Rio Grande do Norte, terça-feira, 16 de abril de 2024

Carta Potiguar - uma alternativa crítica

publicado em 15 de junho de 2015

Homem é humilhado em Supermercado em Natal

postado por David Rêgo

Em vídeo que circula nas redes sociais divulgado por Miguel Messi, um homem (ainda não identificado) é humilhado por seguranças da rede de Supermercados Nordestão (o vídeo pode ser visto no final do artigo). Durante as imagens pode-se observar que um suposto ladrão foi levado ao chão e imobilizado pelos seguranças. Durante as filmagens pode-se ouvir o homem gritar “eu paguei, eu paguei”. Após uma série de pessoas manifestarem-se contra o que ocorria a situação começou a ser “esclarecida”. Para a tristeza dos seguranças e revolta da população, o homem tinha nota fiscal das suas compras. Não se sabe ao certo o que aconteceu depois. A filmagem tem pouco mais de 2 minutos. De toda forma, o mais curioso é observar que o Brasil é um país de “acusadores”. Adoramos acusar sem saber o que aconteceu ao certo. Adoramos dizer que as pessoas são culpadas mesmo antes de uma investigação. Ao observar os comentários nas redes sociais, algumas pessoas “inferem” que o homem que é imobilizado no vídeo “não é flor que se cheire, que já deveria ser figurinha carimbada e conhecido por furtos”. O “pressuposto” é claro: parece com pobre? Tem tudo pra ser ladrão. “Pode até não estar roubando agora, mas já o fez outras vezes”, é um argumento muito utilizado pelos que defendem que nascer em condições humildes ou ter um tom de pele específico é um crime. A mensagem é clara: Nascer em condições menos abastardas é crime. Você já nasce meio que “metade ladrão”.

nordestão

O Brasileiro e sua “Linda mania” de acusar.

É preciso avisar para “essa gente” (que acusa sem provas, que quer prisão apenas “por suspeita”) que não vivemos mais no Feudalismo. Um dos grandes avanços do Estado liberal é a presunção da inocência, “aquele que acusa cabe o ônus da prova”. Eu não preciso provar minha inocência. Você, que acusa, que é obrigado a provar sua denúncia. Isso chama-se de “presunção da inocência” ou “princípio da culpabilidade”. É isto que impede que o Estado persiga o cidadão com base apenas em suspeitas, como acontecia antes, na época dos Reis. Agora, no Estado liberal, todo cidadão é inocente até que se prove o contrário. É nestas horas que percebemos que o brasileiro tem uma mentalidade feudal. Daí o nosso atraso. O pensamento liberal ainda não nos permeia como deveria.

Pagou por tudo e tinha como provar. Seu crime? Viver em um país em que o preconceito social é reproduzido em larga escala.  Para tornar a situação ainda mais surreal, durante o ocorrido, um segurança ainda tenta intimidar o rapaz que fez a filmagem (Daniel Pereira), afirmando que “não pode filmar”. Daniel, por conhecer seus direitos de cidadão, sabe que podia filmar o que tivesse vontade naquele momento, principalmente o que estava acontecendo, já que, ao que parecia, uma pessoa tinha seus direitos violados e estavam em um ambiente público. Muitas pessoas não sabem, mas toda loja comercial, apesar de privada, é pública. Pública no sentido que, para funcionar, ela precisa de uma autorização do Estado, segue as regras impostas pelo Estado e não regras criadas por ela mesma. Toda loja que presta um serviço para população apesar de privada, é pública. Pública no sentido dos direitos e deveres em relação ao cidadão. Sem distinção de cor, raça, classe social, religião etc. etc. etc.

Altruísmo. É a melhor forma de definir a ação do rapaz que gravou as imagens. Alguém que indigna-se perante uma injustiça e tem coragem de enfrentar uma “autoridade” em nome da cidadania. E é isso que devemos fazer, utilizar a tecnologia para evitar abusos. Mostrar para todos que vivemos em um país de leis e aqueles que estão ao lado dela nada devem temer.

Confiram o vídeo

 

David Rêgo

Sociólogo, antropólogo e cientista político (UFRN). Professor do ensino médio e superior. Áreas de interesse: Artes marciais, política, movimentos sociais, quadrinhos e tecnologia.

Comments are closed.

Direitos Humanos

Em defesa da Blasfêmia

Redes Sociais

Indústria da multa ou cidadão folgado?