Rio Grande do Norte, sexta-feira, 29 de março de 2024

Carta Potiguar - uma alternativa crítica

publicado em 1 de outubro de 2013

Não deixe o samba morrer! Não deixe o samba acabar! – Ato contra a violação do direito a manifestação cultural

postado por Catarina Santos

“Quem não gosta de samba bom sujeito não é
É ruim da cabeça ou doente do pé!”

IMG_3601A Quinta Viva do Samba viabilizava todas quintas-feiras lazer e cultura para cidade de forma gratuita, mobilizando um eixo da cidade antes pouco movimentado, como toda a capital potiguar no que concerne fluxos de arte e cultura. O projeto conta com vários artistas e convidados, lotava a Praça André de Albuquerque, mais conhecida como Praça Vermelha e tocava o samba das 19h até aproximadamente 22h.

Essa semana, o fluxo do projeto foi interrompido por uma decisão impediu que o samba acontecesse com a justificativa da sujeira deixada pelos comerciantes ou venda de bebida ilegal, pois os ambulantes caracterizam bar (estamos aguardando mais informações). Entende-se a necessidade vital de cuidar do entorno, porém, compreende-se que o direito a livre manifestação cultural está sendo violado em diversos pontos da capital potiguar, sobretudo, no centro histórico, composto pelo Beco da Lama e que abrange uma área até a Ribeira, incluindo muitos prédios históricos considerados nosso patrimônio cultural.

IMG_3592A problemática levanta questões para privilégios de outros eventos como o Carnatal que acontecem na cidade, ocorre todos os anos e deixa diversos resíduos nas proximidades do evento, além de impossibilitar o fluxo de trânsito e a tranquilidade dos moradores próximos. Tais eventos, tem grande apoio do poder público para viabilizar limpeza e organização do espaço e do entorno. Afinal, o que impede a realização de um samba gratuito no nosso centro histórico e que mobiliza tanta gente?

A falta de atenção a cultura e a produção artística na cidade é total, impede o saber e o fazer em diversos pontos da capital potiguar. É preciso nos mobilizar de forma prática e ocupar nossos espaços: as praças é um espaço de socialização imenso que viabiliza os diversos encontros e trocas de vivência. Não é de hoje o desrespeito ao que acontece no espaço de nosso centro histórico, em nossas praças e outros espaços na cidade que foram abandonados depois de algum tipo de intervenção do poder público.

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“E você samba de que lado
De lado você samba
Você samba de que lado
De que lado você samba
De que lado, de que lado
De que lado você vai sambar?”

 

Por lutar pelo direito de manifestação cultural, por acreditar que Natal ainda pode fomentar o eixo da arte e cultura de maneira plural, em que práticas culturais podem coexistir, um projeto (Poéticas Urbanas) composto de ações que discutem e refletem eixos como cultura, política e sociedade convidou para um ato contra o cancelamento de eventos que trazem cultura e mobiliza espaços diversas vezes abandonados pelo poder público, no ato está previsto uma roda de samba popular, considerando o pleno direito constitucional de manifestação cultural em que “é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença” (Art. 5º – Inc. IX; Constituição Federal Brasileira).

IMG_3629O evento ocorrerá as 17 horas na Praça André de Albuquerque (Praça Vermelha), visa agregar artistas e todos que desejam a   movimentação cultural na cidade e estão contra medidas que não abrem espaço para medidas participativas populares e intervém em atividades de arte, cultura e lazer. O evento é de iniciativa autônoma e popular, quem tiver instrumento ou deseja compartilhar vivências artísticas e prestigiar o encontro está plenamente convidado. Aqui o link do evento aberto na rede social: https://www.facebook.com/events/203404959838609

“Antes de me despedir
Deixo ao sambista mais novo
O meu pedido final…

Não deixe o samba morrer
Não deixe o samba acabar
O morro foi feito de samba
De Samba, prá gente sambar.”

 

O samba é essência da miscigenação brasileira, nasceu dessa mistura gostosa africana, nasce por excelência como manifesto social, num Brasil colonial, toma as ruas, levanta nosso pé, nos afirma, adentrou nossos lares, fez o pandeiro tocar e o homem chorar.

Viva 1917 com nosso primeiro samba gravado! Viva Brasil!

Viva nosso sangue negro, nosso sangue branco, viva nosso sangue vermelho! Viva Brasil!

Viva nosso Recôncavo Baiano! Viva Rio de Janeiro! Viva Natal! Viva Brasil!

Viva Bahiano, viva dona Dalva (doutora do samba), viva Cartola, viva Alcione, viva Beth Carvalho, viva Bezerra da Silva, viva Pixinguinha, viva Aracy de Almeida, viva Elizeth Cardoso! Viva os artistas de samba potiguares!! Viva Brasil!

Viva os mestres do samba! Viva Brasil!

Viva a todos esses mitos do samba, porque o samba está em nossas raízes brasileiras.

 

“Brasil, esquentai vossos pandeiros
Iluminai os terreiros que nós queremos sambar

Há quem sambe diferente noutras terras, noutra gente
Num batuque de matar

Batucada, Batucada, reunir nossos valores
Pastorinhas e cantores
Expressão que não tem par, ó meu Brasil!”

Mais fotos no mosaico da Quinta do Samba:

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Catarina Santos

Fotógrafa, estudante de Psicologia Social e Política, pesquisadora no Grupo de Investigación en Psicología Social, Ambiental y Organizacional (Universitat de Barcelona - Espanha). Twitter: @catarina_alice E-mail: catarina.alicee@gmail.com

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