Rio Grande do Norte, sexta-feira, 29 de março de 2024

Carta Potiguar - uma alternativa crítica

publicado em 1 de julho de 2014

Eleições 2014 no RN: a negação da política e a produção do atraso

postado por Daniel Menezes

Não é incomum ouvir a defesa, com certa dose de raiva ressentida, do fim da política, dos políticos. Jovens com almas envelhecidas propõem que se jogue uma bomba no congresso nacional. Lá supostamente estaria o expurgo. Argumentações em prol do voto nulo ganham as redes sociais com um ar progressista. Esquecem que num passado não muito distante outros de sua idade deram suas vidas para que a gente tivesse aquilo que hoje, dentre outros direitos, é encarado como o simples ato de votar. Homens, mulheres, servidores públicos, médicos, donas de casa estufam o peito para falar de cansaço e decepção. Esta, sem dúvida alguma, será uma das marcas constitutivas da eleição que se avizinha. E é contra esse pilar conjuntural do pleito de 2014 que é fundamental batalhar.

O mote de negação da política tem nuances distintas, mas que em seus extremismos de aproximam. Pelo seu viés à direita, a administração da sociedade é imaginada como uma reles ação semelhante a gerir uma empresa. Não há conflitos, diferenças, nem perspectivas diversas sobre como liderar um povo. O problema é meramente de gestão. Por esse caminho, a política morre porque o debate sobre a construção da agenda que nós queremos simplesmente desaparece e aqueles que têm força de comando, sob a falsa justificativa de implementar o que é inquestionável, impõem um jeito de viver em comunidade a revelia dos interesses não congruentes com o pensamento que se arroga a condição de único.

À esquerda a malhação da política demonstra intrínseca relação com a vontade de suprimir as mais diversas vozes que uma sociedade complexa como a nossa é capaz de produzir. O pluralismo democrático é enxergado como algo menor. Ou pior, perigoso. Maiorias são ameaçadas por minorias virulentas, sectárias. E vice-versa. Nessa pegada, a política desaparece como meio, como processo. E, com isso, o terreno fica terraplanado para todo tipo de autoritarismo.

A exacerbação é o ponto comum. Esta visão transloucada, quer seja à direita ou à esquerda, cria, no final das contas, uma ofensiva contra a própria ideia do diálogo, ameaçando a hipótese do convívio comunitário.

No sistema de democracia representativa a guerra contra a política gera o ataque àqueles encarados, de um modo um tanto quanto pejorativo, como políticos profissionais. Não percebem estes guerrilheiros inimigos da alteridade que a profissionalização não cria por si só o político bom nem muito menos o ruim. Políticos condenáveis existiram e continuarão a aparecer na história, quer seja ele profissional ou não. Amadorismo não é sinônimo de político legal. Pelo contrário.

O fato concreto é que políticos agem dentro de determinadas regras e dependerão, em grande medida, da forma como a sociedade se articula para ser por eles representada. É preciso, nesse sentido, olhar para a eleição, este método de contabilização de votos e formação de maiorias, mas também de construção de um debate sobre a agenda que será seguida, sempre com esperança. Até porque o resultado nunca está dado na partida. O que irá sair das urnas terá próxima interação com a forma como os cidadãos e associações irão se mobilizar em torno de lideranças, pautas.

O enfraquecimento da política acarreta no (in) consequente ato de jogar muita gente boa e seus respectivos projetos, frutos de lutas de toda uma geração, na lata do lixo e nivelar a tudo e a todos por baixo.

Defender a política sem medo implica vislumbrar, portanto, a própria possibilidade da sociedade, pela via democrática, se oxigenar. Sem heterônomias. Significa que um governo pode funcionar, desde que submetido ao controle dos cidadãos. Que um governo não precisa se descolar e existir a revelia do interesse dos representados.

ELEIÇÕES NO RN

É ano de eleição. No nosso pobre Rio Grande do Norte há projetos em disputa. Ao contrário do que é possível numa rápida olhadela imaginar, eles não são semelhantes. Apresentam diferenças nos modos de ser e de fazer. Histórias e sonhos distintos. Trabalham com expectativas diversas.

Em ano eleitoral, negar a política produz o nivelamento de todo mundo no mesmo patamar. E você, mesmo achando que está atravessado pela melhor das intenções, acaba produzindo o atraso, o caminhar para trás, pois na apatia eleitoral quem vence é o poder do dinheiro capitaneado por espertinhos empulhadores. Urge trilhar outras trajetórias.

Daniel Menezes

Cientista Político. Doutor em ciências sociais (UFRN). Professor substituto da UFRN. Diretor do Instituto Seta de Pesquisas de opinião e Eleitoral. Autor do Livro: pesquisa de opinião e eleitoral: teoria e prática. Editor da Revista Carta Potiguar. Twitter: @DanielMenezesCP Email: dmcartapotiguar@gmail.com

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