Rio Grande do Norte, quarta-feira, 24 de abril de 2024

Carta Potiguar - uma alternativa crítica

publicado em 27 de junho de 2015

Falsas dicotomias para manutenção do preconceito

postado por David Rêgo

10480223_514583565355587_1198330289021606037_nEm resposta ao movimento internacional pelo fim do preconceito contra a comunidade LGBT (Celebrate Pride – idealizado pelo Facebook em comemoração ao reconhecimento da legalidade do casamento gay em todos os estados nos EUA) o pensamento conservador começou suas campanhas. A imagem ao lado mostra uma de suas tentativas de criar falsas dicotomias. Precisamos deixar algumas coisas em “panos limpos”.

O Brasil, a FAO e a ONU já uniram-se pelo tema da fome. Estamos na lista dos países que erradicaram a fome de acordo com a ONU.  Existiu um programa no Brasil chamado Fome Zero. O Brasil uniu-se contra a fome. Na atualidade existe o programa bolsa família. A função destes programas foi/é auxiliar pessoas que estão em situações de extrema pobreza e dar condições para que saiam desta situação. Apesar das críticas feitas ao projeto (Bolsa Família), a eficiência dele supera os 90%. Ou seja, de cada 100 pessoas que entram no programa, 90 delas conseguem melhorar sua situação financeira e desligam-se do auxílio. Nós sabemos que você ouve por aí uma série de críticas ao programa, mas todos os dados disponíveis indicam que este é um dos melhores programas de distribuição de renda já criados no mundo nos últimos tempos. Reafirmando, a eficácia do programa supera os 90% (ou seja, mais de 90% das pessoas que entram no programa desligam-se dele por não precisarem mais da renda).

mapadafomeO pensamento conservador é facilmente desmascarado. Criam falsas dicotomias. Mostrando o Brasil como um país de famintos, fato que não corresponde mais a realidade nacional. O Brasil dos anos 2000 nem de longe lembra o Brasil da década de 80 ou 90. Para encontrar situações reais de fome (lembremos que fome é diferente de pobreza) precisamos ir para locais remotos, de difícil acesso, onde o próprio Estado não conseguiu chegar de forma eficiente.
Argumentos do “mesmo naipe” são utilizados por aqueles que defendem humanos e acham que a luta pela proteção animal ou ambiental é “perder tempo”. Argumentam: tanta gente passando fome e você importando-se com animais/aquecimento global. Precisamos lembrar que não existe uma escala de importância da vida. Ao estudar biologia o professor não afirma que a vida de um ser é mais vida que a de outro ser. Posicionar-se contra a crueldade contra animais não faz com que uma pessoa torne-se insensível as causas humanas. São falsas dicotomias geradas pelo pensamento conservador visando confundir os que não analisam devidamente a realidade ao seu redor e apenas reproduzem a realidade imediata sem refletir ou questionar suas contradições e limitações.
Não só isso. Apoiar a causa LGBT em nada interfere na luta contra a fome. Os chamados humanistas defendem uma só coisa: diminuir a quantidade de sofrimento em todas as esferas. Mas a questão é simples…
Existe “um pessoal” que – se você luta contra a fome, vão dizer que é assistencialismo ou compra de votos. O que “essa gente” ou seus “padrinhos políticos” fazem contra a fome? Nada. Só criticam os programas contra a fome. Existe “um pessoal” que – se você luta por uma educação melhor, se professor entra em greve e pressiona o governo por mais investimento, “essa gente” vai dizer que professor é vagabundo, desocupado e deveria estar em sala dando aula. fome_linhadotempo_siteExiste “um pessoal” que – se você luta contra o racismo vão dizer que ele não existe no Brasil ou que branco também sofre preconceito (e citam como preconceito algum apelido do tipo “branquelo” como a grande violência de vida sofrida por ser branco – assustador, não?). “Essa gente” ignora o racismo evidente que ainda temos. Existe “um pessoal” que – se você luta contra o sofrimento animal, vão dizer que é melhor lutar por direitos humanos. “Essa gente” vive de criticar os direitos humanos. Existe “um pessoal” que – se você luta contra a homofobia, vão dizer que vivemos na ditadura gay. “Essa gente” vive de dizer que existem outras prioridades. E criticam os direitos humanos, bolsa família, cotas, etc. etc. etc.
Em outras palavras, existe “um pessoal” que – se você decidir lutar contra qualquer que seja a desigualdade, eles serão contra. 
Possuem acesso aos números e estatísticas, mas preferem desconsiderá-los e viver em uma espécie de “Limbo Olaviano” ou em um conto de fadas da “Chapeuzinho vermelho e o Lobão Mau”. Quando não, querem que as  coisas fiquem como “eram antigamente”. “Antigamente”, de acordo com os dados históricos, o Brasil era o país dos banguelos, da fome e da escravidão. Não nos agrada o país de antigamente*.

 

* “essa gente” e “um pessoal” está entre aspas visando não generalizar. Falamos especificamente daqueles que são contra todo tipo de mudança, que tudo criticam, que tudo reclamam.

David Rêgo

Sociólogo, antropólogo e cientista político (UFRN). Professor do ensino médio e superior. Áreas de interesse: Artes marciais, política, movimentos sociais, quadrinhos e tecnologia.

3 Responses

  1. Luiz disse:

    Texto bem esclarecedor!

  2. Raoni disse:

    Achei ótimo o texto, mas acho que ao citar dados estatísticos, as referências devem ser bem claras. Mas obrigado por ampliar e dar visibilidade à discussão.

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