Rio Grande do Norte, sábado, 04 de maio de 2024

Carta Potiguar - uma alternativa crítica

publicado em 18 de junho de 2013

Na Pele das Vítimas

postado por Ivenio Hermes

Corporate Pandemonium by Serbia And Monte Negro (22)Construindo a Intolerância entre Manifestantes e Policiais (Parte 02)

 

A Verdade Encoberta

As manifestações populares ocorrem no Brasil e mais uma vez a exploração das imagens de policiais agredindo manifestantes e vice-versa pela mídia sem compromisso em mostrar a face do inimigo. Talvez seja pelo fato que parte da mídia também seja essa face mascarada por trás de programas que insultam a realidade e mostram um país que não existe nas telas de televisão.

O cidadão comum não acredita em sua força e como um viciado na ficção televisiva, todas as noites voltam seus olhos, durante o horário nobre, para consumir a droga fornecida pelos vilões da democracia.

Disfarçados, esses vilões agem de forma sutil e finória para vendar os olhos da população brasileira, que já teve sua mente embotada pela falta de investimento em políticas educacionais que os tire desse torpor, é uma presa fácil que mais parecem pequenos cordeiros prontos para o sacrifício ritualístico, em nome da perpetuação de políticos desonestos no poder que como contrapartida mantém grandes empresas de telecomunicação a seu serviço.

Agora, tanto essa mídia enganadora quanto os políticos mentirosos tentam reverter o quadro de desabono de suas condutas, novamente incitando policiais contra os manifestantes que por sua vez, se perdem no afã vingativo contra seus perseguidores e algozes personificados pelo uniforme. Os donos das empresas de televisão continuam a colecionar obras de arte pagas com o sangue do cidadão, que futuramente serão organizadas e apresentadas em forma de mostra cultural para limpar toda a ignomínia que seus meios de comunicação jogaram sobre o povo.

Confortáveis em seus gabinetes, os falsos representantes do povo continuam elaborando meios, para se esquivar de sua culpa ou para se misturarem aos manifestantes encorajando-os e conclamando-os como se fossem legítimos portadores da voz popular e não meros aproveitadores do momento de despertamento.

A busca por soluções pacíficas para a situação de insatisfação que atualmente predomina no Rio Grande do Norte e no Brasil só acontecerá quando essa verdade encoberta há muitos anos se sobressair evidenciando os verdadeiros culpados, mesmo diante das imagens brutais, que funcionam muito bem para ocultar os vilões e polarizar em pontos antagônicos as verdadeiras vítimas, manifestantes e policiais.

Na Pele das Vítimas (2)Por Baixo do Manto

Habituados a lidar com criminosos, o policial é levado a tratar o cidadão que se manifesta como tal. Nas academias de polícia é pregado um amor férreo pela farda, pelo considerado manto sagrado do policial e não pelo verde e amarelo da bandeira nacional, cores que, aliás, só voltam ao passional brasileiro na época de jogos de futebol e eventos esportivos.

A consciência cidadã que deveria ser aprendida nas escolas não é valorizada nas academias de polícia e os policiais saem delas com a cor do uniforme mesclada à sua pele, que inclusive são conhecidas como “segunda pele”, que em alguns casos se transformam até em tatuagens. Cegado por treinamentos desvirtuados, o policial emerge como um novo ser, esquecido que antes de serem agentes encarregados de aplicar a lei, mantenedores da segurança pública, eles eram cidadãos comuns.

A representação do Estado incutida pelo amor ao uniforme os faz olvidar que seus direitos também são desrespeitados pelo mesmo Estado e que eles possuem o direito de exercer sua cidadania.

Os policiais militares foram induzidos pela afirmação de que são “força auxiliar do Exército” a se distanciarem da essência da atividade policial e se voltaram para a forja militar, inclusive em seu treinamento básico. Como já afirmava o General Osório há mais de 136 anos, “A farda não abafa o cidadão no peito do soldado”, mesmo que policiais e soldados sejam diferentes, um é feito para a guerra contra um inimigo externo e outro treinado para lidar com cidadãos, não se pode esquecer o cidadão que reside por baixo do manto.

Os integrantes da Polícia Militar não ficaram parados no tempo, e aos poucos, foram questionando sua formação para incluir atividades de ensino que os volvesse para a premissa de proteger e servir.

O processo, contudo não é tão rápido e o despertar da população para os erros no processo de construção de uma doutrina policial mais direcionada para uma polícia cidadã que tanto queremos não pode simplesmente apontar os erros e esquecer o esforço em acertar. Mesmo porque, ainda existem pessoas de influência que preferem uma polícia justiceira que age com a força antes da inteligência e essas pessoas cultuam a falsa ordem social que existia na época da ditadura, fazendo uma apologia disfarçada à violência que sendo embutida no treinamento do policial, ora se volta contra o cidadão.

Mas as manifestações são o fruto do descontentamento geral com a realidade social hodierna. O conflito entre cidadão e polícia é apenas mais uma prova de que se tenta evitar que o Brasil evolua socialmente, e é um fato, que o brasileiro ainda não sabe como atuar nas manifestações e nem os policiais a terem um comportamento digno diante de provocações.

Não devemos vestir o manto cinza, bege, azul, verde ou preto de qualquer polícia, nossa ideologia deve possuir a cor da nossa pele, pois é nela que sentimos a dor consequente da falta de respeito.

Por baixo do manto do homem, deve jazer apenas a pele.

Na Pele das Vítimas (5)A Revolta dos Vitimizados

A mídia nacional esconde, manipula, edita cenas, falas, enfim, transforma as vítimas em réus e, aqueles que estão acostumados a julgar apenas pelo que assistem na televisão, são facilmente levados a declarar seu juízo de valor desvirtuado contra os manifestantes.

Num dia a mídia declara que os manifestantes são atacados pelos policiais, passam a ideia de que a polícia age gratuitamente contra os que buscam melhorias sociais, no dia seguinte, após ser rechaçada pelos mesmos manifestantes, a mídia apresenta imagens de policiais sendo agredidos, de estudantes armados com coquetéis molotov, estilingues, pedras e outras armas improvisadas para atacar policiais. Tudo isso para gerar uma maior intolerância entre agentes da lei e manifestantes e proteger a imagem de empresas de jornalismo como a Globo e outros jornais que agem como sucursais do poder público hipócrita em várias cidades do país.

Cansados de serem manipulados pela imprensa e de serem usadas para provocar o aparato policial, as vítimas começam a notar o engodo nas imagens e falas editadas e também promovem manifestações contra esses ditadores midiáticos.

Por que os manifestantes se mascaram? Por que esse ódio latente contra a polícia? Trata-se do resultado de um programa de subversão do comportamento provocando o antagonismo.

Os estudantes, mesmo aqueles em nível de graduação, que se supõem ser mais esclarecidos, desconheciam seus deveres, não entendiam a competência da polícia e nem seu funcionamento, não percebiam onde estava o limite entre suas reinvindicações e o direito. Mas eles romperam esse ciclo e hoje buscam apaziguar os ânimos dos policiais, que por sua vez começam a entender que não devem ser violentos no tratar com aqueles que também estão lutando por seus direitos.

Os tão denominados vândalos da Revolta do Busão no Rio Grande do Norte fizeram escola e motivaram movimentos semelhantes no resto do país. É claro que a imprensa do Estado do RN não declara isso, pois em sua maioria estão a favor da administração pública que sucateiam as polícias e rotula os manifestantes.

Em grandes centros urbanos como São Paulo e Rio de Janeiro os movimentos tiveram outro nome e ganharam maior notoriedade em pouco a marcha contra o aumento da passagem de ônibus recebeu nomes mais palatáveis, como o Movimento Passe Livre. Os líderes dos movimentos já começam a ser recebidos e vemos um grande número de movimentos populares surgirem.

Diante do descontentamento com as promessas não cumpridas, a governadora do Rio Grande do Norte declara que “(…) entende que é livre o direito de manifestação” como se ela tivesse algo contrário a declarar. O Secretário de Segurança Pública diz que a Polícia só agirá em casos de violência, depredação de patrimônio ou atos de vandalismo, e por que nem ele e nem a governadora tiveram essa preocupação antes? É novamente uma tentativa de se aproveitar do antagonismo criado entre policiais e manifestantes.

Dentre as fileiras dos manifestantes, pessoas mal intencionadas insuflaram a massa contra a polícia, elas foram colocadas lá para alimentarem o confronto, o vandalismo, a ira e o ódio, obstruindo as chances do movimento pacífico. De dentro do movimento perceberam-se articulações de agentes do poder que pretendem dominar, provocarem a onda de violência resultante da confrontação de dois lados da mesma moeda.

Alertados da presença desses conspiradores dentro do meio estudantil, dentro das fileiras policiais e em meio à mídia manipuladora, as diversas lideranças começaram a se respeitar e procurar entender o que se passa nessa luta que é de cada cidadão.

As teorias de conspiração plantadas no seio da ação social e policial foram paulatinamente diminuídas e o equilíbrio volta a ser estabelecido entre as vítimas.

A revolta dos vitimizados surtiu efeito e novamente surge a chance do Brasil e do Rio Grande do Norte mostrar o que realmente quer de seus representantes e do Governo.

Não somos vândalosNa Pele das Vítimas

Um novo capítulo está sendo escrito na história dos movimentos sociais brasileiros, como vivas para os agem com legitimidade.

A assessoria de comunicação de Rosalba Ciarlini divulgou as palavras da governadora que destaca um trecho onde a governadora pede paz, uma paz que nem ela e nem sua ineficiente política de trabalho conseguiu conquistar, devido a total ausência de investimentos na segurança pública, que começa pela não contração de policiais e vai muito mais além.

Rosalba Ciarlini quer paz quando nunca tomou a atitude de pagar a bolsa aos policiais civis que fizeram o Curso de Formação em 2010 e até hoje não foram nomeados, ela quer paz quando a Polícia Militar vive no vermelho e só consegue diárias para seu efetivo quando é conveniente pagar, como no caso de Mossoró, que é a terra da governadora. Ela pede paz quando esses agentes da lei são vitimizados pelo abandono e colocados como representantes da força do Estado contra os estudantes para usá-los como perfeitos bodes expiatórios.

“Vejo os movimentos sociais que estão acontecendo por todo o País como uma prova do fortalecimento da nossa jovem democracia. No Rio Grande do Norte não será diferente, até pelo histórico de ser um Estado que sempre lutou pelas liberdades. A minha orientação à Polícia é no sentido de manter a paz, de proteção às manifestações democráticas, garantindo a liberdade de manifestação do pensamento”. Rosalba Ciarlini

É comum pedir paz quando, reconhecidamente derrotado, o algoz se vê na pele das vítimas.

É muito confortável dizer que classifica os atos dos manifestantes como fortalecimento da democracia, quando eles já foram detidos, alguns tiveram sua privacidade invadida pela polícia, tiveram inclusive investigações preliminares instaurados.

Na Pele das Vítimas (6)A Seguir…

O próximo ato nacional contra o aumento abusivo das passagens de ônibus e buscando melhorias no sistema de transporte público está previsto para acontecer em várias capitais e cidades brasileiras na quinta-feira dia 20.

Em Natal, onde esse movimento começou, milhares de pessoas pretendem participar. A definição do percurso será estabelecida em plenária na noite de terça-feira, dia 18 de junho de 2013 e a concentração para a saída da marcha já confirmada para as 17h, na parada do circular da UFRN ao lado do shopping Via Direta e às margens da BR-101.

Dispa-se de qualquer preconceito e participe como cidadão, promovendo a paz durante a marcha e buscando soluções através do ato que resta para aqueles que não podem mais esperar nada de positivo ser iniciado por um governo inerte desde que assumiu, a não ser que seja colocado na pele das vítimas.

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SOBRE O AUTOR:

Ivenio Hermes é Escritor Especialista em Políticas e Gestão em Segurança Pública, Colaborador e Associado do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Consultor de Segurança Pública da OAB/RN Mossoró, Conselheiro Editorial e Colunista da Carta Potiguar, Pesquisador nas áreas de Criminologia, Direitos Humanos, Direito e Ensino Policial e Ganhador de prêmio literário Tancredo Neves.

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REFERÊNCIAS:

REDAÇÃO. #RevoltadoBusão confirma nova manifestação nesta quinta em Natal: Movimento convocou entidades para participar de plenária sobre o novo ato. Mais de 19 mil pessoas confirmaram presença no protesto no Facebook.. Disponível em: < http://db.tt/xreqcZzN >. Publicado em: 17 jun. 2013.

BARBOSA, Anderson. Secretaria de Segurança do RN deve evitar confrontos, determina Rosalba: Segundo Aldair da Rocha, ‘a polícia só vai agir se houver violência’. #RevoltadoBusão promete novo protesto pelas ruas de Natal na quinta (20).. G1 RN. Disponível em: < http://db.tt/KHmdUh9Y >. Publicado em: 18 jun. 2013.

PUBLICIDADE. ‘Minha orientação à polícia é de manter a paz’, diz governadora do RN: Rosalba classificou manifestações como ‘fortalecimento da democracia’. Declaração foi enviada à imprensa nesta terça (18) após onda de protestos.. G1 RN. Disponível em: < http://db.tt/24kiwRYW >. Publicada em: 18 jun. 2013.

Ivenio Hermes

Escritor Especialista em Políticas e Gestão em Segurança Pública e Ganhador de prêmio literário Tancredo Neves. Consultor de Segurança Pública da OAB/RN Mossoró. Integrante do Conselho Editorial e Colunista da Carta Potiguar. Colaborador e Associado do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Pesquisador nas áreas de Criminologia, Direitos Humanos, Direito e Ensino Policial. Facebook | Twitter | E-mail: falecom@iveniohermes.com | Mais textos deste autor

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