Rio Grande do Norte, quarta-feira, 24 de abril de 2024

Carta Potiguar - uma alternativa crítica

publicado em 15 de julho de 2013

Bonecos de Fantoches

postado por Saskia Sandrinelli

tumblr_mp9qneAH8K1r1thfzo8_1280Publicado originalmente no Blog do Ivenio Hermes

A política conciliatória que pretendia superar as divergências ideológicas entre as classes sociais não foi suficiente para trazer a tão sonhada harmonia social, que apaziguaria de vez todos os conflitos que pudessem surgir em protesto contra a ordem vigente. Pensava-se que o conceito de aldeia global supriria definitivamente todas as necessidades sociais do homem. No entanto, não foi isso que ocorreu.

Assim, como no continente europeu, nosso país vive um clima de insurreição popular que teve como ponta pé inicial alguns manifestos na cidade de Natal, capital do Rio Grande do Norte, em protesto contra o aumento das tarifas dos transportes coletivos. Os acontecimentos causaram reflexos em outros lugares do Brasil e desencadeou movimentos populares que levantaram outras bandeiras. Isto é, a luta não é mais somente por causa do preço das passagens. O fim da corrupção e outras cobranças na prestação do serviço público estão na lista dos manifestantes.

O fato está chamando a atenção dos meios de comunicação, assim como também de pessoas de vários segmentos da sociedade. Francisco Ivanaldo, porteiro de um condomínio, diz que apoia as manifestações de corpo e alma, concordando até com os atos de depredação. Em sua opinião, o povo deve pressionar os governantes, já que se a classe política não encontrar nenhum tipo de censura, nunca haverá preocupação em resolver as questões sociais. Anício Alexandre, instrutor de trânsito lamenta pelos danos causados pelos focos de agressividades desencadeados nas manifestações, entretanto ele argumenta que se o movimento fosse totalmente pacífico, a insensibilidade dos nossos políticos jamais seria quebrada.

Amanda Railany, em suas postagens no facebook chama atenção também do vandalismo praticado contra o povo e dá o exemplo da saúde pública. Realmente isso é uma violência pior do que jogar pedras na força policial. Uma amiga minha perdeu o seu pai, recentemente no Walfredo Gurgel, justamente pela falta de qualidade do hospital.

Félix da Silva Dantas, professor de Teologia, não fecha os olhos para a corrupção cometida dentro da aparelhagem estatal, que acaba também sendo um ato de vandalismo, pois o dinheiro roubado dos cofres público poderia estar salvando vidas, como no caso da perda do pai por parte de minha amiga. Mas o teólogo ainda prefere, e com razão a via pacífica. É tanto que ele convoca ex-soldados da Aeronáutica – que foram aprovados num concurso público para prestar o serviço militar – para fazer manifestações pacíficas e organizadas sem dano algum para a sociedade. A atitude de Félix reprova completamente a violência nas reivindicações populares.

Esse procedimento está mergulhado no bom senso, pois como poderemos cobrar das autoridades, se a luta inclui depredação daquilo que o poder governamental oferece para nós? Em Natal, temos um exemplo disso, pois depois de uma manifestação, a estação de transferência de Potilândia estava danificada. Quebrando o patrimônio público, só estamos jogando fora aquilo que conquistamos.

Embora a máquina estatal tenha sua parcela de culpa em tudo que está acontecendo, ainda têm outras informações que devem entrar na análise desse levante popular, já que os políticos não são os únicos responsáveis por todos os problemas sociais, Nós podemos concluir isso ao ver alguém querendo mudar o quadro e lutar contra toda injustiça social resultada de uma péssima distribuição de renda, que só serve a uns pequenos grupos que querem manter seus privilégios.

tumblr_mph9nlmKbx1r1thfzo1_1280O governante que se levanta para tentar resolver a situação tem que ir de encontro às elites econômicas que querem manter a exploração com todos os seus derivados. A história está cheia de fatos que comprova essa explicação. Salvador Allende no Chile e João Goulart aqui no Brasil são exemplos de governos que foram perseguidos e tirados do poder em razão de tentarem defender o povo diante da ganância de uma minoria. Os manifestantes deveriam saber que os políticos são apenas marionetes nas mãos das classes dominantes, e que para mudar o contexto, as camadas populares devem eleger representantes que não estejam ligados aos objetivos desses grupos que controlam a economia do país.

Talvez você pense que esse passo já foi dado, quando elegemos Lula por duas vezes presidente do Brasil, bem como sua sucessora, Dilma. Todavia, esperamos demais para que o PT assumisse o governo, pois Lula passou três campanhas defendendo um programa que distribuía renda, contudo ele não foi eleito, principalmente, porque os meios de comunicação – que defendem os interesses das elites – deturpavam a ideologia. Quando foi mudado os planos e Lula apresentou um projeto que não mexia com os poderosos, o ex-metalúrgico não encontrou a oposição que emissoras como a Rede Globo fazia contra suas ideias de justiça social. Então a Globo e outras emissoras aprovando o candidato, o povo elege. O Brasil acordou, mas a sonolência não deixa o país ver que quem não quer que a realidade mude é a classe que concentra renda, que se beneficia da pobreza.

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SOBRE O AUTOR:

Francisco Canindé dos Santos é escritor com dois livros publicados, formado em Comunicação Social com habilitação em jornalismo pela UFRN.

Saskia Sandrinelli

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