Rio Grande do Norte, quarta-feira, 24 de abril de 2024

Carta Potiguar - uma alternativa crítica

publicado em 18 de dezembro de 2013

O Pinta: cidadão natalense

postado por Túlio Madson

O problema da expulsão dos pintas do Midway Mall é apenas um sintoma de um problema ainda maior: temos vergonha de nos assumir como uma cidade de pintas; Natal, a cidade da aparência, tem vergonha da aparência de seu cidadão mais típico.

Pode-se argumentar, até com certa razão, que os indivíduos rotulados como pinta estavam se enfrentando dentro do Shopping e prejudicando o direito dos que lá estavam de aproveitar o seu lazer familiar dominical. Não entraremos no mérito da questão, o objetivo aqui é ir além do ocorrido, a intenção é refletir sobre o que é isso: ser pinta.

O termo pinta ainda carece de um estudo etimológico, na ausência deste, podemos explorar algumas possibilidades. Talvez, o termo tenha surgido para designar aqueles que tem estilo, ou seja, que tem pinta – no sentido de “boa pinta”, charmoso. Outra hipótese é que o termo tivesse inicialmente caráter pejorativo, podendo designar aqueles que ao se vestirem com determinadas marcas passam a ter apenas a pinta – a pose, a aparência – de estarem “bem arrumados” quando na verdade não estão. Entretanto, há quem afirme que o termo surgiu devido a uma tatuagem que simula um sinal, uma pinta, no rosto, usado antigamente por maloqueiros para se identificar. Ou quem sabe, o termo tenha surgido para designar aquele que tem pinta – ou seja, jeito – de malandro, maloqueiro, devido ao andar, vestimentas e tudo mais. Fato é que o termo permite muitas possibilidades, quantas a imaginação puder inventar, poderíamos ocupar todo o texto com elas. O dicionário Aurélio, por exemplo, possui quatro definições para “pinta”, nenhuma delas se encaixa nos casos acima.

O Pinta é o único personagem tipicamente natalense. Sua vestimenta comumente identificável – bermuda de praia, camiseta folgada, boné – é perfeitamente adaptada ao clima de uma cidade quente e praieira. A cidade migrou em direção a Parnamirim, longe do mar, transformando dunas em conjuntos habitacionais. Dentro dos conjuntos habitacionais e das casas muradas nos bairros nobres, criou-se uma geração sem contato com a rua, consequentemente, sem uma identidade natalense. Identidade esta que não foi perdida, se preserva na Natal antiga, que margeia o Potengi, no outro lado da ponte, nas praias que não figuram nos cartões postais, além daqueles que vivenciaram a cidade para além de seu bairro ou condomínio.

O Pinta é essencialmente um antiplayboy. Arrisco-me a dizer que o Pinta é uma invenção playboyniana para caracterizar tudo aquilo que ele renega e exclui. Não era raro encontrar, no final da década de 90 e início do nosso século, playboys que iam para o Vila Folia, ou qualquer outro local da moda, apenas para “quebrar os pinta”.

Ser pinta é um conceito mutável, já que está em construção. Na minha adolescência, pinta era também o alternativo. O “boy” com bermuda da Cyclone era tão pinta quanto o de camisa de banda. De modo que o adjetivo “pinta” era utilizado para descrever pejorativamente os que não seguiam o padrão, que não possuíam o estilo pasteurizado e padronizado da típica classe média natalense, dos apartamentos e conjuntos habitacionais. A criação de uma famoso perfil no Twitter (@pintanatalense) contribuiu para que o termo fosse visto de modo menos pejorativo, contribuindo para a formação de um certo “orgulho pinta” e a consolidação do personagem com os estereótipos já fixados na mente do natalense. Dando certa identidade ao pinta.

Pinta é aquele que vive a cidade, a conhece, portanto, não teme andar na rua, sua malícia é antes de tudo uma proteção; ele veste-se para a cidade, sua praia, seu clima, na cidade está em casa; sua identidade ainda está em construção, mas confunde-se visceralmente com uma identidade natalense – que também está sendo construída. Nossa identidade não está no telejornal, nos programas de TV, nos artistas, nos intelectuais, nos políticos, ou na internet. Nossa identidade está nas ruas. Nas ruas está o Pinta Natalense.

Por isso, o Pinta é patrimônio cultural da cidade, todos aqueles que se “criaram” nas ruas de Natal, nos espaços públicos, nos “rolés”, independente de classe, tem um pouco de pinta dentro de si. São eles os legítimos cidadãos natalenses.

Túlio Madson

Colunista na Carta Potiguar desde 2011. Professor e doutorando em Ética e Filosofia Política pela mesma instituição. Péssimo em autodescrições. Email: tuliomadson@hotmail.com

26 Responses

  1. Vinícius A. P. disse:

    Hahahahahahaha… piada!

  2. Geovani disse:

    Que reportagem infeliz, viu? N chega nem perto de mostrar a realidade natalense. Vou fazer questão de mostrar isso pra moçada que mora comigo no Rio pra saber a impressão que esse texto causa.

  3. Dan disse:

    “Pintas” não temem andar na cidade porque eles mesmo são a fonte de temor do restante da sociedade.

  4. Jorge Maravilha Gofu disse:

    Vim de são Paulo, e quando vim me identifiquei muito com os caras em questoes como honra e lealdade que todo cara de quebrada tem coisa muito rara em certos ambientes. ser pinta sempre foi foda ! kkkkk malicioso leal e esperto otimo texto. !

    • Lula Miranda disse:

      Jorge Maravilha Gofu, me orgulho de você por ser um brasileiro desprovido de hipocrisia, que teria todos as ferramentas para descriminar uma cultura nova e não o faz, diferente da “nata natalense” que não não sabe nem o que acontece no próprio quintal.

  5. henrique disse:

    Nem discordo totalmente do texto, mas o fato é que um deses pintas roubaram meu celular no midway e vivem comprando briga lá.

  6. NIlton disse:

    Eu discordo que os pintas sejam endêmicos… Aqui essa galera fã da cyclone recebe esse nome, mas eles estão espalhados pelo litoral todo

  7. Ricardo Toscano disse:

    “…a pose, a aparência – de estarem “bem arrumados” quando na verdade não estão.”
    Eu acho que posso julgar esse trecho.
    Cada um veste o que quer, o que tem e o que acha melhor e que se sente bem. Se eles não seguem um padrão de camisa polo com cavalinho e número, camisas com golas em ‘V’, bermudas ‘atochadas’ no ‘rêgo’, óculos colorido com lente de TV 50”, como o resto da cidade, eles serão sempre feios. Por serem em sua maioria, baixa renda e de pouco(a) (oportunidade de) estudo, o que eles usarem será encaixado em um esteriótipo denominado em um termo pejorativo para classificá-los como tal, no caso o ‘PINTA’.
    Agora pare e pense: “E se você se vestir como um pinta e ir na capital vizinha, deixaria de ser pinta?”
    Em Recife que é quase vizinha, surfistas vestem Cyclone, Pena, Cobra d’agua, dentre outras marcas que os pintas usam, e são uns puta duns playboys.
    Vale a pena repensar…

    • Túlio Madson disse:

      O rótulo de “mal arrumados” como tendo um caráter pejorativo, como você falou no comentário, já foi falado no texto, algumas linhas acima você poderá ler “Entretanto, o mais provável é que o termo tivesse inicialmente caráter pejorativo”, ai sim, depois disso tento divagar sobre possíveis usos pejorativos do termo. Incluindo essa conotação que você citou: “…a pose, a aparência – de estarem “bem arrumados” quando na verdade não estão.”

  8. João Paulo Palmeira disse:

    Típico texto que busca colocar dicotomias na realidade: pinta x playboy. O humilde incompreendido e o rico malvadão.

    Na boa, atribuir a um certo grupo o caráter de detentor da identidade natalense só porque ele anda a pé e se veste de um jeito “apropriado” ao clima da cidade é de uma prepotência enorme.

    Ora, o que há de natalense em se vestir de acordo com o que prega um determinado setor da indústria cultural? Funk ostentação, rap falando de marcas de roupa, brigas de torcida? Sério que isso é patrimônio cultural natalense?

    Sua análise é tão ingênua que praticamente fecha os olhos para esse fenômeno que divide os jovens em “grupos” em praticamente todos os lugares do mundo, do país, sei lá. Em Coritiba tem os “vileiros”, São Paulo tem os manos, etc. Em vários cantos há personagens “equivalentes” aos pintas.

    Além disso, se o pinta é o patrimônio cultural, porque o playboy não? Há de se concordar que se há um personagem marcante na cultura natalense, é o playboy (assim como o pinta), que se veste e age de um jeito bastante característico (boné da nelore, camisa com cavalo no peito etc).

    Por fim, achei triste o texto pois soou como um “apenas o pinta conhece Natal de verdade”. Cada um tem sua Natal. Não cabe a ninguém desmerecer a experiência dos outros. Nem do pinta, do playboy, do universitário, etc.

    • Túlio Madson disse:

      Você tem razão quando diz que há uma intencionalidade para produzir um antagonismo pinta x playboy. Sim, foi proposital.

      A identidade natalense do pinta, no texto, se efetua por este povoar o espaço público, como acredito deixei claro: “Nossa identidade está nas ruas. Nas ruas está o pinta natalense.” O playboy reina nos ambientes privados.

      A questão fundamental – explicitada no título e no final do texto – é a caracterização do pinta como cidadão de Natal por excelência. Cidadão no sentido termo do grego, como aquele individuo cuja identidade é definida pela cidade em que vive, que vivencia a cidade, povoa e habita os espaços públicos.

      O perfil comumente associado ao pinta, de fato, é bastante difundido, principalmente por capitais nordestinas como Recife. A intenção aqui foi outra, a saber, pegar esse perfil e tentar transforma-lo em um ícone, em um símbolo de uma identidade natalense ainda por se fazer. Não se trata portanto de uma análise, mas de criação mesmo. Me interessa mais criar uma mitologia do que analisar uma suposta verdade dos fatos.

  9. Leonardo Marcelino disse:

    Eu não gosto nem de comentar nesses tipos de textos que é pra evitar que ser propague por que sempre tem um que se ilude com esse tipo de descrição. Autor se você acredita neles como identidade Potiguar, qual sua identidade? Pois com certeza você não é um pinta. Vamos ver quando o próximo pinta roubar o autor ou alguém próximo a ele se ele vai manter essa opinião, no mínimo vai jogar a culpa “nessa tal sociedade”

  10. Leonardo Marcelino disse:

    Não gosto nem der comentar esses textos pra evitar que se difunda essa opinião afinal sempre tem um que acaba concordando com a primeira coisa que lê. Autor o senhor se considera cidadão Potiguar? Pois tenho certeza que o senhor não é Pinta, vamos ver até quando essa opinião ser sustenta Quando um pinta assaltar o senhor ou alguém próximo a você, no mínimo vai colocar a culpa “nessa tal sociedade”

  11. Paulo Costa disse:

    Que visão pobre do povo natalense! Obrigado joão Paulo Palmeira. “O pinta é o único personagem tipicamente natalense”… Não dá!

  12. rayane rocha disse:

    quase me emocionei com seu texto, pena que sei o que eles fazem quando damos bobeira com nossos utensílios, mas já que vc defende os fracos e oprimidos, pegue um pinta pra vc criar, eles sao tao inocentes e estudiosos, nao fazem mal a ninguém!

  13. Darllane Lopes disse:

    Desculpa aí colega, rotular todo potiguar como “pinta” é demais. Fique com os pintas pra vc e leve-os para a sua casa.

  14. Bruno Silva disse:

    Se liga no conceito de ser pinta (hehehe), provavelmente de pessoas que não conhecem uma periferia de verdade.

    Em verdade não gostei da descrição (rotulação) de um personagem que ao meu ver é supostamente alienado, descontrolado, metido a experto, que enaltece seus atos, na maioria das vezes prejudiciais ao próximo, inclusive quando são prejudiciais a si mesmo. Esta, acredito eu, ser a designação original do termo.

    Quem nunca ouviu um “pinta” falar, em êxtase, a se vangloriar, do fato de ter sido cercado por; sei lá; cinco caras, tomou uma surra “do caramba” mas conseguiu escapar com vida (estou morrendo de rir dessa parte só de imaginar a cena). Ah! Talvez as pessoas que não vivem ou frequentam os bairros de maior concentração dos autodenominados pintas.

    Não concordo nenhum pouco da representatividade desse personagem à minha pessoa, à nós natalenses. Ficarei realmente muito triste de ter nossa cidade reconhecida em outras cidades, estados, no país inteiro como sendo uma cidade de “pintas”. Ainda prefiro ter a imagem de “paraiba”. “Paraiba” me traz mais orgulho de ser realmente nordestino.

  15. Adriana Sereia Azevedo disse:

    O texto foi bem desenvolvido, em minha singela opinião.
    Entretanto não concordo com trecho em que diz “O pinta é o único personagem tipicamente natalense”. Assim como o Rio de Janeiro tem o Malandros, o qual é de fato, personagem cultural da cidade, Natal tem os Pintas.

    O Pinta (pelo menos 85%) poderá por influencia do estilo dos demais, te pôr uma arma na cabeça, para te levar um relógio, um celular ou dinheiro, para adquirir suas vestimentas “típicas ao clima da cidade”, e vão à um baile onde toca uma determinada banda, armados para puxar uma boa briga e depois sair do local com o peito estufado que nem galo de briga arrotando aos quatro ventos: “O rolé é esse boy!”
    O Malandro carioca, vai à gafieira não para puxar briga, mas para puxar uma mulher para uma dança (não importa se feia ou bonita, gorda ou magra)… Ou quem sabe se exibir um pouco com sua calça de linho branco, seu sapato bicolor e seu chapéu panamar, com um belo espetáculo de samba no pé. O malandro é constantemente lembrado no cinema, festivais de musica, apresentações de dança… Taí o Carlinhos de Jesus que não me deixa mentir. O Malandro é o típico cidadão carioca.
    Agora por favor caro autor, não venha nos dizer que o Pinta é o típico cidadão natalense. Até hoje levo o pavor de um grupo de “Pintas” que invadiu a casa dos meus pais de madrugada, e lembro bem do desespero do meu pai.
    Não tenho orgulho algum desses “Cidadães Natalenses” e não compare gente de bem, trabalhadora e que cumpre as leis, à tais pessoas.
    Sem desentendimento. Apenas a minha opinião.

  16. Rafael disse:

    discordo que a cidade não tenha uma identidade porque migrou pra nova parnamirim. Nada a ver. Quer dizer que o símbolo da cidade são malandros, pessoas que não ligam pra trabalho, estudo…??? Que grande honra! Os que trabalham, que sustentam a cidade, que dão a cara de civilidade é que a representam.

  17. Lucila disse:

    “De rocha”, o seu texto 😀 Aos que temem os “pinta”, pela possível agressividade, não esqueçam os “playboy” que quebram os braços de moças nas boates; atropelam e matam universitárias, com seus carros de luxo; em shows, batem em jovens com físico menos cultivado nas academias… Só citando alguns exemplos das maravilhas que o outro extremo do jovem natalense pode ser.

  18. João Paulo Rodrigues disse:

    Uma análise muito pobre. Uma reflexão carente de vários elementos. Por fim, um texto sem conteúdo propriamente reflexivo.

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