Rio Grande do Norte, sábado, 27 de abril de 2024

Carta Potiguar - uma alternativa crítica

publicado em 29 de novembro de 2021

Cometer crimes contra a realidade tem sido nosso hobby

postado por Joao Paulo Rodrigues

Ao fazer meu passeio matinal pelo Twitter, deparei-me a um tuite do jornalista Chico Sá, que criticava a mídia jornalística mainstream por apresentar Moro como candidato sem história – ou a-histórico, digo eu! –, isto é, não dizem que ele simplesmente foi responsável por fraturar uma das pernas da República, a saber, o Judiciário, e mexer com o erário público brasileiro, acrescento eu. Sá dizia que não falar da Vaza Jato é ruim para a democracia, bem como é um crime contra a realidade.

Fiquei ponderando sobre esse crime contra a realidade. Entendo que o Chico Sá foi no imo da questão. Fiquei tão empolgado com sua definição, que tive de parar um pouco de trabalhar aqui, somente para escrever um pouco sobre esses crimes que temos cometido contra as realidades.

Depois dessa tal de pós-modernidade, que destronou as grandes narrativas de mundo, seguida pela tal da pós-verdade, o mundo se tornou um grande vale de fake news. Salvo engano de minha parte, tratei desse tema em um dos meus primeiros escritos para o Carta Potiguar.  Lá me queixava do cansaço que era sempre ter de conferir as informações, porque poderiam ser fake news – eu sei que você me entende, sei que sabe que eu não vejo problema em conferir as informações, claro, isso é até um imperativo; meu problema é com a sensação de desconfiança de tudo e de todos, após o advento da pós-verdade.

Apesar dos debates filosóficos das origens epistemológicas e para além das observações antropológicas, a realidade física existe, assim como as realidades histórico-sociológicas – não seria errado assentir que estas efetivam aquelas! Existe um céu, o que é discutível é sua tonalidade: é azul escuro, claro etc.? A Terra é ovalada, elíptica, o que se discute é: quando os ricos colonizarão Marte?

Veja você, querido leitor, o crime contra a realidade é tão requintado, que até se trouxe à baila uma discussão milenar, que já foi superada há pelo menos 500 anos, a saber, a Terra é plana ou é redonda? Vejam o absurdo em que nos encontramos, nós, os brasileiros. Convivemos com pessoas estupidamente estúpidas, que, por desajuste cognoscitivo, insistem em sandices que não fazem nenhum sentido, de acordo com os conhecimentos científicos e sociais acumulados.

Apesar de não existir necessariamente crime de opinião, é reclamando esse tipo de ‘crime’ que os criminosos – agora, sem aspas! – se dizem pressionados e discriminados. Eles têm a indecência de dizerem que eles têm o direito de disseminar distorções da realidade e que está tudo bem. Eu sou do entendimento de que não são insanos; esses que atacam as realidades, especialmente as físicas, não devem ser confundidos com opinadores. A bem da verdade, para mim, eles são formadores de opinião e investem no caos. Confundem ordenamento de aparelho cognição com opção política.

Esses criminosos merecem serem presos? Acredito que ainda não. Entendo que devem ser combatidos com toda força e energia possíveis. Devem se dobrar à realidade física ou serem constrangidos para que se recolham. Não podemos mudar o que alguém pensa, mas podemos, e com direito, impedir que essas hostes infernais e hostis disseminem suas bobagens, como se fosse algo normal e legal – no sentido moral.

Entendo que não devemos considerar mero hobbie os ataques que a realidade sofre. Inicialmente, tem um propósito, que é, por parte dos agentes caóticos – eu quase dizia católicos! –, distorcer a realidade política e dominar os rumos social e econômico da nação, entretanto, como decorrência, as pessoas passam, estranhamente, a acreditar nas coisas que se dizem, apenas porque um amigo disse e querem acreditar. Algo parecido aconteceu com o racismo. Inicialmente, sua fundamentação era o ressentimento, a exploração material e o domínio territorial.

Agora, como corolário – mas por correspondência e consequência! –, os racistas se julgam melhores que os negros e indígenas – no caso brasileiro – por conta da cor, dos traços e de sei lá mais o quê. Vejam – sempre digo isso –, temos dois trabalhos hoje em dia, a saber, precisamos combater a origem econômica do racismo – que diz respeito à escravidão em escala mundial –, bem como temos de combater sua fonte cultural. Com isso, eu quero dizer que até o racismo é praticado de maneira ‘distorcida’, se é que posso me expressar assim. É claro que não estou advogando uma maneira correta de ser racista, o que estou dizendo é que são distorções sobre distorções e somos nós que sofremos com o alto grau de arrogâncias, ganâncias e estupidezes.

Não pensei em soluções.

Eu sempre faço o que me cabe: insisto que a realidade está sendo negada. Acho que o objetivo desse texto foi apenas dilatar a angústia sentida por Chico. Eu também a sinto e fortemente! Não farei um pedido aguerrido. Peço apenas que nós nos posicionemos mais em relações às negações das realidades, bem como em relação às suas distorções. Temos o direito – mais que um dever – de intervir em informações comprovadamente equivocadas sobre a realidade, sob pena de amanhã convivermos com descerebrados e, o pior, sermos comandados por eles. Não esqueçamos, a criança de hoje é o adulto de amanhã.

Beijos de lux!

Joao Paulo Rodrigues

Graduado, especialista, mestre e doutorando em Filosofia (UFRN). Especializando em Literatura e Ensino (IFRN) e curioso pela ciência da grafodocumentoscopia.

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