Rio Grande do Norte, domingo, 05 de maio de 2024

Carta Potiguar - uma alternativa crítica

publicado em 10 de abril de 2015

A limusine de Couto Pereira

postado por Rafael Morais

imageEntre os anos 30 e 50 do século passado, o futebol brasileiro que chegava aos olhos do público maior era restrito ao eixo Rio-São Paulo. Não era a toa que praticamente toda a base da Seleção Brasileira, com raríssimas exceções, era composta por jogadores dos clubes dos dois Estados.

Para chegar aos grandes clubes e até mesmo atuarem fora das suas cidades de origem, os jogadores de outros centros tinham que estar presentes nas Seleções dos Estados. Não existia o campeonato nacional nos moldes que é disputado atualmente. O Brasileiro era disputado em sistema de playoffs entre as Seleções Estaduais. Só assim um atleta do Sul ou do Nordeste conseguiria atuar em outros centros do país.

Mas, mesmo que em nível local e distante das câmeras fotográficas dos jornais ou dos microfones das estações de rádio nacionais, havia futebol por todos os lugares do Brasil.

Essa história, por exemplo, eu li no livro Fedato: o Estampilla Rubia (de Aroldo Fedato e Paulo Krauss) e aconteceu na véspera da final do campeonato paranaense de 1945. O título estava para ser definido entre Atlético e Coritiba em três jogos consecutivos. No primeiro jogo, os atleticanos chiaram dizendo que o juiz favoreceu ao Coxa. No segundo, a arbitragem foi contestada pelo Coritiba. Diante do impasse, a solução foi trazer um juiz de fora para a terceira e última partida decisiva.

“Foi contratado o paulista Arthur Cidrin. Ele viria no domingo pela manhã, em um carro alugado pela Federação Paranaense. O percurso entre São Paulo e Curitiba tinha uma tradicional parada na metade do caminho, para um lanche ou café. Espertos, Manoel Aranha (presidente) e o dirigente atleticano Cândido Mader foram até lá para recepcionar o árbitro. Pouco tempo depois que chegaram, apareceu a limusine que deveria transportar apenas o juiz Cidrin. O carro estaciona, e o motorista, elegantemente, abre a porta do lado direito para o árbitro descer. Aranha e Mader encaminham-se sorridentes para dar boas vindas ao juiz paulista. Enquanto isso, o chofer dá a volta por trás do automóvel e abre a porta do lado esquerdo. Quem é que desce do banco traseiro, o mesmo que viajava o árbitro? Ninguém menos que Couto Pereira, o presidente do Coxa”.

O que aconteceu foi isso mesmo que você imaginou. Enquanto os atleticanos se deslocavam para receber o árbitro no meio do caminho, o astuto presidente Coxa Branca já estava em São Paulo, acompanhando Cidrin durante toda a viagem.

E essa história não termina aqui. O melhor de tudo e mais curioso é que no jogo final da série que decidiu o título, ninguém reclamou da arbitragem, o Atlético venceu o jogo e foi campeão. Moral da história: honestidade em primeiro lugar.

Rafael Morais

Comunicador Social pela UFRN. Experiência em assessoria de imprensa esportiva e atuação em televisão. Áreas de interesse: literatura e esportes em geral, com ênfase no futebol como a "teatrialização das relações humanas".

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