Rio Grande do Norte, sexta-feira, 29 de março de 2024

Carta Potiguar - uma alternativa crítica

publicado em 22 de janeiro de 2013

Django Livre

postado por Mario Rasec

DjangoRemetendo aos filmes de Sergio Leone e a todo o estilo característico do faroeste spaghetti, Quentin Tarantino faz mais uma obra que justifica sua fama de ser um dos melhores diretores de cinema da atualidade. Sua ousadia estética e narrativa (onde longos diálogos, aparentemente despretensiosos, acabam geralmente em banhos de sangue) fazem do seu nome uma marca registrada que ultrapassa os próprios gêneros que ele homenageia.

Em Django Livre ele não somente faz um elogio ao bang bang (o próprio nome Django é retirado do western italiano de 1966, dirigido por Sergio Corbucci), como resgata um pouco a história dos negros norte-americanos na época da escravidão no sul dos EUA, antes da guerra civil. Embora este resgate histórico seja fantasiado pela figura do herói Django (Jamie Foxx) e pelos exageros da narrativa ficcional, nem por isto ele deixa de ser honesto, principalmente nos diálogos que denunciam a estupidez e violência do homem branco. E, em mais uma história de vingança contra a opressão sobre uma minoria desde o visceral Bastardos Inglórios (2009), Tarantino parece se “conter” ao pausar um pouco suas extravagâncias cinematográficas em um certo momento do filme (quando surge o cruel Calvin Candie, interpretado por Leonardo Dicaprio), e se entrega a toda uma montagem de cenário, permeado de longos diálogos, para nos surpreender novamente com um violento desfecho.

A rica trilha sonora é outra marca registrada das suas obras. E nesta não poderia faltar ousadia. Chegando ao ponto de usar até o hip hop como tema musical para algumas cenas, ele faz com que o filme pareça atemporal, onde o que importa é a vingança do homem negro contra um passado de brutalidade. Há, em uma das cenas do filme, uma chacota com a própria Klu Klux Klan, num momento tão hilário que poderia ter sido escrito pelos comediantes ingleses do saudoso Monty Python.

Nada em Tarantino é por acaso. Desde uma foto de cowboys em ruínas da Grécia antiga à própria referência do nome de uma personagem a um mito nórdico. Pois, Django Livre não deixa de ser sobre um herói mitológico, um herói da mitologia dos filmes de faroeste.

Django Livre pode não ser o melhor filme de Tarantino. Mas é, inconfundivelmente, puro Tarantino!

Django (Jamie Foxx) e Django (Franco Nero)

Django (Jamie Foxx) e Django (Franco Nero)

Ps: O antigo Django, Franco Nero, faz uma ponta no filme.

 

Ficha técnica:

Título original: Django Unchained


País e ano: EUA , 2012

Direção: Quentin Tarantino

Roteiro: Quentin Tarantino

Elenco:  Jamie Foxx, Christoph Waltz, Leonardo DiCaprio, Kerry Washington, Samuel L. Jackson, Zoë Bell, Kerry Williams, James Remar

Mario Rasec

Designer gráfico, artista visual, ilustrador e roteirista de HQs. Autor de Os Black (quadrinho de humor) e de outras publicações.

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