Rio Grande do Norte, sábado, 20 de abril de 2024

Carta Potiguar - uma alternativa crítica

publicado em 24 de março de 2015

UFRN: reitoria e política de intimidação

postado por Carta Potiguar

images (9)Nos últimos anos, a UFRN tem sido palco de casos controversos de violência institucional contra os estudantes: restrições dos espaços de convivência, recrudescimento de políticas de controle sobre a organização política dos alunos (acesso controlado às chaves do CA) e sua alimentação (Novas catracas do RU), agressões de seguranças, etc.,

Recentemente, o aluno Marcio Rodrigues, do curso de Ciências Sociais, expôs em relato (que reproduziremos abaixo) mais uma situação de constrangimento e violência institucional dirigida contra discentes por ocasião de sua “intimação” para depor a respeito da última ocupação da reitoria. Além das devidas e urgentes apurações acerca do constrangimento e assédio implicados em tais circunstâncias e independente da concordância com a ocupação em menção, é indispensável um firme posicionamento da comunidade universitária contra esse tipo de política intimidatória que vem se esboçando nos últimos tempos. A linguagem e o ânimo policial não se coadunam com o ideal de universidade. Esta deve fomentar o direito de reunião, associação e a formação política de sua comunidade, em especial dos estudantes, prezando como um valor fundamental o diálogo. Não cabe na universidade pedagogias e expedientes intimidatórios e cerceadores da expressão política divergente. Sob esta atmosfera disciplinar que, ao que parece, a reitoria da UFRN de maneira desastrada, inábil ou orientada, almeja criar, temos a própria universidade atacando a universidade. A universidade já enfrenta poderosos ataques e pressões exteriores para que ela mesma passe a se atacar como instituição. Aliás, não custa lembrar, uma instituição que para manter-se fiel a sua missão e razão de existência deve ser sempre uma instituição de liberdades e diálogos, e não de intimidação e cerceamento.

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Segue o relato do estudante Márcio Rodrigues

Nessa semana fui intimado pela reitoria da Universidade Federal do Rio Grande do Norte a depor em um processo administrativo, decorrente da última ocupação da reitoria, da qual não fiz parte em algum momento. O que fiz foi participar de uma assembleia totalmente legítima de estudantes, na qual a reitoria estava presente também, sobre a atual política de segurança do campus universitário. Numa clara e objetiva ação de intimidação, vieram à minha casa na última quarta-feira entregar a intimação. Não havia ninguém em casa, pois eu estava na reunião da bolsa da qual faço parte na universidade, e meus pais trabalhando. No dia seguinte um terceirizado (aparentemente) veio até uma das minhas aulas pela manhã, me dando a notícia da intimação, pedindo que eu assinasse uma via e que eu fosse no dia marcado. Ao olhar na mão do indivíduo, vejo o meu histórico universitário, com várias informações minhas destacadas com um marca-texto. Isso atrapalhou a prova que eu estava fazendo, e me causou constrangimento, não menor do que seria se eu tivesse recebido em minha casa. É mais um claro exemplo de como a reitoria trata o movimento estudantil, com repulsa e intimidação, reprimindo uma assembleia legítima do corpo discente, e que inclui importância até hoje (já que as pautas da ocasião não foram atendidas pelos relatos de estudantes) para todo o corpo docente também.
Não me calarei.

Update: hoje (23/03/2015) compareci na sala número 1 do 3º piso do anexo da reitoria para prestar depoimento. A comissão formada por 3 professores, me informou que o caso foi aberto depois de um pedido da Polícia Federal à reitora. Falei o que já havia dito: fui à assembleia convocada pelo dce para discutir a política de segurança do campus, que até hoje temos enfrentado problemas sérios relacionados à isso. Logo após finalizada a assembleia, com a retirada da reitora da sala dos colegiados, sai e fui para a minha aula de francês, no instituto ágora da UFRN, e fui contra a ocupação naquele momento, achava que precisava se construir uma pauta mais definida antes de qualquer coisa. Não voltei naquele espaço até nesse semestre, onde tive uma reunião de um programa onde presto assistência a estudantes estrangeiros, promovida pela secretaria de relações internacionais. Esse foi meu relato hoje, ou seja, sobre a ocupação da reitoria, tenho os mesmos conhecimentos que a reitora, se não menos. Durante meu relato foi pedido para que eu identificasse pessoas em fotos, fotos da ocupação e, o mais grave, da assembléia. Me recusei, isso não cabe ao corpo estudantil, e sim à polícia.

No relato final havia apenas um ponto após minha recusa, o que poderia dar margem para me incriminar. A todo o momento minha fala era alterada na ata de relato, que caso eu não tivesse lido antes, poderia me incriminar. Nessa ata, a assembleia geral com os estudantes era tida como uma reunião com o movimento “reokupa reitoria”, que na ocasião ainda não existia, e minha presença nela, me colocando num movimento em que eu não tive participação, uma das tentativas de me ligar ao movimento e principalmente às ditas “depredações ao nosso patrimônio”. Diversas vezes questionaram o tom da minha voz, como se num discurso político nós falássemos como dubladores de desenho infantil. Diversas vezes era dito que se eu não “colaborasse”, eu poderia ser intimado de novo, uma clara tentativa para que eu denunciasse alguém. Foi perguntado o porquê de eu estar presente na assembleia. Disse que fui pelo fato de um aluno ter sido espancado pela segurança. Nesse momento dois professores de colocaram. Uma disse que não se podia falar isso já que o aluno não fez corpo delito, o que não é verdade. Um outro disse que nada disso teria acontecido de graça, alguma coisa o aluno fez. Ignorei. Pedi uma cópia da ata, a qual foi me negada com o argumento de que é sigiloso. Me negaram a cópia de um documento que continha meu nome e que eu assinei. Vale salientar que a professora da enfermagem foi a única presente que foi compreensiva do início ao fim com aquilo que eu havia dito.

É claro a posição dessa intimação e do processo: clara perseguição e criminalização do movimento estudantil da UFRN. Intimado por estar numa assembleia legítima por um assunto que cabe a todo o corpo acadêmico da UFRN. Fiquei na reunião tanto quanto a reitora ficou, mas ela não foi intimada ou constrangida no ambiente de trabalho ou familiar como eu fui. Espero que essa dor de cabeça tenha passado na minha vida, e que eu possa seguir estudando e pesquisando sossegadamente como tenho feito durante o pouco mais de dois anos que frequento a instituição.
Assina essa nota o “Ilustríssimo Senhor” Márcio Rodrigues.

Carta Potiguar

Conselho Editorial

6 Responses

  1. José Martins disse:

    Olhando de longe… beeeem longe….

    Espaço de convivência = fumódromo de maconha?
    Acesso controlado ao CA = responsabilidade por espaço público?
    Novas catracas no RU = para compensar aumento de demanda?
    Agressão de segurança = para proteger o patrimônio a ser depredado?

    Como gestor público, tanto à reitora como a qualquer outro cabe proteger o patrimônio do qual se é responsável. Se há baderna e risco no sentido da depredação, a autoridade deve tomar TODAS as providências para evitar o dano.

    Se alguém deve depor em um processo administrativo sob os olhos da Polícia Federal, certamente deverá ser intimado. A intimação consiste na entrega (registrada) de um documento. A UFRN só conhece do aluno dois locais para isso: seu endereço e os locais onde assiste aula (cuja disciplina fica listada no histórico escolar – aquele que foi dito como marcado). Acho que o funcionário público foi apenas entregar a intimação. O que há de intimidador nisso?! Um depoimento servirá apenas para esclarecer acerca dos responsáveis por possíveis atos danosos à Reitoria da UFRN.

    No meu tempo de menino, ouvia que “quem não deve, não teme”. Então, fica tranquilo…

  2. Tiago Souto disse:

    A forma em MAÍCULO da palavra TODAS, me parece o mesmo tom do discurso raivoso da classe média que deseja regimes mais que intimidadores para não dizer criminosos como intervensões militares…

  3. Tiago Souto disse:

    *MAIÚSCULO

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