Rio Grande do Norte, sábado, 27 de abril de 2024

Carta Potiguar - uma alternativa crítica

publicado em 25 de março de 2022

Você me entende, querido ‘Monte

postado por Joao Paulo Rodrigues

Outro dia eu ouvi meu artista preferido dizer – quem me conhece, sabe a quem me refiro – que desde criança tinha por meta de existência viver na arte – não necessariamente de sua arte! Ele expressou o que eu sempre senti e pensei, mas nunca consegui comunicar.

Nunca fui um artista – e acho que nunca o serei. Sempre tive a intelectualidade como manto de minha existência. Todavia, sempre quis, tal qual meu querido ‘Monte, viver dentro das histórias que li, isto é, sempre quis viver na arte – da literatura.

Parece que o sonho cartesiano é melhor que o niilismo da vida. Parece que o instante do sublime é uma grande bobagem de quem não entende que a contemplação é um estado de anestesia – que em nada eleva o espírito humano!

Não é que a arte salve, não é que a estética ajude, é que as artes nos permitem viver nossos sonhos – sonhar e nada mais!

Hoje eu bebi, eu fumei, eu pensei, mas eu não sonhei.

Não há uma pessoa sadia sequer, que não queira enlouquecer, não uma vida estética que não queira morrer.

Só quem entende que nem todos os montes são negros, entende que a dança do cisne é única e, por isso, encantadoramente bela.

Mas, sabe, não só ‘Monte me entende. Todo e qualquer ser que tenha a alegria de viver e não se sinta contemplado com esse mundo, entende-me. Aliás, viver é um imperativo que não precisa ser categórico.

Tudo o que eu queria era me encontrar em um lugar que eu sentisse que me coubesse. Talvez, só talvez, por isso eu quisesse ser um astronauta cujo mundo sideral fosse meu lar.

Não é que eu me sinta deslocado, simplesmente não faz sentido viver nessa dimensão. Quisera eu ser sensível aos ditos espíritos – que tanto medo me causam – que habitam as demais dimensões.

Não há lugar em que eu me sinta em casa, porque a casa dos ocidentalizados é uma pousada cheia de drogas, gente doente e moribunda, cuja paisagem se completa com crianças psicóticas que realizam as preces de seus pais psicopatas.

Não, você não me entende, querido ‘Monte.

Joao Paulo Rodrigues

Graduado, especialista, mestre e doutorando em Filosofia (UFRN). Especializando em Literatura e Ensino (IFRN) e curioso pela ciência da grafodocumentoscopia.

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