Rio Grande do Norte, quinta-feira, 28 de março de 2024

Carta Potiguar - uma alternativa crítica

publicado em 30 de outubro de 2012

O Grito Silencioso

postado por Ivenio Hermes

Todas as bocas que clamam e todas as vozes que calam

Por Ivenio Hermes

“No momento de maior escuridão, os homens veem as estrelas.” Ralph Waldo Emerson.¹

Traças que corroem a mente

Quando um Estado carente em matéria de segurança pública, já exposto pública e nacionalmente pelas estatísticas, que se afirma manter no limite jurisprudencial da Lei de Responsabilidade Fiscal para não contratar agentes para o sistema penitenciário, para a polícia judiciária e militar, fica fácil usar qualquer situação para benefício individual.

O aparelho mental que fomenta dúvidas e desencadeia reações negativas, pode vir de um raciocínio plenamente lógico, dentro da realidade na qual o ser humano dono daquele intelecto vive, e para isso nem precisa estar em conformidade com a realidade dos fatos.

Coadunadas e visando o bem comum, a lógica e a realidade das informações podem ser extremamente úteis, reunindo pessoas em prol do benefício de uma comunidade e até o crescimento da sociedade. Contudo, aqueles cuja finalidade é egoísta, podem usar tanto aquele que fomenta as dúvidas quanto aquele que visando o bem de todos procura melhorar a sociedade.

Essas pessoas que estão em todos os seguimentos, e por isso na segurança pública e nas universidades não deixariam de estar, amputam a habilidade de caminhar da sociedade, pois são traças que corroem a mente.

Esferas de Exposição

Quando Daniel Menezes responde aos comentários referentes a um texto postado pelo Conselho Editorial Carta Potiguar, ele tenta expressar o conjunto de pensamentos do Conselho, que elaborou o artigo visando tão somente buscar explicações para fatos cuja repercussão poderia ser utilizada de forma incorreta.

Nunca foi intenção do Conselho, e está bem claro no texto que não cita nomes, não relaciona famílias, não expõe pessoas, profissionais ou entidades particulares, realizar nenhuma espécie de exposição pública. Por isso mesmo, que com todos com quem os diversos membros do Conselho conversaram antes de se reunirem e escreverem um texto único, não foram mencionados.

A Carta Potiguar não fomenta e nem cobra esclarecimentos da família, ela está protegida por uma carta maior, a Carta Magna, e não é esse veículo de análise e comunicação que ousará desafiar tamanho estatuto. Tampouco questiona o médico, cujo trabalho é protegido pelo sigilo e pela vontade firmada de forma bela através do juramento de Hipócrates é que leva a sério uma regra do comportamento daquele que deseja curar alguém.

Portanto, como já disse Alyson Freire ao comentar o texto, é necessário possuir “a sensibilidade de poupar a família da pressão política e das reivindicações por esclarecimentos”.  Os pontos controversos devem e precisam ser explicados. Cabe sim, aos estudantes, professores e toda a sociedade promoverem ações que assegurem esses esclarecimentos.

Em se tratando de esferas de exposição, a Carta Potiguar apenas cobra de quem já possui também o dever de manter público todos os seus atos, ou seja, a administração pública, cujo intento maior, que deveria ser proteger o bem social, fica comprometido ao não externar um assunto grave e que não tardaria a ser levado a público, afinal, o ambiente universitário é o meio próprio e adequado para os debates e para a discussão de assuntos polêmicos.

Todas as bocas que clamam e todas as vozes que calam

A dúvida suscitada no binômio cultura/civilização contraposto ao da ordem/força é o papel desempenhado pela universidade no caso do processo contra os professores de engenharia, e mais atualmente o caso do aluno. No trato com este último, se a lide estaria ligada a uma denúncia devido a um disparo de arma de fogo no campus.

Dar sentido ao clamor público que quer entender o papel da instituição de ensino é algo ousado. Nenhum jornal publicou antes o que o Conselho Editorial Carta Potiguar escreveu com todas as letras, ou seja, dar voz a todas as bocas que clamam pelo esclarecimento.

Nenhuma condição clínica é questionada e nem medidas médicas, apenas aquilo que necessita estar no consciente comum do ambiente acadêmico antes que teorias e mais teorias sejam elaboradas e pessoas de intento duvidoso se aproveitem delas para fins políticos.

Concretamente, respeitando, compreendendo e distinguindo a dimensão privada da situação (foro íntimo) e a pública (foro aberto), cada um na legitimidade de seus interesses, o clamor popular demanda saber:

– Como está o aluno, como estão suas condições reais e como está o respeito à sua dignidade, nada de foro íntimo é aqui indagado;

– Se há uma ameaça legitimadora de qualquer ação policial contra o aluno;

– Se há relação entre o ocorrido com o aluno e a ameaça;

– Qual a abrangência da competência da segurança interna da UFRN, já que um membro da mesma já efetuou disparo de arma de fogo no interior no campus;

– Se dentre as competências da segurança interna, que é uma empresa contratada para isso, existe o poder de prisão (além daquele que assegura que qualquer um pode dar voz de prisão em caso de delito em flagrante) e também de conduzir à qualquer que seja o estabelecimento:

– Se, diante de tal exposição, não seria melhor, para clarear os fatos, tornar público todo o processo de contratação da empresa de segurança, até mesmo por respeitar o princípio da publicidade da administração pública;

E como no texto publicado anteriormente, todas as bocas que clamam, reiteramos que demandam explicações da Reitoria da Universidade, que seria dentre todas as vozes que calam a primeira a quebrar o silêncio.

O Grito Silencioso

A voz do povo ou o clamor público pode ser colocado num único tom. A Carta Potiguar através de Daniel Menezes, Alyson Freire, David Rêgo, Ivenio Hermes, Thiago Leite, enfim, qualquer um dos membros do Conselho Editorial, estará sempre disposto, cada um dentro de sua área de entendimento maior, a dedicar tempo e entusiasmo para manifestar a vontade de muitos através daquilo que é publicado.

O que é publicado na Carta Potiguar e também em todo outro veículo que visa repassar informações, opiniões e análises, pode ser usado com intenções pouco louváveis.

Usar informações sobre segurança pública, nesse caso, a segurança interna de uma Universidade Federal, que aparentemente extrapolou para esferas desconhecidas e cujas dúvidas causam uma sensação de insegurança no ambiente acadêmico que é vetorialmente contrária ao que a UFRN quer suscitar. São as mentes brilhantes que habitam no nascedouro do conhecimento que precisam de proteção e não de insegurança.

Sem a presença de responsáveis dignos, as traças que corroem a mente se aproveitarão, ou já estão se aproveitando, para utilizar o clamor público na vertente política, se dar importância legítima às condições reais do aluno e buscando no fato real e no imaginário, fundamentos para promover o agito político que amplia a sensação de insegurança, enxerta as mentes com novas teorias conspiratórias e fomenta a revolta e a indignação.

A ponderação e o respeito à intimidade deveria frear qualquer ser humano quanto aos meios de atingir seus objetivos, pois em que seja justificada pela história, até hoje a raça humana não se convence de que nem sempre os fins justificam os meios.

O clamor popular na segurança pública não pode ser um grito silencioso. Ele deve gerar incômodo no Legislativo, no Judiciário e Executivo para cobrar dessas esferas do poder uma ação mais célere, justificada e justa que vise proteger e promover a segurança social. Esse clamor usado com fins políticos, procurando angariar cargos e funções, destituir para conquistar ao invés de vencer pela supremacia do talento, apenas oportuniza mais um questionamento: quem assim age é digno de confiança?

Conclusões Primárias

Ainda não há o que concluir nesse caso, porém, há muito que pedir.

Que os esclarecimentos devidos fossem feitos e que a privacidade familiar fosse respeitada, que houvesse explicações e que dentre elas, uma que seria a melhor de todas, a que apaziguasse, confortasse e desse novo norte para a vida do estudante, cuja mente pudesse voltar a brilhar e sua boa obra iluminasse mudanças, que ele venha a ser mais uma estrela no céu da cidade do Natal.

 

O artigo acima é uma referência direta ao texto:

CONSELHO EDITORIAL CARTA POTIGUAR (Brasil Rn Natal). UFRN, Internamento e Autoritarismo. Revista Carta Potiguar. Disponível em: <http://bitly.com/XOloY3>. Acesso em: 29 out. 2012.

 


¹Ralph Waldo Emerson (25 de maio de 1803, Boston, Massachusetts, EUA – 27 de abril de 1882, Concord, Massachusettes) foi um famoso escritor, filósofo e poeta dos Estados Unidos da América.

Ivenio Hermes

Escritor Especialista em Políticas e Gestão em Segurança Pública e Ganhador de prêmio literário Tancredo Neves. Consultor de Segurança Pública da OAB/RN Mossoró. Integrante do Conselho Editorial e Colunista da Carta Potiguar. Colaborador e Associado do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Pesquisador nas áreas de Criminologia, Direitos Humanos, Direito e Ensino Policial. Facebook | Twitter | E-mail: falecom@iveniohermes.com | Mais textos deste autor

4 Responses

  1. Túlio Madson disse:

    Meus parabéns Ivenio, o texto é de uma lucidez e profundidade admirável, deixou bem clara a intenção do conselho em relação ao texto citado, não deixou dúvidas de que a intenção foi dar voz a “todas as bocas que clamam” por um esclarecimento do ocorrido, e acredito que o texto contribuiu e continuará contribuindo para que de fato ele seja esclarecido.

    • Ivenio Hermes disse:

      Caro Túlio. Polemizar e incitar é fácil e qualquer um pode fazer, mas entender e reconhecer é para poucos. Você não somente entendeu como externou seu reconhecimento, algo mais difícil ainda de ser encontrado. Obrigado pelo reconhecimento.

  2. Carlos disse:

    Reconhecimento nesse caso seria signo de respeito legalista e afirmação tácita de leis e códigos que podem ser julgados indignos? Isentar-se de questionar a validade do discurso psiquiátrico para interditar as pessoas, trancafiá-las e drogá-las no ritmo ditado pela indústria farmacêutica, seria isso também algo “crítico”, como aparece no jargão desse veículo de imprensa? Por que os envolvidos, a família e a universidade, em especial, não tentaram algo menos terrorista e traumático do que trancafiar o jovem? O fato mesmo de tudo isso tentar se manter às escondidas, com o discurso de respeitar a família, seu foro íntimo, é de uma crueldade insuportável, para quem possui a clareza dos motivos políticos em jogo no aprisionamento temporário do rapaz. Se não queriam escandalizar a sociedade, se não existiam o interesse de traumatizar e fazer sofrer o estudante em questão, por que diabos fizeram o pior antes de tentar outras vias? Isso é um absurdo sem tamanho e uma vergonha a mais para as instituições envolvidas. A Carta Potiguar, de veículo crítico que desejou ser um dia, tem se tornado a passos largos um veículo extremamente legalista, só pergunta e questiona nos termos da lei, das doutrinas que nada fazem pensar e encarceram o pensamento e a crítica radical em suas grades de códigos reificados pelos escrevinhadores dessa alternativa rebenta agraciada pelo senso comum.

  3. Samihr disse:

    Muito bom texto. Acho que a UFRN deveria tornar os fatos relacionados a esse caso públicos, afinal é como diz o ditado popular: quem não deve, não teme.

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