Rio Grande do Norte, sexta-feira, 19 de abril de 2024

Carta Potiguar - uma alternativa crítica

publicado em 31 de agosto de 2016

Por que o feminismo incomoda tanto?

postado por David Rêgo

Um candidato a vereador em Natal tornou-se notícia nacional por expressar publicamente seu desapreço pelo movimento feminista. Na realidade ele expressou seu ódio na forma de uma piada. O pessoal não gostou e foram quase 2mil denúncias até a manhã do dia 31/08/2016.

Mas afinal, por que o feminismo desperta a ira de tantos?

O feminismo incomoda muita gente. Incomoda a mim, inclusive. Mas a primeira coisa que precisamos destacar é: nem tudo que causa desconforto é algo ruim.

É como a escola: ela incomodava, mas tinha consciência que ouvir o que a instituição tinha a dizer iria tornar-me um indivíduo melhor (era o que os meus pais diziam). A escola incomodava já que não me deixava fazer o que queria e da forma que queria. Foi lá que aprendi o respeito à vontade e à propriedade do próximo (não tomar o lanche do coleguinha e coisas do tipo). Foi a escola que me ensinou a seguir horários e cumprir tarefas dentro de prazos.

Isto foi positivo para minha vida adulta, mesmo que à contra-gosto na minha infância e adolescência. A escola, mesmo contra minha vontade, gerou as pré-condições para a aquisição da liberdade. Ela forçou-me a ser livre. Caso não tivesse frequentado a escola na infância, adoslescência e juventude, provavelmente, não teria 1/10 da liberdade que hoje tenho.

Neste sentido o feminismo e a escola são idênticos. O feminismo nos interpela para um novo tipo de comportamento, um novo tipo de comportamento que exige mudança por parte dos homens. O feminismo incomoda pela mesma razão que a escola incomoda: eles nos ensinam a civilidade quando é mais fácil permanecer na selvageria.

Homens (ou mulheres) que não gostam do feminismo comportam-se como aquele jovem que não quer ir para a escola. Emburrado, mimado e achando-se o dono da verdade o jovem não conhece nem mesmo sobre o que fala. Não conhece os conceitos debatidos ali, mas acredita ter uma opinião para dar mesmo com completo desconhecimento sobre o que pretende debater.

Em uma aula de matemática, por exemplo, um aluno é livre para acreditar que 2 + 2 = 5. E o professor é livre também para colocar errado em sua “opinião”. A visão do professor é considerada certa (2 + 2 = 4) já que ele pode comprovar sua fala. Ela surge a partir da observação e da medição do mundo. Portanto, no campo da ciência, é uma opinião válida. Caso diferente do aluno, que apenas “acha”.

É preciso deixar claro que a não existência da censura não nos deixa livres para falar o que desejamos, como erradamente entendem os jovens que não prestam atenção devida nas aulas ministradas nas escolas. Nós não somos livres para disseminar ódio, preconceito ou mentiras.

A liberdade de expressão está ligada a garantia que temos de falar aquilo que vai contra o padrão estabelecido desde que possamos comprovar o que dizemos. O que temos é liberdade de expressar descobertas, pesquisas, novas ideias etc. Preconceito não é ideia. É “pré-ideia”, “pré-conceito”, como a própria palavra nos coloca.

A escola é perfeita enquanto mecanismo de emancipação? Não, não é. Mas é, ainda, o melhor que temos à nossa disposição.

E o mesmo vale para o feminismo. Ele pode até ter falhas, mas ainda é a melhor ferramenta que temos para combater a violência contra a mulher. Lutar contra o feminismo ou fazer oposição a ele é lutar contra os dados. É lutar contra a própria ciência.

É valido ainda ressaltar que na manhã do dia 31/08/2016  o diretório municipal do partido que candidato faz parte (PMN) anunciou que irá expulsá-lo e tentar “barrar” sua candidatura, o ministério público entrou com 6 representações contra o candidato, as multas podem variar entre R$ 5.000 e 30.000 e a justiça Eleitoral também o notificou e informou multa de R$ 10.000.

Apesar de tudo o candidato disse que não recuará e tentará manter sua candidatura. Ele estaria sendo perseguido, pelo que infere em suas falas.

Ps: No xadrez, quando observamos que cometemos um grande erro é normal derrubar o rei. Isto representa uma derrota honrosa. Abandona-se a partida por reconhecer a falha. Os candidatos e os políticos nacionais poderiam aprender muito jogando xadrez.

David Rêgo

Sociólogo, antropólogo e cientista político (UFRN). Professor do ensino médio e superior. Áreas de interesse: Artes marciais, política, movimentos sociais, quadrinhos e tecnologia.

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