Rio Grande do Norte, quinta-feira, 25 de abril de 2024

Carta Potiguar - uma alternativa crítica

publicado em 9 de dezembro de 2012

O lulismo existe?

postado por Daniel Menezes

Alan Lacerda é o cara que mais saca de política que conheço. Para o bem da blogosfera, além da docência, o professor da UFRN também está com um blog, que é pura análise.

Aproveito a oportunidade e veiculo na Carta um de seus textos.

Vale a pena conferir!

 

Do Blog do Professor Alan Lacerda, lordedaniel.blogspot.com.br

 

A pergunta no título do artigo pode parecer uma provocação sem fundamento. Afinal, como não poderia existir o fenômeno da liderança do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva (2003-10)? Como não reconhecer a influência pervasiva de suas orientações no atual governo e a força de sua presença nas decisões do PT?

Na interpretação mais favorável, o lulismo é visto como o resultado de políticas direcionadas para os mais pobres que garantiram a ampliação da classe média e reduziram a pobreza extrema a níveis recordes. Esse movimento criou um laço de lealdade de vasta camada da população com Lula, sem que fosse realizado um rompimento de seu governo com políticas de contenção fiscal e inflacionária.

Na interpretação mais crítica, o lulismo é visto como perigosa ressurgência populista, ao fomentar o culto da personalidade do ex-presidente e a complacência com seus erros. A relativa “ortodoxia” no campo econômico mascararia a reprodução proto-autoritária do poder do PT e de seu líder maior via políticas assistencialistas.

O resultado, em ambas as visões, está na própria reeleição do presidente em 2006 e de sua candidata a presidente em 2010 por margens expressivas.

E, no entanto, Lula tem perdido várias eleições não-presidenciais nas quais compareceu em atos de campanha. Exemplos não faltam, inclusive em cidades nas quais o presidente foi bem votado quando de sua reeleição: Natal com Fátima Bezerra (PT) em 2008, Manaus com Vanessa Grazziotin (PCdoB) em 2012. Toda a sua liderança não impediu a vitória em 2010 do PSDB em Minas Gerais e São Paulo.

Estes fatos sugerem que o conceito de lulismo padece de fragilidade conhecida: não podemos mensurá-lo com nenhuma precisão. Há cidades e estados em que Lula fez campanha e ganhou; há cidades e estados em que Lula fez campanha e perdeu. O que podemos de fato medir? O que podemos de fato comprovar que existe? A elevada avaliação positiva do presidente Lula ao longo de seu governo, presente nas séries históricas de institutos como o Ibope, Sensus e Datafolha. E este é um indicador clássico de análise política, com o qual é possível, em conjunto com a situação macroeconômica, compreender resultados eleitorais.

O irônico poderia dizer, imitando conhecido sotaque estrangeiro existente no Brasil: “lulismo, isso non ecziste; presidente bem avaliado, isso ecziste”.

Daniel Menezes

Cientista Político. Doutor em ciências sociais (UFRN). Professor substituto da UFRN. Diretor do Instituto Seta de Pesquisas de opinião e Eleitoral. Autor do Livro: pesquisa de opinião e eleitoral: teoria e prática. Editor da Revista Carta Potiguar. Twitter: @DanielMenezesCP Email: dmcartapotiguar@gmail.com

One Response

  1. Yuri Cunha disse:

    De fato, uma hashtag #mexeucomlulamexeucomigo é resultado de boas avaliações de governo, não de um fanatismo que enxerga denúncias políticas como ofensas pessoais.
    Só que não.

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