UFRN: Nova Fábrica de Medos
Por Ivenio Hermes
“Quem alega não ter tempo para pensar ou é cínico ou paga pensão ao obscurantismo.” Ivo Gomes de Oliveira.
Na sociedade hodierna a sensação de segurança é fundamental para que o homem possa ter sossego no ir e vir, para poder descansar tranquilamente, ter acesso a lazer com seus pares e família, para produzir no campo de ação no qual está inserido e ver o habitat evoluir.
Diante da insegurança, o ser humano se brutaliza e busca meios de defesa próprios, pois não mais confia que o Estado, o ente a quem confiou sua proteção, possa garantir a sensação agradável que viabiliza sua vida.
Apesar do jeitinho brasileiro de lidar com o inexplicável, está caducando o conformismo com as atitudes que se mostram evidentemente contra o que está pacificado como comportamento normal. E dentro disso, a falta de ação do Estado daquilo que é sua obrigação ou somente a ausência de uma lógica explicação diante de algo tão simples, pode retirar o sossego tão necessário o resultado da equação da segurança.
O ambiente acadêmico é a fábrica de novos pensadores, cientistas, médicos, engenheiros, professores, enfim, de novas mentes que realizarão as mudanças necessárias para a evolução da sociedade.
A UFRN, grande berço da produção de conhecimento, parece estar querendo acrescentar novas variáveis à equação da segurança, tornando-a mais difícil de ser resolvida, pois com tantos fatores desconhecidos inseridos nesse sistema o transforma num imbróglio com resultados difíceis de prever.
Dentre as variáveis, ignorar a necessidade de explicar o que ocorre com a segurança do campus universitário é impensável.
A situação solta farpas contra o sossego dos estudantes, onde alguns são rotulados manifestantes de forma pejorativamente por questionarem o contrato da atual empresa prestadora de serviços de segurança particular e a Universidade.
Trata-se da contestação sobre possíveis irregularidades em processo de R$ 25 milhões entre a Garra Vigilância e a UFRN. Sendo que, num ambiente onde impera o pacifismo, a equipe de vigilantes circula armada e já esteve diretamente envolvida em uma situação inescusável de disparo de arma de fogo (três tiros) contra um aluno.
Esse acontecimento foi presenciado e difundido por um aluno, outra variável dentro dessa equação, gerando revolta aos estudantes até picharam as imagens dos ex-reitores como sinal (não endossado, mas reconhecido diante do grito abafado) de descontentamento.
Lembrando que para se chegar a determinadas conclusões, na ausência de dados concretos, contudo, estando presentes elementos que orientam um cientista, um pesquisador ou investigador para determinada direção, é preciso trabalhar com todas as hipóteses que se tenham disponíveis.
É sabido que o aluno que sofrera os disparos teve essa agressão presenciada por outros alunos, dentre eles um estudante de pós-graduação em Ciências Sociais que passou a investigar o contrato com a Garra Vigilância. Sem adentrar no campo da capacidade mental ou doença psiquiátrica do aluno investigador, sua internação gerou uma polêmica que já poderia ter sido esclarecida e sobre ela nem se argumentará mais nesse texto.
Para os manifestantes, independentes de teoria ou hipóteses que eles estejam suscitando, a explicação técnica e ágil poderia convencer (se fosse coerente) e dirimir todas as dúvidas. Um deles, dando voz aos demais, demanda saber o valor do contrato, se existirem irregularidades que ele seja reavaliado à pertinência da lei e investigações sobre possíveis ações violentas ou obscuras dentro do campus por parte da empresa de segurança.
Três pedidos possíveis de serem atendidos, mas agindo da forma como tem agido, a reitoria revoga para si mais dúvidas e cria uma nova equação dentro da universidade, a equação da insegurança.
Não há como conceber uma guarda armada dentro de um ambiente universitário, principalmente na era das técnicas avançadas de imobilizações, em suas diversas modalidades como as duplas e quartetos, armamentos de controle de distúrbio não letais como tasers e bastões retráteis, dispositivos químicos como sprays para repelir ações realmente ilícitas.
Entretanto, o manifestante porta-voz declara que os seguranças impedem a circulação dos estudantes em alguns pontos da universidade, o que seria normal, dada as proporções do campus e de áreas de acessos exclusivo desse ou daquele público, desde que houvesse aviso prévio explicando o motivo desse impedimento.
Além disso, intimidar os alunos com armas de fogo é um completo contrassenso contra a segurança de mentes jovens, elas poderão criar um conceito equivocado de que os profissionais da segurança são atores da repressão legitimada pelo Estado e não guardiões da propriedade pública e da segurança dos próprios alunos.
Obstinar-se contra aquilo que fere o que eles acreditam é correto, quantos aos meios, como questionar quem vivia antes num ambiente pacífico de aprendizado e de uma hora para outra, vê sua universidade deixar de ser a casa das ideias e se transformar numa nova fábrica de medos?
Segurança no Ambiente Acadêmico
Não é possível uma experiência em segurança pública que utilize agentes sem conhecimento ou treinamento em direitos humanos para lidarem com minorias marginalizadas. Também não é possível a polícia comunitária sem o conhecimento dos problemas do meio onde ela estará agindo. É, do mesmo modo, contraproducente uma polícia turística, agentes que tratem com estrangeiros, que não falem o idioma e nem conheçam da cultura do país da pessoa com quem se interagirá. São erros que somente gerarão insegurança para os fiscalizados.
Uma empresa para lidar com a segurança de uma universidade precisa de agentes bem treinados, que saibam argumentar, conversar antes de usar a reação muscular, ajudar o estudante a compreender ao invés de apenas reprimir. Agindo sem treinamento para lidar corretamente com o público alvo que é o estudante universitário, a universidade parece estar retroagindo e não evoluindo.
Os ocupantes pedem uma capacitação profissional da segurança. Sugerem até que isso seja feito de forma gratuita através de setores da UFRN, pedem para entender melhor como funciona a segurança do campus e querem participar das políticas de segurança e fim de possíveis perseguições políticas.
A situação atual está insustentável e não se pode deixar que ela evolua, comprometendo completamente a segurança no ambiente acadêmico.