Rio Grande do Norte, sábado, 20 de abril de 2024

Carta Potiguar - uma alternativa crítica

publicado em 13 de agosto de 2016

A mediocridade da imprensa patuense

postado por Carta Potiguar

Por Antonio Alves de Oliveira Neto(Historiador e militante de movimentos sociais) e Epitácio Andrade Filho(Médico psiquiatra e pesquisador social).

Sabemos que todo discurso é dirigido. Ele tem um lugar de produção e um público-leitor a ser atingido. Os textos precisam de uma interpretação para além daquilo que está posto diante dos nossos olhos, uma leitura nas entrelinhas. Nenhum discurso é neutro, ideologicamente falando, como bem observa Foucault em sua obra A ordem do discurso: “… em todas as sociedades a produção do discurso é ao mesmo tempo controlada, selecionada, organizada e redistribuída por certo número de procedimentos que têm por função conjurar seus poderes e perigos, dominar seu acontecimento aleatório, esquivar sua pesada e terrível materialidade”.

Blogs e colunas têm entrado em decadência do ponto de vista crítico-reflexivo na cidade de Patu (claro que toda regra tem a sua exceção). Há muito não leio algo digno de importância nesses espaços virtuais. Fuxicos, festas, aniversários, não é que eu despreze o lado social das mídias, no entanto, sinto falta do que realmente merece atenção em Patu. O orquestramento da imprensa, o processo de apagamento dos problemas socioeconômicos é uma das facetas medíocres dos meios de comunicação contaminados pela politicagem.

liberdade-de-imprensaLembro que antes tínhamos na rádio um programa interativo que visava levar os cidadãos a apresentar as deficiências da cidade, do seu bairro, da sua rua. Hoje só temos flores, uma cidade feliz e harmônica como li esses dias no face (leia utilizando-se dos recursos de interpretação sarcásticos e irônicos). Pouco importam-se com o bem-estar da cidade, isso posso afirmar quando percebo que há tentativa de construir imageticamente algo que não cabe na nossa realidade com interesses pessoais e politiqueiros.

Direcionar as notícias, de forma que não caiba o contraditório, aliena e bitola uma população que já não tem uma cultura de discussão/participação política para além da divisão de cargos comissionados. Claro que não existe objetividade e parcialidade, o que reivindico são ambientes livres de oportunistas que se autoproclamam os defensores de Patu, e anunciadores de uma verdade absoluta e inquestionável, quando estão preocupados mesmo em garantir os “$eu$”.

Os meios de comunicação [redatores] de Patu prestam um desserviço no momento que deixam sobrepor suas predileções pessoais em detrimento do papel maior que deveriam prestar como facilitadores na formação da opinião pública em assuntos tão caros. Pelo contrário, os colunistas sociais cumprem a função de dar visibilidade a elite e de manter na invisibilidade social dos segmentos contra hegemônicos. Lembremos, que a comunidade quilombola do Jatobá é a única no estado com o processo de regularização fundiária concluído. Um exemplo para a política nacional para igualdade racial, porém, não é comum um negro do jatobá ser personagem de uma coluna social.

A imprensa patuense tem que perceber que tem o papel inexorável não só de veicular os fatos, mas  promover o debate das ideias para fazer a sociedade compreender os seus problemas e apontar soluções para as questões relacionadas às desigualdades sociais e o respeito às diferenças para que possamos avançar na construção do processo civilizatório e deixarmos para trás a barbárie, sob pena de termos de apelarmos mais uma vez a Eric Hobsbawn para nos explicar a origem do banditismo social, que não está distante da realidade patuense. Afinal, nesta terra nasceu Jesuíno Brilhante que protagonizou o maior conflito bandoleiro do Rio Grande do Norte.

E como diz os mais velhos “quem cala, consente”, quando problemas são ignorados e o silêncio toma de conta da mídia patuense, assume-se o papel de cumplicidade e uma postura condescendente com possíveis irregularidades. É notória a tentativa de esquecer um lado da História, mal sabem eles que Patu tem historiador e como bem afirmou Eric Hobsbawn tenho a missão de lembrar o [querem] esquecer. A nossa luta é por uma imprensa Livre, independente e comprometida socialmente.

Carta Potiguar

Conselho Editorial

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