Rio Grande do Norte, sábado, 20 de abril de 2024

Carta Potiguar - uma alternativa crítica

publicado em 18 de fevereiro de 2012

O #ForaMicarla e como o discurso dominante constrói algozes!

postado por Carta Potiguar

Por Dennys Lucas, Sociólogo e Militante

 

O #ForaMicarla e como o discurso dominante constrói algozes!

(Comentário em resposta ao texto de Daniel Menezes sobre o #Foramicarla publicado na Carta)

Alguns pontos:

1- No #foramicarla não acredito em instrumentalização partidária-eleitoral, pelo contrário vejo é uma exaustão de práticas voluntaristas e autonomistas – mesmo entre os filiados a partidos políticos e outras organizações sempre presentes. O que vem dificultando a organização dos atos, principalmente, quando os fatos políticos não colaboram e a organicidade desses sujeitos em articulações mais sólidas é muito pouca, e seu imaginário não tem uma pauta bem clara do que se quer;
2 – As hierarquias podem ser confundidas com atitudes e escolhas de lideranças políticas e estudantil, mais especificamente, entretanto, quando muitas vezes não são, simplesmente, e sim organograma estruturado formativamente dos sujeitos, aleatoriamente. Não sendo particular a um grupo, os dos filiados. Inclusive, quando muitos desses organizados que panfletam estas estruturas mais horizontais nos atos. Portanto, acredito, que esteja tornando sua análise bastante seletiva, com certa tendência a reafirmar preconceito com viés ideológico a deslegitimar os sujeitos organizados e cumprir tarefa panfletária a desorganização.
3 – Também acho um rebaixamento analítico – além de reafirmação ideológica – afirmar que o esvaziamento tem se dado por atos de pessoas presentes atos, que estariam distanciado ou excluindo, mesmo sem a pretensão calculada, pessoas não-partidárias ou mesmo apartidárias. Não acho. As pessoas tem o seu dia-dia, tem em seu imaginário que terminará em pizza, ou que não terminará por seu ato, nem agora, nem no lugar marcado, logo o fato político não está feito na dimensão do que estava naqueles grandes atos, e no que se tornou a ocupação primavera sem borboleta, onde inclusive se precisou de muito jogo de cintura para esperar e construir fatos mobilizadores. Inclusive pensadas, organizadas por pessoas livres, entre elas sujeitos com vastas experiências em situações semelhantes (hierarquização), mas não meramente com trampolim político eleitoral, e sim como ferramenta, instrumento, conhecimento… sensibilidade alcançada na prática e no estudo enviezado para situação semelhantes. Profissionalização, talvez, mas não excludente, o que vi foi, inclusive, as pessoas presentes, no fazer coletivo, começarem a respeitar estas especificidades, mesmos os temerosos com os mais organizados partidariamente ou de organizações semelhantes.
4 – O processo de atomização não é uma especifidade da nossa era, não acredito, mas que pode está sendo acentuado em determinadas sociedades, enquanto em outras vem sofrendo questionamentos ou paralelismos devido a necessidade imperiosa das lutas, reivindicações, contrapontos ou organização e ajuda mútua: o sapo não pula por boniteza, mas por precisão.
5 – Com certeza temos necessidade de lidar melhor com as solidariedades positivas, até em mensurá-las também, mas não só os partidários, e sim boa parte da humanidade. Olhamos o mundo com nossas lentes e muitas vezes desprezamos a especifidade da lente, da balança do próximo ou distante. A centrífuga nos distanciam do ponto central.
6 – Para concluir, acredito que se utiliza de um descarte imenso do debate executado por vários desses atores – Paulo Freire, por exemplo, no PT – organizados que não agem só por voluntarismo, mas por acúmulo de debates e construção de crenças para o melhor agir. Logo, percebo uma tentativa de imputar grandeza negativa no resultado insatisfatório na mobilização dos atos a setores organizados, quando, muitas vezes, são justamente estes que se mantem militantemente prostrados em atividades para panfletar os desmandos da prefeitura de Natal. Ou conseguimos lidar melhor com isto, ou desmotivaremos estes de continuarem a lutar enquanto, por motivos outros que nos impedem de se fazer presente, e digo isto, da mesma maneira, como espero podermos lidar melhor com a “solidariedade positiva” que recebemos e muitas vezes não percebemos.

Carta Potiguar

Conselho Editorial

5 Responses

  1. Daniel Menezes disse:

    Dennys,

    01. Não dô ao meu argumento a amplitude que você atribui. Me refiro a um público específico, que ao meu ver, durante o #Foramicarla representava a maioria, os que se auto-denominavam “apartidários”.
    02. Não defendo o voluntarismo. Se você notar, não sou contra a partidarização das questões políticas, já que este mecanismo de representatividade é legítimo. O que questionei foi a maneira como os partidos tentaram atrair os “apartidários”. Confesso que não tenho a resposta, mas penso que o modelo tradicional de cooptar os movimentos sociais ou grupos de protestos precisa ser revisto.
    03. Conversei com vários integrantes do #Foramicarla, pessoas que foram para os protestos, e, segundo ouvi como resposta, foi que essas pessoas não gostaram da tentativa de se mostrar líder do movimento da UJS e outros grupos. As bandeiras desagradavam essas pessoas. Escutei umas 100 vezes que, “quando entraram os partidos, eu resolvi sair”. Entenda bem, não concordo com essa argumentação. Alias, mesma argumentação que Micarla utilizou para deslegitimar o movimento. Para mim ela é desarticulante, não gera projeto nem continuidade. No entanto, é preciso também criar meios para mostrar para essas pessoas que um partido não se resume a “politicagem”, como eles gostam de dizer. Do jeito que foi feito, penso que afugentou muita gente. É preciso criar novos meios para se relacionar com essa atitude apolítica, que é uma forma de fazer política. De se relacionar com a desconfiança, por exemplo, que parte significativa dos estudantes vem direcionando contra a política.
    04. O sentimento de rebanho em alguns “líderes”, que não surgiram de nenhuma espontaneidade da “escolha”, conforme você afirmou, estava claro também e criava celeumas. Mais uma vez, não sei a resposta. Apenas percebi que alguns estudantes se incomodaram com o fato de que alguns queriam falar pelo movimento. Tal atitude foi enxergada como oportunista. Nunca vou esquecer de um carro de som, que foi colocado em frente a CMN por um sindicato, que só dava a o direito de fala (apesar de dizer que era plural, aberto e democrático) ao grupo que ele representava.
    Eu, juntamente com os demais, colocamos a carta potiguar e nossa experiência em redes sociais para apoiar e difundir o #Foramicarla. Fomos os aliados de todas as horas. Desempenhamos um papel.
    Porém, pelas críticas pontuais que fazia (não apenas eu), raramente, ao movimento, gente ligada ao DCE, sem saber que eu tinha fundado a carta, foi pedir minha cabeça para os meus colegas. 
    “Não tem como tirar ele, não?” Perguntaram…
    Reproduzido em tom um pouco mais civilizado a frase muito comum nos tempos do estado totalitário de Statin: “Ei, tem como matar aquela pessoa não”?
    Jota Mombaça fez boas críticas ao movimento no Substantivo Plural e um membro dos ocupantes da câmara disse: “Jota não acampou. Portanto, não pode falar pelo #Foramicarla”.
    São essas hierarquizações e sentimentos de rebanho, alicerçados numa, que eu muitos momentos, não difere da “tradicional”, que a gente quer combater, que ao meu ver, afastaram os “apartidários”.
    05. Os movimentos estão mudando e os partidos precisam mudar também. Foi o que tentei falar.

  2. Leon K. Nunes disse:

    Convinha colocar o link para o texto que deu oridem à resposta…

  3. Leon Karlos Nunes disse:

    Obrigado Daniel. A bem da verdade, eu procurei depois o texto de origem e já havia lido, bem como a resposta de Dennys e a contrarresposta, além dos comentários extras; só não havia exposto meu comentário ainda.

    Por princípio, não me incomodo com a disputa de espaço. Quando penso nos “apartidários” reclamando pela presença de “partidários”, o que vejo é tão-somente disputa. O problema é a postura xiita de uma das partes: dos “apartidários”, que negam veementemente o partido como forma de organização, alternativa, opção política, etc. Em geral, quem está num partido, disputa espaço abertamente; quem não está, não somente disputa, mas nega a atuação alheia, ou seja, com um moralismo com o qual eu penso que não devemos ceder, simplesmente desconsideram a atuação de quem está no PT, PCdoB, PSTU, PCO, POR ou qualquer partido, registrado ou não.

    Que a sociedade vê o partido com descrença, isso é público e notório. Daí a apontar a presença de um partido (ou mais) como elemento desagregador de uma bandeira como o Fora Micarla, acredito que há muitas nuances a mais. Penso, inclusive, que a grande maioria daqueles que estavam nos primeiros protestos pouco se importava sobre quem “aparecia”; para muitos, era a primeira presença num grande protesto de rua. A disputa de espaço por quem usava suas bandeiras, panfletos, camisas ou gritos era clara, e, em princípio, saudável, desde que não se perca o propósito do movimento – assim penso. A postura de segregacionismo, de inflexão e intransigência começou a partir dos que mais deviam negar esse método: os apartidários. A postura de se retirar de um movimento por haver partidos nele demonstra um conservadorismo que, repito, ao qual não devemos ceder. Uma coisa é manter críticas à forma de atuação dos partidos – coisa com a qual concordo e se faz urgente -, outra é aceitar essa condição e aceitar a postura de intransigência de quem está fora dos partidos como parâmetro; não vejo assim, pois não é parâmetro, mas sim, tão-somente, mais uma forma de disputa de espaço (ainda que, desta vez, descentralizada, pois é levantada tanto por indivíduos desvinculados a qualquer grupo como por anarquistas e membros de ONGs e coletivos horizontais).

    Naturalmente, o movimento não perdeu força apenas por uma atitude deliberada de “se entra o partido, saio eu”, pois se assim fosse, já teria acabado no primeiro dia (o que mais tinha eram cartazes de partidos, juventudes, etc). A força, penso (e há outros pontos a considerar, mas aqui me atenho estritamente a essa questão da disputa), foi se perdendo quando a organização que assumiu papel de destaque no movimento – o PT, que desde o início era a principal força, mas só com a ocupação conseguiu afirmar isso – negava o próprio papel de corrente hegemônica. Talvez isso fosse motivado pelo princípio forçadamente horizontal do movimento, movido por aquele assembleísmo, o que em si não é um problema, mas traduziu uma nítida incoerência entre discurso e prática. Até hoje alguns apartidários mantêm apoio ao #ForaMicarla (o que demonstra que a postura deles era menos crítica a algumas correntes – como a UJS, tida como a vilã do movimento estudantil – em relação a outras), mas isso não se manifesta mais em um movimento expansivo, festivo e envolvente como foi no começo. Por quê? Penso que dificilmente o movimento se sustentaria naquelas condições; não dá pra fazer protesto de milhares de pessoas por um ano se autoconvocando pelo twitter. O problema é que até hoje a corrente que tomou pra si o #ForaMicarla – e continua fazendo – não assume seu papel de protagonista dessas mobilizações, o que lhe conferiria a responsabilidade de manter não somente no discurso (não basta colocar o #ForaMicarla como pauta permanente no Conselho de Entirdades de Base da UFRN ou colocar o nome da gestão do DCE como Primavera Sem Borboleta), mas na base do movimento, a sua preponderância. Não sei se isso se dá pelas contradições internas do PT ou por questões outras, mas percebo nisso um problema sério no sentido da desagregação que o #ForaMicarla sofreu.

    Sendo assim, também não vejo a instrumentalização do movimento como o problema real dele, mas sim o modo como foi feita a instrumentalização. Um partido assumir hegemonia numa bandeira não é ilegal, não é crime, não é proibido e não é feio. Nesses tempos de apartidaristas, contudo, isso aparenta um viés autoritário que não existe na sua essência, mas que quem está dentro do partido (sobretudo um partido “aberto” como o PT) sente isso e assume postura dúbia, nem afirmando-se como hegemônico, nem, tampouco, flexibilizando o seu discurso quando em disputa com outras correntes; não se esquece o fato, afinal, de que a última eleição o DCE da UFRN foi marcado pela disputa entre os que eram ForaMicarla (PT e em menor escala, também o PSTU) e entre os que apoiavam Micarla (UJS). Desonestidade até o último fio de cabelo.

    A postura de estranhamento e negação da instrumentalização do ForaMicarla talvez seja sintoma de que o PT ainda não aprendeu a lição que o #ForaMicarla continua proporcionando.

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