Rio Grande do Norte, segunda-feira, 06 de maio de 2024

Carta Potiguar - uma alternativa crítica

publicado em 28 de maio de 2012

Os escândalos políticos e a sociologia brasileira

postado por Carta Potiguar

Temos hoje no Brasil o que poderíamos denominar de “campo de escândalo”. Atores diversos, situados no Estado e no Mercado, disputam as posições superiores nesse campo. Tais posições implicam no poder de identificar os corruptos.  Promotores, jornalistas e parlamentares almejam esse lugar social. Este lhes proporciona capital simbólico e distinção.

Por Edmilson Lopes (Sociólogo e Prof. Dep. Ciências Sociais – UFRN)

Terra Magazine

Vivemos na era da midiatização dos escândalos políticos. Os capítulos de um escândalo seguem a lógica subjacente aos realities shows: tudo, dos detalhes sórdidos às grandes negociatas, é transformado em objeto de consumo. No Brasil, os escândalos, não poucos deles fabricados em um submundo no qual vegetam arapongas e contraventores, alimentam um moralismo de bolso, cuja contribuição à construção de uma cidadania crítica e ativa é quase nula.

Nestes tempos de comunicação instantânea, os escândalos pressupõem a existência de materiais que possam ser visibilizados. Especialmente vídeos. Na ausência destes, toda uma estética de comunicação do escândalo foi se constituindo. É o caso da transcrição das fitas nos telejornais.  Como nem sempre as câmeras captam os atores em cena, é necessário alimentar com criatividade a transformação do produto “escândalo” em objeto de consumo.

Dessa forma, temos hoje no Brasil o que poderíamos denominar de “campo de escândalo”. Atores diversos, situados no Estado e no Mercado, disputam as posições superiores nesse campo. Tais posições implicam no poder de identificar os corruptos.  Promotores, jornalistas e parlamentares almejam esse lugar social. Este lhes proporciona capital simbólico e distinção. “Empreendedores morais”, por excelência, esses atores precisam atuar conforme os preceitos que subjazem aos seus julgamentos. Como nem sempre isso é possível, a rotatividade das posições dominantes no campo do escândalo tende a ser relativamente alta.

O capital acumulado pela posição de empreendedor moral e acusador de escândalos pretéritos não garante incolumidade para ninguém. O erro do Senador Demóstenes Torres foi acreditar que o seu “patrimônio ético” do passado o livraria da descida ao inferno (e à perda do mandato) ante as informações oriundas da Operação Monte Carlo. Em um primeiro momento, quando as primeiras informações vieram a público, senadores de todos os partidos se solidarizaram com o parlamentar goiano. Depois, o antes aguerrido e invejado Demóstenes tornar-se-ia um Dalit.  Outros atores, até mesmo órgãos de imprensa, travam uma luta de vida e morte para não serem arrastados para o mesmo pântano.

Para a sociologia brasileira, mais importante do que surfar na onda do escândalo, produzindo patéticos conselhos morais, é o desafio de tomar os dados produzidos pelas investigações para analisar com mais profundidade as  ações de pilhagem do Estado. Assim, poderá ajuntar algum entendimento da lógica de funcionamento e o ethos daquele setor identificado por Florestan Fernandes como “lúmpen-burguesia”.

De forma mais concreta, a sociologia brasileira pode contribuir para o desvelamento das redes sociais que traduzem as ações dessa fração lúmpen de nossas elites.

Carta Potiguar

Conselho Editorial

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