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Carta Potiguar - uma alternativa crítica

publicado em 17 de abril de 2017

De acordo com delação, Robinson, Fábio Faria e Rosalba receberam dinheiro ilegal de duas empresas do grupo Odebrecht

postado por Carta Potiguar

Victor Leão
Jornalista

De acordo com os depoimentos de delatores do grupo Odebrecht, Fábio Faria e Rosalba Ciarlini podem ter recebido dinheiro, via caixa dois, para a Campanha de 2010 de duas empresas que fazem parte do grupo empresarial: a Construtora Normando Odebrecht e a Obebrecht Ambiental. Os ex-executivos da construtora informaram que Robinson Faria e Fábio Faria receberam R$ 100 mil cada um sob os codinomes “Bonitão” e “Bonitinho”. Já os ex-executivos da Odebrecht Ambiental afirmam que houve uma doação de R$ 100 mil para Fábio Faria, sob o codinome “Garanhão”, e de R$ 350 mil para a campanha majoritária de Rosalba Ciarlini, sob o codinome “Dama”. O ex-vice-presidente da Construtora Odebrecht, Benedicto Júnior, confirmou também o pagamento de R$ 550 mil para a campanha da ex-governadora sob o codinome “Carrossel”.

Os ex-executivos da construtora informaram que Robinson Faria e Fábio Faria receberam R$ 100 mil cada um sob os codinomes “Bonitão” e “Bonitinho”. (Foto: Reprodução)

O diretor de contratos para o RN, Ceará e Piauí da construtora, Ariel Parente, disse que foi ao apartamento de Robinson Faria negociar a “ajuda” em 2010. “E eles [Robinson e Fábio] me solicitaram uma ajuda de campanha para a eleição de 2010”, disse em depoimento de delação premiada realizado na Procuradoria da República no Rio Grande do Norte. O pedido foi levado ao superior do executivo, o diretor superintendente para o Norte e Nordeste da construtora, João Pacífico. “Pacífico autorizou uma ajuda de R$ 100 mil para cada um”, completou Parente. Ao ser perguntado sobre a legalidade da doação pela procuradora que conduzia o depoimento, o ex-executivo disse que não era “oficial”.

Os ex-executivos da Odebrecht Ambiental afirmam que houve uma doação de R$ 350 mil para a campanha majoritária de Rosalba Ciarlini, sob o codinome “Dama” (Foto: Cláudio Abdon/Portal no Ar)

Tradicionalmente, o pagamento de propina a políticos potiguares ocorria na casa de câmbio Mônaco em Recife. Mas por falta de dinheiro suficiente no estabelecimento, o pagamento foi feito em São Paulo. Para sacar o valor, os políticos ou seus representantes recebiam uma senha, o local e a data exata para retirá-lo. “Foi entregue uma senha, que eu não me recordo se foi entregue a Fábio ou ao emissário dele. Aí, não sei como eles receberam, tão pouco como trouxeram o dinheiro pra cá. Robinson foi eleito com a governadora, eu ainda estava aqui, mas ele não me ajudou em nada, muito embora eu tivesse recursos para receber. Quando Rosalba assumiu, o Estado estava uma penúria de fazer pena, muito embora eu tenha recebido no período de Rosalba, mas sem interferência de Robinson ou de Fábio”, contou Parente.

O dinheiro que ele diz que tinha para receber correspondia à obra da Estação de Tratamento do Baldo (ETE), construída entre 2006 e 2010 na gestão Wilma de Faria – outro episódio de corrupção revelado pelos delatores da Odebrecht durante investigação da Lava Jato.

O diretor de contratos para o RN, Ceará e Piauí da construtora, Ariel Parente, disse que foi ao apartamento de Robinson Faria negociar a “ajuda” em 2010.(Foto: Reprodução)

Neste caso, os codinomes registrados no sistema informatizado de propinas da Odebrecht, o Drousys, eram Bonitão e Bonitinho. “Quero fazer primeiro a ressalva que não fui eu quem colocou esses codinomes, Bonitão e Bonitinho [sorri]. Bonitão, não sei se era Robinson, eu acho que era Robinson, e Bonitinho, Fábio”, comentou Parente.

Vários codinomes

Depoimentos de outros delatores mostram mais de um codinome para Rosalba e Fábio, usados em decorrência da negociação, dessa vez, com um executivo da Odebrecht Ambiental. Do mesmo grupo econômico, essa empresa atua principalmente como concessionária de sistemas de saneamento básico no Brasil. O ex-executivo da Ambiental, Alexandre Barradas, disse que foram feitos pagamentos de R$ 100 mil para Fábio Faria atrelados ao codinome “Garanhão”. Para Rosalba Ciarlini, o valor foi de R$ 350 mil sob o codinome “Dama”. “Foi dividido da forma que está aqui: R$ 350 mil para a campanha majoritária, que ajudaria o pai dele que faz parte lá, e R$ 100 mil para a campanha dele [Fábio]”.

O ex-executivo da Ambiental, Alexandre Barradas, disse que foram feitos pagamentos de R$ 100 mil para Fábio Faria atrelados ao codinome “Garanhão”. (Foto: Reprodução)

Apesar de fazer o pagamento para a chapa Rosalba – Robinson, Barradas disse que passou as senhas e os dados para saques do dinheiro da “Dama” e do “Garanhão” para Fábio Faria. Em depoimento prestado na Procuradoria da República, em Porto Alegre, em dezembro passado, um procurador responsável por conduzir a delação de Barradas pergunta: “se por acaso essa divisão dos R$ 450 mil foi obedecida pelo deputado Fábio, o senhor não sabe?”. Barradas balança a cabeça negativamente, dá um sorriso, junta as mãos na frente do rosto e sussurra “não”.

A denúncia do Ministério Público Federal também registra o uso do codinome “Carrossel” para Rosalba Ciarlini. No depoimento do vice-presidente da construtora Odebrecht, Benedicto Júnior, um procurador da República lista uma série de codinomes, nomes, valores e datas de doações para que sejam confirmadas pelo delator. Dentre as informações, estão “Rosalba Ciarlini, 2010, valor de R$ 550 mil, codinome Carrossel”. Benedicto disse que tinha ciência dessa doação.

Sistema de propina

O sistema de informação “Drousys” registrava todas as doações de campanha da Odebrecht e suas subsidiárias, como a Obebrecht Ambiental. Os codinomes, senhas, datas de saques e locais eram definidos pelo Departamento de Operações Estruturadas da Construtora Odebrecht, hoje conhecido como Setor de Propinas. Quando estava tudo certo para a doação, as informações eram passadas para os executivos regionais que, por sua vez, repassavam aos políticos ou seus representantes.

No entanto, o próprio ex-presidente da Odebrecht, Marcelo Odebrecht, ressalta em sua delação que não havia nenhum mecanismo de controle interno do setor de propinas. Isso propiciaria inclusive possibilidade de desvio de dinheiro das doações ilegais pelos executivos.

Interesses

Nas delações, fica claro o interesse de cada uma das empresas do grupo Odebrecht. A construtora realizou o que chama de “doação” na perspectiva de manter um contrato para a implantar a rede de saneamento em Natal. Contrato cuja Estação de Tratamento do Baldo era apenas uma parte. Segundo João Pacífico, o valor total do contrato era de R$ 400 milhões. Mas o executivo de João Pacífico em Natal disse que nunca mais teve contato com o Robinson e Fábio após a campanha.

A Odebrecht Ambiental queria gerir o sistema de sanemento por meio de algum tipo de Parceria Público-Privada com a Caern. O executivo da Ambiental também reuniu-se, ainda em 2010, com Fábio Faria, Rosalba Ciarlini e Carlos Augusto Rosado (marido de Rosalba) no apartamento de Robinson Faria.

O dinheiro que Ariel Parente diz que tinha para receber correspondia à obra da Estação de Tratamento do Baldo (ETE), construída entre 2006 e 2010 na gestão Wilma de Faria – outro episódio de corrupção revelado pelos delatores da Odebrecht durante investigação da Lava Jato. (Foto: Flamínio Oliveira)

Alexandre Barradas ficou entusiasmado com as ideias da candidata para o saneamento básico, mas não conversou com ela sobre valores de doação segundo contou em vídeo. Em 2011, com Rosalba e Robinson já no comando do governo do Estado, Alexandre Barradas voltou a se reuniu com o trio com a governadora, vice-governador e deputado federal. Mas a disposição de Rosalba Ciarlini para colocar em prática as ideias discutidas meses antes não era mais a mesma. Depois disso, Barradas disse que nunca mais viu o trio pessoalmente. Por ser uma concessionária de serviço público, a Odebrecht Ambiental é proibida por lei de doar dinheiro para campanhas eleitorais.

QUEM É QUEM

Construtora Normando Odebrecht – empreiteira e principal empresa do grupo Odebrecht
Ariel Parente – ex-diretor de contrato para Rio Grande do Norte, Piauí e Ceará.
João Pacífico – ex-diretor superintendente para Norte e Nordeste
Benedicto Júnior – ex-vice-presidente

Odebrecht Ambiental – empresa atuante na gestão de sistema de saneamento básico no Brasil com atendimento de cerca de 17 milhões de pessoas
Alexandre Barradas – executivo regional.

 

 

 

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