse:

    Qual é mesmo o nome completo de daniel menezes?

  5. Oscar Smith disse:

    Finalmente um ótimo texto!

    Melhor do que os últimos textos do Daniel Menezes. Tendenciosos, diga-se de passagem.

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