Rio Grande do Norte, sexta-feira, 19 de abril de 2024

Carta Potiguar - uma alternativa crítica

publicado em 31 de outubro de 2012

A Arte do Conhecimento

postado por Ivenio Hermes

Análise do Texto do Portal JH sobre Internação de Aluno

 

Por Ivenio Hermes

“Há conhecimento de dois tipos: sabemos sobre um assunto, ou sabemos onde podemos buscar informação sobre ele.” Samuel Johnson

A Boa Prática

Em determinada ocasião, num texto sobre emoções, descrevi o sentimento que me motiva a escrever, e hoje, nesses últimos dias, colegas editores da Carta Potiguar, fomos instados a escrever sobre diversos assuntos, dentre eles dois que estão incinerando as emoções no meio acadêmico.

Cabe esclarecer que não somos repórteres na Carta Potiguar, eventualmente, no entanto, chegaremos também nessa vereda do jornalismo, acredito nisso, e com compromisso com a verdade. Portanto, nosso trabalho é o estudo de informações de forma detida e repensada, buscando a opinião de especialistas mais apropriados quando o assunto do qual tratamos incide sobre uma área de perícia com a qual não estamos confortavelmente inteirados.

Em forma de análise, escrevemos artigos que busquem o bem da sociedade, a evolução do Estado Democrático de Direito e ampliação da liberdade de expressão de todas as formas que não firam o direito dos outros.

Portanto, o texto seguinte, segue a mesma linha, sempre buscando o conselho de Samuel Johnson, afinal, escrever a verdade na prática do bem é também a boa prática da arte do conhecimento.

Mãe de universitário internado nega intervenção da UFRN

“A má informação é mais desesperadora que a não-informação.” Charles Colton

1-Bonde sem freio na contramão

Infelizmente não há como enxergar boas intenções nessa matéria. A chamada (ou manchete se quiser chamar assim) já claramente remete à exposição da vida privada do aluno que antes foi tão cobrada por familiares e agora se estampa num texto cujo objetivo é desvincular o ocorrido com o universitário dos possíveis boatos na UFRN.

A fundamentação inicial diz: “Desde esta segunda-feira (29), circula nas redes sociais, Facebook e Twitter, a informação de que o estudante universitário…” A base seria uma teia de fofocas que estaria circulando nas redes sociais e o jornal quer credibilidade num texto assim. O fato é que tudo que foi iniciado na Carta Potiguar não mencionou e nem pincelou sequer o nome da família Souto, e essa matéria precisava começar logo assim.

A partir daí tudo aquilo que foi pedido por um familiar que não fosse feito pela Carta Potiguar, até mesmo porque não pagamos por nossas matérias e escrevemos aquilo que acreditamos, foi feito por esse outro jornal. Todo o relato descrito, da hospitalização, da possibilidade da atuação da Polícia Federal, do tratamento do jovem e brilhante universitário, tudo isso já era de domínio dos editores, cada um com sua parcela de informação, que não publicada por simples motivos: proteção e resguardo da família.

A pauta levantada que buscava esclarecimentos “da UFRN” e nunca “da família”, o que nesse caso, essa matéria do Portal JH foi um bonde sem freio na contramão da estrada de esclarecimentos que se pedia.

2-Diapasão da Desinformação numa Pedra Lisa

Agora, o que foi solicitado pela Carta Potiguar ainda continua sem explicação e isso é cabível de citar para não estender excessivamente o texto. No entanto, o que foi protegido, está exposto:

Nome da mãe, profissão, nome do aluno, que ele possui irmãs, o curso que frequenta e outras informações completamente desnecessárias e que visam apenas vender desinformação ou não-informação ou qualquer coisa que seja esse texto, aproveitando a onda de boatos que foram repercutidos nas fontes de informações do jornal, as redes sociais.

Novas teorias agora foram disseminadas:

– Teoria do Combate Antiterrorismo

A Polícia Federal não é um órgão conhecido por se envolver com boatos. Uma equipe de investigação não precisaria visitar a casa da mãe do rapaz e mexer nas coisas dele, e ainda externar para a família que estavam ali numa possível investigação de antiterrorismo.

Não é possível crer que se publique que uma Polícia de alta eficácia daria um chute no vazio assim, aliás, a Polícia Federal não cometeria um erro procedimental de vazar detalhes de uma investigação de segurança nacional para a família de um investigado.

O relato piora quando a afirmação daquela mãe não deixa sombra de dúvidas que não fora visitada por agentes federais, que são profissionais capazes e em se tratando do combate ao antiterrorismo, o caráter sigiloso de uma operação é essencialíssimo, mas ela afirma “Pensaram que ele fosse um psicopata ou um terrorista, mas ele é do bem. Ele é islâmico, foi criado dentro da igreja e não tem nenhuma ligação com grupos terroristas, como comentaram”;

– Teoria da Duvidosa Atitude Familiar

O texto contraditório suscita dúvidas sobre a vontade da mãe de limpar qualquer mácula que pese sobre a imagem do filho quando ela expõe detalhes da intimidade do rapaz que não cumprem esse objetivo. Por outro lado, há detalhes implícitos e explícitos de quem o texto visa resguardar a imagem.

a) “Ele foi internado há um ano e sete meses, fugiu do Centro de Atenção Psicossocial (Caps) e não deu continuidade ao tratamento.” O Caps possui equipe multidisciplinar para orientar sobre como proceder em casos assim, porém, nada foi mencionado do motivo da permanência dele sem tratamento, estudando, elaborando trabalhos, deixando sua doença se agravar, até agora;

b) “Eu quem procurei, desesperada, a reitora da UFRN para pedir ajuda psiquiátrica e eles não me obrigaram a nada.” Ela revela isso depois de expor a vida do filho;

c) A reportagem culpa a manifestação Revolta do Busão com fator desencadeador do processo mental e “A partir daí foi que tudo começou. O incidente do tiro veio agravar ainda mais a situação” completa a mãe. Uma tentativa de imputar ao movimento social, a culpa inicial pela doença do rapaz e não a falta de tratamento do qual ficou por tanto tempo afastado, sem medicação adequada, sem observação psiquiátrica rotineira e suscetível a qualquer evento cotidiano atípico (pois seu quadro clínico informado pela mãe dá margem para isso) para agravar seu estado.

– Teoria da Incompetência Médica

É descabida a teoria de desencontros sobre as informações médicas. O relacionamento médico-paciente é inviolável. Nesse caso nada deveria ter sido mencionado, colocando em questão competência, credibilidade ou intenção daquele que somente busca a saúde do jovem universitário.

Expor a ficha médica do rapaz com certeza não foi ideia surgida do médico, da equipe médica, ou como se apresente a junta responsável pelo tratamento.

Entretanto, o texto põe em xeque a credibilidade da mãe comparada a do psiquiatra e diretor do Hospital Severino Lopes, pois o médico afirma que os critérios para internação de algum paciente são determinados pelo psiquiatra e pelo Hospital. O Jornal ainda publica que o médico disse, referindo-se à internação de um paciente, que “Essa não é uma prática existente. A internação é uma indicação essencialmente médica”. Se o rapaz não estava em crise, sendo violento, nem sob a indicação médica, como a mãe conseguiu convencer a Polícia Militar a aceitar uma autorização dada por ela para deter, conduzir e levar seu filho para o hospital psiquiátrico? Mais teorias…

Não adianta mais passear sobre o texto do Portal JH que foge de sua finalidade informativa, batendo forte o diapasão da desinformação numa pedra lisa de argumentos e faz seu som atingir quem não ler com atenção.

O Momento de Calar

“Quem não conhece os fatos não devia fazer boatos.” Lici Cruz

Não há mais nada a ser mencionado que não incorra no campo da especulação, e de especulação aqui somente foi analisado aquilo que o texto do Portal JH suscitou e que infelizmente, foi desnecessário. Todos os envolvidos e que possuem conduta íntegra e ilibada nesse fato não querem seus nomes escritos e publicados por aí, pelo contrário, devem prezar pelo esclarecimento correto e pelos meios adequados de informação pública.

Mais importante do falar, é saber o momento de calar.

REFERÊNCIAS:

PORTAL JH (Brasil RN Natal). Mãe de universitário internado nega intervenção da UFRN. O Jornal de Hoje On Line. Disponível em: <http://migre.me/btmvT>. Acesso em: 31 out. 2012.

Ivenio Hermes

Escritor Especialista em Políticas e Gestão em Segurança Pública e Ganhador de prêmio literário Tancredo Neves. Consultor de Segurança Pública da OAB/RN Mossoró. Integrante do Conselho Editorial e Colunista da Carta Potiguar. Colaborador e Associado do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Pesquisador nas áreas de Criminologia, Direitos Humanos, Direito e Ensino Policial. Facebook | Twitter | E-mail: falecom@iveniohermes.com | Mais textos deste autor

2 Responses

  1. Lucila disse:

    Tenho acompanhado toda essa questão, pela Carta Potiguar. Conversei sobre isso com militantes da luta anti-manicomial… Vocês já os procuraram em Natal? Mesmo estes entendem que, em alguns momentos de uma doença psíquica, uma internação é necessária, como em qualquer doença crônica. É um processo violento? É. Como qualquer internação. Com relação a relação entre os movimentos que o rapaz se encontrava atuando e o desencadeamento da crise, mesmo uma doença de fundo primordialmente orgânico pode ser agravada por estresse. Agora, todo esse debate é importante para suscintar ums discussão muito restrita no Brasil, que só surge quando ocorrem tragédias ou quando bate a nossa porta, como no caso desse rapaz, dentro do círculo sócio-político da Carta Potiguar. A Carta Potiguar já se perguntou como andam as coisas no atendimento psiquiátrico público e privado em Natal?

  2. Civone Medeiros disse:

    O PIOR é que o DONO do JORNAL de HOJE é PROFESSOR de ÉTICA da UFRN! Que ÉTICA???

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