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Carta Potiguar - uma alternativa crítica

publicado em 18 de abril de 2017

Henrique Alves recebeu cerca de R$ 2 milhões da Odebrecht, de acordo com delação

postado por Carta Potiguar

Victor Leão
Jornalista

Com o codinome “Rio Grande”, o ex-deputado federal e ex-ministro Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) pode ter recebido até R$ 2 milhões da Construtora Odebrecht. A informação vem do delator e ex-executivo Ariel Parente. A propina foi paga entre os anos de 2008 e 2010 depois de um pedido de Henrique Alves por meio de um intermediário chamado de Enio de Araújo.

O filho de Aluízio Alves pediu 3% do que o Departamento Nacional de Obras Contra a Seca (Dnocs) repassasse às construtoras responsáveis por uma obra de irrigação no Piauí: a 2ª fase de expansão dos Tabuleiros Litorâneos. (Foto: Reprodução)

O filho de Aluízio Alves pediu 3% do que o Departamento Nacional de Obras Contra a Seca (Dnocs) repassasse às construtoras responsáveis por uma obra de irrigação no Piauí: a 2ª fase de expansão dos Tabuleiros Litorâneos. A Odebrecht fazia parte do consórcio junto com a Queiroz Galvão. O pedido ocorreu porque Alves exercia – e ainda exerce – influência sobre o Dnocs. “Era público e notório em jornal e tudo mundo sabia disso”, disse Ariel Parente, ex-diretor de contratos da Odebrecht para o Rio Grande do Norte, Ceará e Piauí.

Na época, o diretor do Dnocs era Elias Fernandes – em 2012 Fernandes deixou o cargo depois de um escândalo por favorecimento de Prefeituras potiguares ligadas ao grupo político de Alves. “Henrique não só indicou ele [Elias Fernandes]. No período que eu estive lá, acho que teve três ou quatro diretores diferentes. Saiu Elias, entrou Emerson Fernandes, depois entrou um tal de Walter que foi presidente da Caern aqui, depois mais outro. Todo mundo sabia que a indicação da diretoria-geral do Dnocs era de Henrique Alves”, comentou Parente.

Na época, o diretor do Dnocs era Elias Fernandes – em 2012, Fernandes deixou o cargo depois de um escândalo por favorecimento de Prefeituras potiguares ligadas ao grupo político de Alves. (Foto: Reprodução)

Foi esse poder que pressionou o diretor superintendente do Norte e Nordeste da Odebrecht, João Pacífico, a autorizar o pagamento de propina. “Depois de certo tempo, com ameaças que haveria retaliação, claro que a gente podia ter tomado a decisão de ter rescindido o contrato, mas eu reavaliei todo o processo, a obra já estava iniciada, ia ser uma conturbação muito grande”, justificou. Ele não explicou como eram e de onde partiam as ameaças.

As senhas, locais de pagamento e datas eram passados para Ênio de Araújo, que morava em Fortaleza. Os pagamentos eram feitos na casa de câmbio Mônaco, localizada na Praça Joaquim Nabuco em Recife, e em Salvador.

Como Henrique Alves não é mais autoridade público com foro privilegiado (que só pode ser julgado por determinados tribunais), o processo contra ele foi encaminhado para a Justiça Federal do Piauí. (Foto: Reprodução)

Dívida de propina

O contrato para a 2ª fase do perímetro irrigado no Piauí foi assinado em 2002 depois uma licitação fraudulenta. Só em 2008, a obra teve início. Em 2010, praticamente emperrou. “Não tinha área para o maquinário trabalhar. Eu tinha mais de 100 equipamentos na obra. Faltava projeto, desapropriação, rede elétrica. Então, eu tive que desmobilizar a obra. A partir de ter problemas nas obras, eu suspendi o pagamento não só dele, mas de todos que tinham participação no nosso recebimento”, contou Ariel Parente.

Apesar de ter pago quase R$ 2 milhões a Henrique Alves, o executivo local da Odebrecht disse que ainda deve ter ficado em dívida com o ex-parlamentar potiguar. “Acho que fiquei devendo mais de R$ 600 mil. Tive alguns recebimentos, mas não paguei porque tinha muito problema. Tava com um prejuízo muito alto na obra e resolvi não pagar”, acrescentou Parente.

Em março de 2013, o contrato entre o Dnocs e Odebrecht foi desfeito de comum acordo. Depois disso, a construtora abriu um processo contra o órgão federal segundo o diretor de contratos. No mesmo ano, a Mendes Júnior foi contratada para finalizar a obra. Na época, a 2ª etapa do perímetro irrigado estava 45% concluída. Até hoje, a obra está inacabada.

Sistema X Delator

Baseado no sistema de propina “Drousys” da Odebrecht, o diretor superintendente da Odebrecht para Norte e Nordeste, João Pacífico, afirma que Alves recebeu R$ 800 mil sob codinome “Rio Grande”. No entanto, Ariel Parente, responsável por repassar os dados para o saque do dinheiro afirma categoricamente que o valor passado ao líder do PMDB potiguar gira em torno de R$ 1,5 milhão a R$ 2 milhões.

O próprio Marcelo Odebrecht, ex-presidente da construtora, reconheceu que não havia práticas de controle interno (como auditorias) no setor de propina. Desse modo, havia risco até de que executivos desviassem o dinheiro das doações ilegais para si.

Outro delator fala que Henrique Alves também tinha o codinome de “Tique Nervoso”, mas Ariel Parente diz desconhecer isso.

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