Rio Grande do Norte, domingo, 05 de maio de 2024

Carta Potiguar - uma alternativa crítica

publicado em 2 de novembro de 2012

Segurança no Ambiente Acadêmico

postado por Ivenio Hermes

UFRN: Nova Fábrica de Medos

Por Ivenio Hermes

“Quem alega não ter tempo para pensar ou é cínico ou paga pensão ao obscurantismo.” Ivo Gomes de Oliveira.

 

A Equação da Segurança

Na sociedade hodierna a sensação de segurança é fundamental para que o homem possa ter sossego no ir e vir, para poder descansar tranquilamente, ter acesso a lazer com seus pares e família, para produzir no campo de ação no qual está inserido e ver o habitat evoluir.

Diante da insegurança, o ser humano se brutaliza e busca meios de defesa próprios, pois não mais confia que o Estado, o ente a quem confiou sua proteção, possa garantir a sensação agradável que viabiliza sua vida.

Apesar do jeitinho brasileiro de lidar com o inexplicável, está caducando o conformismo com as atitudes que se mostram evidentemente contra o que está pacificado como comportamento normal. E dentro disso, a falta de ação do Estado daquilo que é sua obrigação ou somente a ausência de uma lógica explicação diante de algo tão simples, pode retirar o sossego tão necessário o resultado da equação da segurança.

 

Novas Variáveis Acrescentadas

O ambiente acadêmico é a fábrica de novos pensadores, cientistas, médicos, engenheiros, professores, enfim, de novas mentes que realizarão as mudanças necessárias para a evolução da sociedade.

A UFRN, grande berço da produção de conhecimento, parece estar querendo acrescentar novas variáveis à equação da segurança, tornando-a mais difícil de ser resolvida, pois com tantos fatores desconhecidos inseridos nesse sistema o transforma num imbróglio com resultados difíceis de prever.

Dentre as variáveis, ignorar a necessidade de explicar o que ocorre com a segurança do campus universitário é impensável.

A situação solta farpas contra o sossego dos estudantes, onde alguns são rotulados manifestantes de forma pejorativamente por questionarem o contrato da atual empresa prestadora de serviços de segurança particular e a Universidade.

Trata-se da contestação sobre possíveis irregularidades em processo de R$ 25 milhões entre a Garra Vigilância e a UFRN. Sendo que, num ambiente onde impera o pacifismo, a equipe de vigilantes circula armada e já esteve diretamente envolvida em uma situação inescusável de disparo de arma de fogo (três tiros) contra um aluno.

Esse acontecimento foi presenciado e difundido por um aluno, outra variável dentro dessa equação, gerando revolta aos estudantes até picharam as imagens dos ex-reitores como sinal (não endossado, mas reconhecido diante do grito abafado) de descontentamento.

 

Uma Nova Equação

Lembrando que para se chegar a determinadas conclusões, na ausência de dados concretos, contudo, estando presentes elementos que orientam um cientista, um pesquisador ou investigador para determinada direção, é preciso trabalhar com todas as hipóteses que se tenham disponíveis.

É sabido que o aluno que sofrera os disparos teve essa agressão presenciada por outros alunos, dentre eles um estudante de pós-graduação em Ciências Sociais que passou a investigar o contrato com a Garra Vigilância. Sem adentrar no campo da capacidade mental ou doença psiquiátrica do aluno investigador, sua internação gerou uma polêmica que já poderia ter sido esclarecida e sobre ela nem se argumentará mais nesse texto.

Para os manifestantes, independentes de teoria ou hipóteses que eles estejam suscitando, a explicação técnica e ágil poderia convencer (se fosse coerente) e dirimir todas as dúvidas. Um deles, dando voz aos demais, demanda saber o valor do contrato, se existirem irregularidades que ele seja reavaliado à pertinência da lei e investigações sobre possíveis ações violentas ou obscuras dentro do campus por parte da empresa de segurança.

Três pedidos possíveis de serem atendidos, mas agindo da forma como tem agido, a reitoria revoga para si mais dúvidas e cria uma nova equação dentro da universidade, a equação da insegurança.

 

UFRN: Nova Fábrica de Medos

Não há como conceber uma guarda armada dentro de um ambiente universitário, principalmente na era das técnicas avançadas de imobilizações, em suas diversas modalidades como as duplas e quartetos, armamentos de controle de distúrbio não letais como tasers e bastões retráteis, dispositivos químicos como sprays para repelir ações realmente ilícitas.

Entretanto, o manifestante porta-voz declara que os seguranças impedem a circulação dos estudantes em alguns pontos da universidade, o que seria normal, dada as proporções do campus e de áreas de acessos exclusivo desse ou daquele público, desde que houvesse aviso prévio explicando o motivo desse impedimento.

Além disso, intimidar os alunos com armas de fogo é um completo contrassenso contra a segurança de mentes jovens, elas poderão criar um conceito equivocado de que os profissionais da segurança são atores da repressão legitimada pelo Estado e não guardiões da propriedade pública e da segurança dos próprios alunos.

Obstinar-se contra aquilo que fere o que eles acreditam é correto, quantos aos meios, como questionar quem vivia antes num ambiente pacífico de aprendizado e de uma hora para outra, vê sua universidade deixar de ser a casa das ideias e se transformar numa nova fábrica de medos?

 

Segurança no Ambiente Acadêmico

Não é possível uma experiência em segurança pública que utilize agentes sem conhecimento ou treinamento em direitos humanos para lidarem com minorias marginalizadas. Também não é possível a polícia comunitária sem o conhecimento dos problemas do meio onde ela estará agindo. É, do mesmo modo, contraproducente uma polícia turística, agentes que tratem com estrangeiros, que não falem o idioma e nem conheçam da cultura do país da pessoa com quem se interagirá. São erros que somente gerarão insegurança para os fiscalizados.

Uma empresa para lidar com a segurança de uma universidade precisa de agentes bem treinados, que saibam argumentar, conversar antes de usar a reação muscular, ajudar o estudante a compreender ao invés de apenas reprimir. Agindo sem treinamento para lidar corretamente com o público alvo que é o estudante universitário, a universidade parece estar retroagindo e não evoluindo.

Os ocupantes pedem uma capacitação profissional da segurança. Sugerem até que isso seja feito de forma gratuita através de setores da UFRN, pedem para entender melhor como funciona a segurança do campus e querem participar das políticas de segurança e fim de possíveis perseguições políticas.

A situação atual está insustentável e não se pode deixar que ela evolua, comprometendo completamente a segurança no ambiente acadêmico.

 

Ivenio Hermes

Escritor Especialista em Políticas e Gestão em Segurança Pública e Ganhador de prêmio literário Tancredo Neves. Consultor de Segurança Pública da OAB/RN Mossoró. Integrante do Conselho Editorial e Colunista da Carta Potiguar. Colaborador e Associado do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Pesquisador nas áreas de Criminologia, Direitos Humanos, Direito e Ensino Policial. Facebook | Twitter | E-mail: falecom@iveniohermes.com | Mais textos deste autor

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