Rio Grande do Norte, quinta-feira, 25 de abril de 2024

Carta Potiguar - uma alternativa crítica

publicado em 21 de março de 2016

Por uma esquerda mais marxista

postado por Carta Potiguar

Por João Felipe Santiago (Trotskista, músico, produtor e técnico de som)

Na efervescente conjuntura política nacional que vivenciamos hoje, muitos que reivindicam-se da esquerda (sem distinção política, programática ou até mesmo de posturas de cooptação capitalista), faz severas críticas a postura tomada por alguns partidos socialistas e movimentos populares por não irem às ruas nos atos organizados pelo PT, CUT e MST, justificando que a “esquerda” está fracionada. Afirmam que partidos e movimentos que não abraçam as causas petistas, estariam fazendo coro com a direita, que seriam “coxinhas travestidos de vermelho”. E pior, tentam persuadir-nos relembrando que, no Golpe Militar de 1964, a esquerda brasileira não fora as ruas para defender o então presidente Jango, consequentemente, levou-nos à um período nebuloso de descriminação aos movimentos sociais e a todos os partidos ditos socialistas/comunistas da época. Desta forma, deixando o território livre para mais de 20 anos de ditadura militar, que reflete até os dias de hoje a má ou não compreensão por parte do proletariado às ideologias marxistas.

Agora, após 52 anos, a política nacional vive outro momento nebuloso, de total aflição. Tem mais de 2 dias que não durmo. Teve momentos em que o desespero tomou conta de mim e, por breves momentos, cheguei até a perder as esperanças. Entretanto, na política não podemos nos deixar levar por esses sentimentos eufóricos, que deixam nossos pensamentos turvos, faz-nos priorizar argumentos emotivos aos racionais. A História já nos deixou vários exemplos claros de que quando na política a emoção extrapola a racionalidade, a humanidade foi capaz de cometer as maiores atrocidades. É preciso parar, se afastar um pouco e tentar visualizar o macro, não o micro. É necessário observar e analisar. É preciso compreender. Estes fatores são os que nos determinam como marxistas e não uma camiseta vermelha, o punho esquerdo cerrado e um vago discurso ao proletariado. Não procurem argumentos na tentativa de nos persuadir (emocional), procure por argumentos científicos, marxistas, que é o que supostamente temos em comum, e tentem nos convencer (racional).

Quando é utilizado o argumento de que, assim como em 64, a esquerda não consegue se unir para dar respostas às ofensivas patronais – tentando nos colocar em uma posição duvidosa – é como se estivéssemos em cima do muro ou até mesmo de cooptação com a direita por optarmos em não ir às ruas nos atos organizado pelo PT, CUT e MST. Jogando, assim, para nossas costas certa responsabilidade pela atual momento político ou pelo o que pode nos aguardar num futuro próximo caso aumente a ofensiva da extrema-direita…

prot1Mais uma vez, tais acusações (ou opiniões) carecem de uma análise mais crítica. Mais uma vez o emocional sobressai o racional. É claro que há uma certa semelhança entre os dias atuais e o período de pré-Golpe de 64. Entretanto, não enxergamos semelhanças quando comparamos a atual postura de Lula e Dilma com a postura tomada por Jango nos meses que antecederam o golpe. Diferente da postura dos petistas, Jango, quando se viu encostado na parede por setores burgueses e militarista, sinalizou que iria fazer várias reformas política, econômica e agrária. Peitou a burguesia nacional e o imperialismo. Expulsou empresas multinacionais dos EUA que ameaçavam nossa soberania econômica. Levou o seu governo mais à esquerda, priorizando as necessidades do proletariado. Ao contrário da postura que vemos hoje. Seja com Dilma ou Lula, o PT não dá sinais de que levará o seu governo mais à esquerda. A classe trabalhadora não vislumbra tais avanços. O PT já deixou claro quem pagará a conta da crise econômica e eu te garanto que não será o “pato”. As Reformas da previdência e os ataques aos direitos conquistados durante décadas pela classe trabalhadora; o ajuste fiscal e o corte de verba em diversos setores como na Saúde e Educação; o aumento da taxa de Energia, Combustível e Alimentos; e o esfacelamento e entrega da nossa maior empresa estatal, a Petrobrás, para o imperialismo. Em contrapartida, as grandes empresas privadas e bancos, a cada ano que passa, com crise ou sem crise, vem batendo recordes de lucro! O PT não conseguiu enfrentar a burguesia nacional muito menos o imperialismo e nem irão enfrentar. Lula é o queridinho de Obama e demais líderes das grandes potencias mundiais. Como pode um partido, que reivindica que seu governo é direcionado à classe trabalhadora, ter como programa político/econômico o avanço do projeto Neoliberal?!

Então, o que nos aguarda daqui em diante? Qual o papel que os revolucionários devem exercer na conjuntura atual? Se não distinguimos o programa político/econômico do PT com os demais programas dos partidos tradicionais da direita, deveremos sair às ruas em defesa de um programa antagônico ao nosso programa revolucionário? Ou então, vamos à campo para tentar nos defender, prevenir o avanço de setores da extrema-direita, do fascismo? Porque sabemos que se houver uma vitória contrarrevolucionária, não sobrará apenas para o PT/CUT/MST, mas sim para todos os movimentos sociais e partidos verdadeiramente socialistas. Somando-se às ruas, o PT e sua militância nos deixará expor nossas críticas ao Governo Federal? Por que o ato é em defesa ao Estado Democrático de Direito e aos movimentos sociais. Ou ao expormos as críticas, seremos mais uma vez rechaçados porque o caráter do ato em si não é em defesa da democracia e sim na “blindagem” de suas lideranças?

E agora, quais os próximos passos? Eu já disse que estou a mais de dois dias sem dormir? Infelizmente há poucas respostas e muitas dúvidas. Não tem como responder com convicção aos anseios da classe trabalhadora neste momento. Na conjuntura política que estamos vivenciando Revolução e Contrarrevolução andarão lado a lado. A classe trabalhadora poderá avançar 10 anos em apenas 1 na sua consciência ou poderá retroceder 10 anos em 6 meses! É necessário a observação, a análise e posteriormente a compreensão. É necessário uma paciência revolucionária para não se deixar levar pela euforia, pela persuasão ou pelo emocional. O ofício de todo marxista é a análise e a racionalidade! Mantenham-se firmes e esperançosos!

Carta Potiguar

Conselho Editorial

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