Rio Grande do Norte, quinta-feira, 18 de abril de 2024

Carta Potiguar - uma alternativa crítica

publicado em 3 de março de 2013

Fernando Lucena e Hugo Manso precisam se mexer

postado por Daniel Menezes

A política não se faz apenas com bom coração, com boas intenções. É preciso ter “tino”, senso de proporção, aliado a um projeto político consistente, objetivos claros a serem atingidos. É o que parece faltar, até pelos menos por enquanto, aos vereadores do PT na Câmara Municipal do Natal.

O fato é que Fernando Lucena e Hugo Manso ainda não se definiram, ou utilizam a falta de posicionamento como estratégia parlamentar. A posição de independência salientada discursivamente pelo primeiro não encontra amparo em sua atuação prática. Ser independente implica – eu entendi assim – criticar o prefeito naquilo que discorda e apoiar o líder do executivo municipal quando suas ações forem ao encontro dos pontos de vista comungados. Mais de dois meses de passaram e não há crítica, nem muito menos o endosso daquilo que está dando certo.

Já o segundo carece até de uma definição preliminar. Ligado a deputada federal Fátima Bezerra, Hugo caminha, aparentemente, com uma hexis mais governista. Apesar de também tocar na noção de independência, sua postura é a de quem vai fazer parte da base do prefeito. E não há nenhum problema nisso (só para a disputa dentro do partido). No entanto, assim como o seu companheiro de legenda, não apresenta substância.

Lucena e Manso, quer seja na base ou não, devem alimentar propositivamente o discurso travado na arena pública. Apesar do pouco tempo de gestão, não está faltando questão relevante. A prefeitura lança diretrizes de planejamento, adota medidas em relação à educação, saúde, coleta de lixo, copa do mundo em Natal, mobilidade urbana, etc.

Há a produção de um vácuo (algo que a política não admite!), cenário que vem sendo bem aproveitado por Sandro Pimentel (PSOL) e Amanda Gurgel (PSTU). Os dois já propuseram concurso público para a Câmara Municipal do Natal – algo simples, mas importante –, criticaram os contratos de urgência que vêm sendo fechados pela Prefeitura e o sistema de contratação das empresas terceirizadas na pasta da educação, com vícios semelhantes aos apresentados pela gestão educacional anterior (são as mesmas organizações).

Há muito de moralismo e jogo de cena por trás da atuação de Sandro e Amanda. Mas performances à parte é possível ver ação.

À Lucena parece faltar consistência analítica. Aliado a um certo clientelismo tipicamente de esquerda, se contenta com falas de efeito estampadas no Jornal de Hoje, periódico que ele tem livre trânsito.

À Hugo sobra medo. Preocupado em se reeleger, se centra em ocupar espaços para fortalecer suas bases. Algo normal. Mas é possível criticar o executivo municipal, sem estabelecer uma relação enfrentamento. Basta, por exemplo, trabalhar legislativamente para criar mecanismos (ou fortalecer os existentes) e fiscalizar os contratos de urgência firmados (apenas a SEMSUR contratou sem licitação, por quase R$ 5 milhões, empresas para serviço de poda e organização de canteiros, atitude temerosa diante da situação adversa na qual se encontra a prefeitura).

E não é só montando uma equipe que a reeleição vai acontecer. O tempo dos votos vinculados a uma liderança (comunitária, política) está passando. A eleição anterior mostrou que a “escolha espontânea” para o legislativo é cada vez mais forte. A nova classe média, com aumento da escolaridade, não entra facilmente nesses esquemas de arregimentação de voto. Candidaturas azeitadas não lograram êxito em sua jornada em decorrência dessas mudanças. Daí a necessidade de imprimir uma marca. De firmar um discurso.

Há muito tempo ainda. Estamos no início da legislatura. Mas vale lembrar os ensinamentos do economista do planejamento Carlos Matos. Quando menos ele imaginou, diz o chileno em sua obra , “Adeus, senhor presidente” (ele relata a experiência como ministro do governo Salvador Allende), quatro anos haviam se passado e muito pouco do que foi sonhado implementado.

Fernando Lucena e Hugo Manso precisam se mexer. Isto se quiserem afirmar um projeto consistente de esquerda para a cidade, se não quiserem ser apenas mais um.

Daniel Menezes

Cientista Político. Doutor em ciências sociais (UFRN). Professor substituto da UFRN. Diretor do Instituto Seta de Pesquisas de opinião e Eleitoral. Autor do Livro: pesquisa de opinião e eleitoral: teoria e prática. Editor da Revista Carta Potiguar. Twitter: @DanielMenezesCP Email: dmcartapotiguar@gmail.com

4 Responses

  1. Por que a esquerda não se unem e fazem um bloco?Sendo um diferencial na Câmara Municipal.Mas a esquerda continua como no passado quando se dizia que só se unia na cadeia.

  2. Há tempos que o PT não é esquerda.

  3. Lucas disse:

    Se tem uma coisa com que CEA nao vai precisar se preocupar pelo menos ate o fim de 2014 é com cobranças do pt, eleger fátima senadora e quem sabe brigar pra ver mineiro deputado federal, é a unica coisa que passa pela mente dos petistas atualmente,a ultima coisa que se pode esperar do pt é que faça politica de verdade, isso o partido abriu mao pra se tornar mais um partido de bandidos que so pensa nas proximas eleições como fazem nossos bons e velhos caciques do estado. E so para constar, antes mesmo do mandato da amanda começar, voce fez severas criticas de que a unica proposta de amanda seria sua doação de salarios, lembra? Que tal no minimo um bom pedido de desculpas pela forma como ela pauta o mandato, sendo uma das unicas parlamentares a executarem a função para o qual foram eleitos que é fiscalizar e cobrar do prefeito.

  4. Caio Cesão disse:

    E o mais engraçado de tudo é chamarem o PT de esquerda…

    Hugo Manso tem se movido muito procurando apoio de Henrique Alves, fiquem tranquilo.

    Não me surpreenderá se um dia ele pedir apoio do José Agripino, já que a aliança PT e DEM tem se tornado cada vez mais comum em alguns interiores.

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