Rio Grande do Norte, domingo, 05 de maio de 2024

Carta Potiguar - uma alternativa crítica

publicado em 11 de março de 2013

O que resta da ditadura no RN

postado por Daniel Menezes

Semana passada a casa da minha irmã foi assaltada. Com um homem desconhecido andando pelo quintal, ligou para o 190, telefone da polícia. Após uma hora de uma longa espera, Cecília entrou em contato com a mãe (ela não estava no domicílio), que foi até a delegacia pedir encarecidamente que alguém a acompanhasse para averiguações mínimas (saber se o ladrão já tinha ido embora). Nada de grave aconteceu. Graças às grades das portas e janelas, que o invasor não conseguiu vencer. Detalhe: a residência de Cecília fica quase em frente à delegacia de candelária.

É esta polícia, que conforme noticiário da semana, não consegue terminar 20% dos seus inquéritos, que foi mobilizada, que usa recursos públicos, a sua já minguada inteligência para mapear e criminalizar os militantes da chamada #RevoltadoBusão. Ora, fazer cadastro de cidadãos, como se fossem terroristas, pelo simples fato de terem tomado as ruas, para pedir melhores condições de transporte público e uma tarifa mais acessível é o que nos resta da ditadura no Rio Grande do Norte (para maiores detalhes: https://www.cartapotiguar.com.br/2013/03/11/revoltadobusao-militantes-de-partidos-politicos-e-movimentos-sociais-sao-investigados-pela-policia-potiguar/).

O protesto capitaneado por movimentos sociais, sindicatos, professores, estudantes e simpatizantes de um modo geral teve a duração de inúmeras horas, manifestações, etc. Entretanto, a polícia faz uso de um ato isolado, que foi a queima de um ônibus – ação criminosa, ilegítima e que não condiz com o pensamento da maioria dos presentes [os representantes da segurança do Estado sabem disso] –, para perseguir pessoas comuns.

Em nenhum momento, a polícia militar do Rio Grande do Norte investigou os tiros e bombas empreendidos pelos seus agentes contra os manifestantes pacíficos, que foram parar nos hospitais da região. É uma atitude também típica do que resta da ditadura – o “excesso”, a violência policial a gente esconde, o que vem do “outro lado” a gente infla, escandaliza, criminaliza até justificar todo tipo de absurdo.

O fato é que se você tiver um parente assassinado, sofrerá de uma dupla tristeza – a perda de um ente querido e a alta probabilidade de não ver o crime resolvido. Porém, um professor manifestante foi acusado, torturado (teve um dedo quebrado durante um depoimento) e já sofrerá uma segunda tortura, que será enfrentar uma denúncia e o seu consequente processo.

Há uma total ausência de planejamento, aliado a uma inversão de valores. Os delegados que faltam para resolver os problemas do cotidiano dos norte-riograndenses, sobram para perseguir membros de movimentos sociais. De acordo com a própria imprensa, três delegados foram designados para monitorar quem participou da #RevoltadoBusão.

A situação seria cômica, se não fosse trágica. Falo isso porque conheço a maioria dos listados e não democraticamente investigados pela polícia. Por isso que, às vezes, penso em dar risada de um governo, que designa três delegados para investigar estudantes, professores e cidadãos, enquanto há fugas em massa e a taxa de assassinato em Mossoró, cidade da governadora, aumenta explosivamente ano após ano.

Penso em rir, mas logo desisto, pois o que acontece hoje é um frontal ataque ao Estado democrático de direito. É o que nos resta da ditadura no RN. Um governo utilizar seu aparato policial, para intimidar adversários políticos, essa que é a verdade.

O Governo Rosalba Ciarlini deve ser acionado na Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República. É o mínimo a fazer. Do contrário, o que resta da ditadura no RN pode virar regra. É bom não subestimar autoritarismo cor de rosa.

PERGUNTAS

É nesse tipo de “ação”, que a PM e a Polícia Civil vão empregar os recursos federais destinados para melhorar a segurança e aumentar a taxa de resolução dos inquéritos – o chamado “metrópole segura”?

O governo federal sabe que a gestão Ciarlini gasta dinheiro público e utiliza o escasso material humano da polícia, para “monitorar” adversários políticos?

A denúncia na secretaria de direitos humanos deve ser feita, além de outros protestos contra essa perseguição promovida pelo Estado Rosado.

ESPERADO

Não é bom esquecer que esse governo já tentou impedir protestos no centro administrativo.

Daniel Menezes

Cientista Político. Doutor em ciências sociais (UFRN). Professor substituto da UFRN. Diretor do Instituto Seta de Pesquisas de opinião e Eleitoral. Autor do Livro: pesquisa de opinião e eleitoral: teoria e prática. Editor da Revista Carta Potiguar. Twitter: @DanielMenezesCP Email: dmcartapotiguar@gmail.com

Comments are closed.

Política

#RevoltadoBusão: Militantes de partidos políticos e movimentos sociais são investigados pela polícia potiguar

Política

A mídia partidarizada