Rio Grande do Norte, sábado, 27 de abril de 2024

Carta Potiguar - uma alternativa crítica

publicado em 11 de janeiro de 2022

A morte é um fenômeno da vida

postado por Joao Paulo Rodrigues

Desde criança, de quando em vez, penso em minha morte. Porém, engana-se quem pensa esse tema se faz presente em mim por algum motivo mórbido de natureza psico-sociológica. Penso na morte como quem ama a vida – já diziam os antigos: filosofar é aprender a morrer!

Tenho certa curiosidade acerca da morte. Nada tão filosófico como muitos têm por exercício. Apenas tenho uma curiosidade quase infantil. Não penso na morte com medo, assim como também não penso nela com tranquilidade. Meu pensamento é intimista e impossível de se experimentar sem que eu passe pela morte.

Eu fico pensando sobre como será a experiência de morrer. Não tenho interesse em saber como será essa passagem; meu interesse é exatamente no momento da passagem! Digo, tenho curiosidade na sensação do meu fim. Muito embora a possibilidade de ter uma morte violenta me aterrorize, não é essa minha curiosidade; não quero saber como morrerei, quero saber como é morrer!

Certo dia, sonhei com minha morte. Em meu sonho, uma pessoa vinha me matar, violentamente, e na certeza de que iria morrer, eu disse a mim mesmo: “eu vou morrer”. De repente, acordei do sonho, como se morrer fosse isso, um despertar – mas despertar de quê, par quê?

Como se fosse uma metáfora, ao me acordar, no momento de minha morte, tive, por depauperada analogia, a impressão de que morrer é isso: um despertar no e para o nada. Entretanto, não pense o leitor que quero adentrar nas filosofias metafíco-poéticas dos antigos poetas vulgarmente chamados de filósofos. Não.

A impressão que eu tive foi de que, além da dor da própria morte – seja ela serena ou violenta –, não há mais nada. Pensar dessa forma, de deixa confortável, porém, não esmaece minha curiosidade acerca da sensação de morrer.

Ainda criança, pensei comigo que talvez eu fosse estranho – quiçá “abilolado”, como diziam meus antepassados. Todavia, depois de adulto, entendo que minha curiosidade é, talvez, um sinal de saúde – sem falsa modéstia ou modéstia à parte, o que dá quase no mesmo.

Engana-se quem compreende que pensar na própria morte é sinal de morbidez ou mesmo indicativo de depressão. Entendo, aliás, que é um dos maiores sinais de sanidade mental, pois somente através do pensamento sobre o morte é possível encontra a vida – ao menos eu gosto de pensar assim!

Joao Paulo Rodrigues

Graduado, especialista, mestre e doutorando em Filosofia (UFRN). Especializando em Literatura e Ensino (IFRN) e curioso pela ciência da grafodocumentoscopia.

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