Rio Grande do Norte, quinta-feira, 25 de abril de 2024

Carta Potiguar - uma alternativa crítica

publicado em 14 de dezembro de 2012

A desmedida margem de lucro de alguns setores do Mercado brasileiro

postado por David Rêgo

“O exemplo do Corolla foi o mais citado: o carro custa US$ 16,2 mil, nos Estados Unidos, US$ 21,6 mil na Argentina e US$ 28,6 mil no Brasil”.

Poderíamos comprar mais Corolas. Bastava para isso que alguns empresários brasileiros lucrassem menos. Lucros altos nem sempre são motivos de festa. Eles podem significar também concentração de renda. Não é só o consumidor o único lesado com os valores de carros (e outras coisas) praticados no Brasil. O trabalhador também perde. Lucros altos com baixos salários significa dizer que o empresário passa bem menos do que deveria ao trabalhador (se comparado com países capitalistas de sucesso como os EUA, por exemplo), tolhendo seu poder de consumo e apenas aumentando o poder econômico (e consequentemente político) de alguns poucos.

No Brasil, ao criticar algo, sempre começamos pelo Estado ou pelo povo. A imprensa sempre coloca a culpa de todo “desastre” no Estado ou no povo. A culpa de tudo é sempre dos impostos (Estado) e da corrupção (indivíduo desonesto). As críticas feitas sempre tentam “invisibilizar’ a participação do Mercado no processo de exploração da população e surgimento de crises.

Em artigo publicado no dia 13/12/2012, sobre o valor dos carros no Brasil, o portal Uol notícias (artigo completo aqui) nos faz a seguinte colocação:

Estudo do Sindipeças revela que o custo de produção no Brasil é de 58% do preço final do carro, contra a média mundial de 79% e chega a 91% nos EUA.
– Fabricantes de autopeças revelam em Audiência Pública que o Lucro Brasil é de 10%, contra 5% no resto do mundo e 3% nos EUA.

Sempre costumamos criticar o Estado pela cobrança de impostos, mas nunca criticamos os empresários (Mercado) pela margem de lucro utilizada, que no Brasil é definitivamente muito elevada.

TabelsNão é apenas o Estado que explora o cidadão. Alguns empresários o fazem da mesma forma, no entanto, são invisibilizados no processo de aumento no valor dos produtos e raramente são colocados como o principal alvo das críticas. Temos marchas e correntes de email contra a corrupção e pela diminuição dos impostos. Mas nos negamos a fazer o mesmo quando o assunto é criticar a margem de lucro praticada por alguns empresários.

A crítica ao mercado não é algo a ser desconsiderada.

 

David Rêgo

Sociólogo, antropólogo e cientista político (UFRN). Professor do ensino médio e superior. Áreas de interesse: Artes marciais, política, movimentos sociais, quadrinhos e tecnologia.

2 Responses

  1. ewertonalipio disse:

    Mais um fator explica os preços dos carros no Brasil: o protecionismo. E os iluminados do governo ignoraram que as tarifas protecionistas encareceriam a importação de bens de capital, o que encareceu a produção de automóveis, uma vez que as montadoras tiveram de recorrer a fornecedores nacionais
    (http://economia.estadao.com.br/noticias/economia+geral,producao-de-veiculos-recua-53-em-novembro-diz-anfavea,137331,0.htm). Também não levaram em
    consideração que juros artificialmente baixos e redução do IPI não são substitutos para uma população altamente endividada e com recorde de inadimplência. Sim, as empresas se beneficiam do protecionismo, mas é o Estado quem de fato as protege, selecionando ganhadores e perdedores, enquanto se isenta de toda a culpa. Se qualquer movimento contra o lucro quisesse reivindicar produtos de qualidade a preços baixos, estaria a defender o verdadeiro livre comércio. Além disso, tem aquela turma meio endinheirada que não sabe bem o que comprar mas
    acha que está comprando bem porque está pagando caro (www.forbes.com/sites/kenrapoza/2012/08/11/brazils-ridiculous-80000-jeep-grand-cherokee/).

    Mas agora caio em preconceito ou “complexo de vira-lata”…

    Sds,

    Ewerton Alípio

  2. Lucas disse:

    Ewerton, vamos la, protecionismo nos setores da economia que nao tem competencia para concorrer com produtos do exterior existe em todos os países do mundo, concordo que pode haver formas diferentes de atual no setor, e cito exemplos, a Coreia resolveu intervir em alguns setores que eles consideraram estrategicos, como carros e eletroeletronicos, dai apareceram a kia, hyundai, samsung e lg, desenvolvendo e investindo nessas companhias para que elas crescecem, o Brasil resolveu intervir simplesmente exigindo que partes dos carros de montadoras estrangeiras utilizassem produtos nacionais sem que isso significasse desenvolvimento tecnologico para o país, nao concordo com essa forma de atuação, mas que o estado pode e deve intervir sempre que considerar um setor estrategico para o país, que signifique investimento no desenvolvimento de tecnologia para o país isso eu acredito, porque assim se construiu o desenvolvimento. Com relação ao lucro brasil, isso existe, e vem de como o brasileiro se relaciona com o consumo, aqui nao basta ter um produto, ele tem que ser exclusivo, de pouco acesso, e ai o brasileiro estupidamente aceita pagar um preço maior do que ele realmente vale, por isso independente de livre concorrencia ou nao, os nossos espertos empresarios e empresarios do mundo inteiro ja perceberam que no brasil o produto nao precisa ser bom, basta ser caro para ser exclusivo que dai vai vender feito agua, essa é nossa cultura e dai vem o texto daquela Danusa Leao da perda da exclusividade com o acesso ao consumo.

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