Rio Grande do Norte, sexta-feira, 29 de março de 2024

Carta Potiguar - uma alternativa crítica

publicado em 26 de outubro de 2015

Os homens sofrem mais violências do que as mulheres – #‎EuNãoPrecisoDoFeminismo‬

postado por David Rêgo

Depois da prova do ENEM uma série de pessoas inconformadas com a pauta da redação iniciaram uma série de questionamentos que colocam como pauta a violência sofrida pelos homens. Com a hastag #‎EuNãoPrecisoDoFeminismo‬ muitos afirmam que 91% das mortes, no Brasil, são de homens. Contra apenas ínfimos 9% de mulheres. Em momentos assim percebemos que os professores de matemática e sociologia precisam ficar mais atentos aos seus alunos. A análise de dados é tratada por muitos de maneira completamente aleatória e assistemática e isto demonstra um sério problema na educação brasileira.

Voltemos ao ensino fundamental, quando o professor de matemática nos explica que, para resolver um problema que envolve muitas variáveis, a primeira coisa que precisamos fazer é padronizar o problema. Ou seja, se a questão nos dá unidades em centímetros, metros e quilômetros, precisamos, primeiramente, padronizar o sistema de medidas. O mesmo ocorre com o tempo, quando nos aparecem problemas com segundos, horas, dias e semanas. Não ocorre diferente no caso da violência. Para medir a violência de maneira correta precisamos padronizar o sistema de medidas. O desconhecimento das normas e técnicas científicas em matemática e sociologia podem gerar sérias distorções.

A questão não é o “valor absoluto” das mortes. Mas “os tipos de mortes” e “como acontecem”. Na realidade podemos realizar várias perguntas (ou seja, isolar dados) para tentar medir a quantidade de violência sofrida por homens e mulheres. Por exemplo: “nos casos de agressões domésticas, geralmente, quem é o violentador e quem sofre a violência?” Ou mais: proporcionalmente, quantas mulheres matam homens e quantos homens matam mulheres?

Quando desejamos pensar o nível de violência cometida contra a mulher no Brasil não podemos, para isto, comparar o número absoluto de mortes de homens e mulheres. Esta é uma maneira grosseira de tratar os dados. O que precisamos fazer é comparar as situações. Por exemplo. No Japão, de cada 100mil mulheres, quantas são espancadas pelos seus parceiros? No Brasil, de cada 100mil mulheres, quantas são espancadas pelos seus parceiros?

Os dados demonstram que, na zona urbana do Brasil (na rural a situação é pior), 29% das mulheres relatam que já sofreram algum tipo de violência física ou sexual do próprio parceiro. No Japão, o mesmo índice não passa dos 15%. Ao se comparar o Brasil com o Japão, vemos que nossas mulheres são surradas quase duas vezes mais pelos seus parceiros no que nas terras dos samurais.

Outra comparação que pode ser feita é analisar os eventos em que um tipo específico de violência ocorre. No caso: em situações de violência doméstica, quem costuma ser o agressor? A casa é um ambiente seguro? Para os homens pode ser. Os homens sentem-se seguros em casa. Mas não é o caso das mulheres. 48% das mulheres relatam que já sofreram violências dentro de casa. No caso dos homens, apenas 14% sofrem violência doméstica (PNAD/IBGE, 2009).

É preciso fazer a pergunta certa na hora da análise de dados. Caso contrário, acabaremos fazendo um verdadeiro samba do crioulo doido e expondo vexatoriamente nosso profundo desconhecimento das normas e padrões adotados pela ciência. O que vemos ao observar os dados disponíveis é que, nas mais diversas situações do dia-a-dia, os agentes geradores de violência são, majoritariamente, homens. Não podemos culpar as mulheres pela violência que os homens causam contra os homens. É um contra-senso e uma inversão perversa da lógica que os dados demonstram. O que observamos, na realidade, é a existência de uma cultura da violência no âmbito daquilo que descrevemos como masculino. As causas feministas, prioritariamente, visam a diminuição da violência e um questionamento do “masculino”. Não há de se imaginar como alguém não precise do feminismo ou não seja favorável a ele. Até os homens precisam do feminismo.

 

 

David Rêgo

Sociólogo, antropólogo e cientista político (UFRN). Professor do ensino médio e superior. Áreas de interesse: Artes marciais, política, movimentos sociais, quadrinhos e tecnologia.

6 Responses

  1. Bruno M. disse:

    “Não há de se imaginar como alguém não precise do feminismo ou não seja favorável a ele. Até os homens precisam do feminismo.”

    Por que homens precisariam do feminismo, se os benefícios estatais são quase exclusivos das mulheres (constam na CLT, Código Penal e Civil)?

    “Quando desejamos pensar o nível de violência cometida contra a mulher no Brasil não podemos, para isto, comparar o número absoluto de mortes de homens e mulheres”

    Bom, em estatística é precisamente o contrário: Citar o percentual é uma maneira grosseira de analisar os números. Porque as percentagens são mais discretas que os números absolutos: Se um governo extermina 10% da população(como comunistas e nazistas fizeram), não parece tão grave quanto falar em 100 milhões de mortos.

    Muito interessante o Sr. ter citado matemática, porque excluiu a minoria percentual de crimes domésticos contra homens. O que dá em média 6%, segundo o Mapa da Violência, 2012. Pior: Em números absolutos, que vossa senhoria varreu para debaixo do tapete, homens vítimas de homicídio em circunstâncias domésticas são mais de 2800 por ano. Enquanto mulheres vítimas são pouco mais de 1800. Portanto, 1/3 a menos. Ocorre, segundo sua própria matemática, que morrem homens demais! Então uma pequena percentagem desse número absoluto é enorme! Outra gafe sua, foi culpar a vítima: se homem morre a culpa é do homem. Como se para o morto, interessasse o sexo do agressor…

  2. josias disse:

    o homem tem testosterona tem uma persoanlidade ativa é obvio de se pensar que ele sofre e faz mais violencia que a mulher, basta ver o leoes na selva.. agora o feminismo quer tipo: “gente como vcs podem ser assim virem mulheres tbm” kkkk o homem nao pode culpar a mulher , mas a mulher tbm nao pode culpar o homem por ser homem simples.. ou quer fazer que os homens usem sainhas e sejam suaves pra diminuir a violencia? pelo amor de deus os homens sofrem e tem1100% a mais de chance de ser morto, a violencia é muito alem do fato de ser majoritariamente cometida pelos homens, deus criou o homem forte e mulher feminina,essa é a lei, acontece casos mas é tudo parte de um parte cosmica e se nao entrarmos em questao de generos vemos que os homens SOFREM MUITO MAIS COM A VIOLENCIA. outro dia uma mulher arrancou os testiculos de um polones no dia da mulher e ele a perdoou , agora se fosse um homem q tivesse arrancado ia chover textoes no facebook e odio contra o homem, ja o homem q teve o testicculo arrancado sofreu apenas risadas e tudo foi levado na brincadeira.. tbm essa semana uma bbb foi expulsa por bater num homem e ninguem falou absolutamente nada se fosse um homem ia chover textao tbm..

  3. Veronica Tavaniello disse:

    O artigo se invalida a parti do momento em que se apóia a dados do IBGE extremamente frágeis. Como mensurar violência doméstica entre gêneros se o homem se comporta diferente da mulher em relação a reação diante da violência?
    Mulheres têm muito mais facilidade em denunciar um tapa ou outro tipo de agressão do que o homem, que ainda sofre os reflexos de viver uma sociedade machista onde admitir se ter violência da parceira pode significa ser ridicularizado por amigos, familiares e a sociedade em geral. Afora isso same-se que a mulher é, em grande maioria, emocional por isso tende a ser mais vingativa. Não concordo com os números dessa pesquisa e acredito que seja praticamente impossível precisar estes dados. Abraço.

  4. David Rêgo disse:

    Realmente é difícil de identificar quem dá mais tapas, Verônica. Mas é bem fácil identificar os assassinatos, afinal, não é tão fácil assim fazer uma pessoa sumir. Os dados de assassinatos são confiáveis e apresentam um cenário bem pior do que os apresentados pelo IBGE. Se os dados do IBGE não são confiáveis, isso dá mais margem para que se esconda a violência do homem contra a mulher do que o contrário. Sem contar que, devemos tomar por base quais dados? Inventar? Supor? Acho que não. Abraço.

  5. Paulo Felício disse:

    ” Não podemos culpar as mulheres pela violência que os homens causam contra os homens”

    E quem é que está culpando as mulheres por isso? Em que o Feminismo aiuda os homens a não ser mortos oor outros homens?

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