Rio Grande do Norte, sábado, 20 de abril de 2024

Carta Potiguar - uma alternativa crítica

publicado em 30 de março de 2015

E se Pirlo fosse potiguar?!

postado por Rafael Morais
Foto: Valerio Pennicino/Getty Images

Foto: Valerio Pennicino/Getty Images

No final de semana assistindo ao clássico entre ABC e Alecrim, que ocorreu no estádio Frasqueirão, em certo momento da partida, o comentarista da TV elogiou a atuação do meia Diego Maia, do Alecrim. Segundo o jornalista, a função exercida por Diego era semelhante a que Andreas Pirlo cumpre na Juventus de Turim e na Seleção Italiana.

Na verdade, o analista do jogo quis dizer é que Diego Maia era o jogador responsável por armar as jogadas de ataque do Alecrim. Era ele que distribuía as bolas, levando o time para o campo do ABC.

É evidente que não há como comparar os dois atletas. Definitivamente, Diego não é italiano e não possui as qualidades que fizeram o jogador da Azzurra ser um dos melhores do mundo. Mas se fosse ao contrário? E se Pirlo fosse potiguar?

Se Pirlo fosse potiguar, ele provavelmente seria descendente de índios Potiguares – habitantes do Estado antes da chegada dos Europeus – com holandeses, que invadiram nossas terras por volta de 1633/1634. Seria um caboclo mestiço como a grande maioria dos brasileiros são.

Se Pirlo fosse potiguar, poderia ter nascido no bairro das Rocas e jogado no estádio Senador João Câmara, de onde surgiram e passaram muitos outros craques do futebol do RN, como Marinho Chagas, Lula Soberano, os irmãos Pancinha e Saquinho, Sérgio Poti, André Bigode, Rodriguinho, Torona, Caquinho e muitos outros.

Nas Rocas, o Pirlo Potiguar teria o cais do porto como quintal de casa. Seu pai possivelmente fosse um pescador, que teria dificuldades para sustentar a família. A esperança era que o filho ganhasse a vida sendo jogador de futebol.

Se Pirlo fosse potiguar, muito provável iria sofrer influências, mesmo que em doses homeopáticas, da cultura popular. Dançaria o Zambê, os Congos, o Pastoril, os Caboclinhos e o Boi de Reis. Seria um aluno exemplar no colégio Atheneu Norte-Riograndense.

Se Pirlo fosse potiguar, jogaria no ABC, que possui as mesmas cores do seu clube atual, a Juventus. No Mais Querido, Pirlo teria dificuldades imensas para chegar ao time profissional, mas graças as suas virtudes – brilhante senso de colocação, boa movimentação em campo, dribles curtos e maestria em assistências – conseguiria barrar os medalhões apadrinhados dos treinadores e seria titular.

Se Pirlo fosse potiguar, não precisaríamos contratar jogadores como Daniel Amora, Serginho, Walter Minhoca, Ronaldo Mendes, Sandro, Clebinho e Anderson Paraíba, que pouco rendem em campo. Se Pirlo fosse potiguar, iríamos lucrar em Dólares e Euros por bastante tempo.

Se Pirlo fosse potiguar mesmo, não ficaria mais que uma temporada jogando no Rio Grande do Norte. Depois de um bom campeonato, certamente seria negociado com algum grupo de investidores, que o colocaria para jogar em times menores do interior paulista e teria que contar com a sorte para chegar um dia a Seleção Brasileira.

Se Pirlo fosse potiguar, teria dificuldades de mostrar que era especialista em bola parada e talvez nem fosse eleito pela FIFA como maior passador de bolas da década atual. Se Pirlo fosse nosso, talvez nunca teria a oportunidade de participar de uma Copa do Mundo. Se Pirlo fosse potiguar, talvez nem você saberia que ele fosse.

Ahhh, pensando bem, que bom que Pirlo não é daqui! Se Pirlo fosse potiguar, seria apenas um a mais, assim como é Diego Maia no Alecrim.

Rafael Morais

Comunicador Social pela UFRN. Experiência em assessoria de imprensa esportiva e atuação em televisão. Áreas de interesse: literatura e esportes em geral, com ênfase no futebol como a "teatrialização das relações humanas".

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