Rio Grande do Norte, terça-feira, 16 de abril de 2024

Carta Potiguar - uma alternativa crítica

publicado em 23 de maio de 2015

O politicamente incorreto dos anos 80 e 90 influencia o século XXI

postado por Wilson Ferreira

Nos anos 80 e 90 parecia que tudo era permitido: de apresentadoras de programas infantis da TV em trajes sumários a matinês com centenas de meninas rebolando tentando imitar os passos da banda “É o Tchan”. Tudo isso interrompido por intervalos publicitários onde marcas de chocolate eram associadas a meninos vencedores que conquistavam muitas namoradas. Essas décadas “politicamente incorretas” marcaram a infância e adolescência da chamada Geração Y, cujos membros são os líderes de opinião na atualidade. Qual a parcela de contribuição dada por essa cultura supostamente permissiva para a atual visão de mundo dessa geração? Foram décadas que, vistas pelo olhar politicamente correto atual, brindaram-nos com produtos culturais que sugeriam erotização precoce, pedofilia e exploração sexual em plena mídia de massas. A partir de uma lista de dez evidências de uma época onde “tudo era permitido”, vamos tentar encontrar influências da infância politicamente incorreta na mentalidade atual da Geração Y.

Apresentadoras de programas infantis em trajes sumários apresentando bandas de hits com refrões de gosto duvidoso; nos intervalos publicitários, comerciais mostrando crianças ostentando orgulhosamente produtos e ridicularizando o telespectador-mirim que ainda não os compraram;  anúncios publicitários que comparavam uma boa apólice de seguro com um uísque de qualidade que lhe dá um ótimo dia seguinte; matinês em casas de shows onde meninas levadas pelos pais rebolavam sensualmente ao som da banda É o Tchan; comerciais infantis associando um chocolate com as conquistas amorosas em série em um acampamento cheio de meninas, etc.

Estamos falando das décadas de 80 e 90 que, para o nosso olhar atual globalizado e sensível a questões éticas e morais, foram épocas decididamente politicamente incorretas. São décadas que marcaram a infância e adolescência da chamada Geração Y – conhecida também como “geração do milênio” ou “geração da Internet”, nascidos após 1980 e, segundo outros, em meados dos anos 1970.

Geração Y: uma geração tecnológica moldada pelo politicamente incorreto?

Uma geração que se desenvolveu no Brasil numa época de grandes avanços tecnológicos em ambientes altamente urbanizados. Mastambém cresceu assistindo a uma indústria de entretenimento que irradiou uma cultura que hoje é celebrada em festas retro temáticas com os “trashs dos anos 80 e 90” – um mix de criações publicitárias politicamente incorretas com programas infantis de TV precocemente erotizados.

E também uma geração que chegou à idade adulta e se tornou líder de opinião através de redes sociais, blogs, sites da Internet, assim como editores, artistas e apresentadores de TV.

Em que medida essa cultura politicamente incorreta dos anos 80 e 90 participou da formação da visão de mundo da Geração Y?

Flávio Lico, educador e fundador da Avenca Consultoria Educacional, levantou uma instigante questionamento através de uma postagem em sua página no Facebook: “Será que o estágio bizarro de civilidade e desrespeito mútuo que vivemos hoje no Brasil não tem a ver com o ambiente doente em que crescemos?”. E finaliza perguntando “até que ponto os anos 80 e 90 contribuíram para os anos 2000 e 2010?”.

Dez evidências

O questionamento de Flávio Lico baseou-se em uma lista do site Catraca Livre intitulada “7 provas de que o Brasil aceitava tudo nos anos 80 e 90” – uma relação baseada numa lista elaborada pelo Buzzfeed de onde o Catraca Livre selecionou as “7 mais bizarras” evidências – clique aqui e veja a lista do Buzzfeed.

Um desfile de peças publicitárias como o do menino com cigarrinhos de chocolate da Pan, Xuxa com figurino sumário no Clube da Criança da Rede Manchete e inacreditáveis capas de disco – uma do “Carnaval dos Baixinhos” da Xuxa com um bebê de fio dental e outra do Gilberto Barros com uma criança enfiando a mão por dentro da sua camisa numa incômoda sugestão de pedofilia sob o título “Me faz um carinho!”.

Antes de aprofundamos no tema, vamos ver a lista abaixo com algumas contribuições das pesquisas do “Cinegnose”:

1. Xuxa no Clube das Crianças da Rede Manchete (1983-86)

2. Cigarrinhos de Chocolate da Pan

3. Capa do disco “Carnaval dos Baixinhos”

4. Gilberto Barros: “Me faz um carinho!”

5. Comercial da tesoura do Mickey (1992)

6. Comercial do “Baton” da Garoto (2005)


Comercial de 2005 com conceito de criação iniciado nos anos 1990 com o “Compre Baton” onde um menino repetia o slogan como se tentasse hipnotizar o telespectador

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Wilson Ferreira

Jornalista e professor na Universidade Anhembi Morumbi/São Paulo na área de Estudos da Semiótica. Pesquisador CNPQ do grupo de pesquisas "Cinema e Sagrado no Cinema e Audiovisual e autor dos livros "O Caos Semiótico" e "Cinegnose" pela Editora Livrus. Editor do blog "Cinema Secreto: Cinegnose" sobre confluências entre Gnosticismo e Sagrado no Cinema, Audiovisual e Cultura Pop em geral.

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