Rio Grande do Norte, segunda-feira, 13 de maio de 2024

Carta Potiguar - uma alternativa crítica

publicado em 1 de dezembro de 2010

O Assassinato de Jesse James pelo Covarde Robert Ford

postado por Mario Rasec

O Assassinato de Jesse James pelo Covarde Robert Ford (The Assassination of Jesse James by the Coward Robert Ford, EUA, 2007), filme dirigido por Andrew Dominiki, baseado no livro de Ron Hansen e com a melancólica trilha sonora de Nick Cave e Warren Ellis, é um filme lento e introspectivo, com longas tomadas que ressaltam sua belíssima fotografia. Embora seja um faroeste, há poucos tiros para um filme do gênero, mas cada um deles chama a atenção por sua inesperada brutalidade (ou por se tratar de um filme que se arrasta em longos silêncios, cada tiro ressoa com um significativo impacto, onde cada disparo de revólver ou espingarda tem sua importância, sendo muitíssimo necessário para o pleno desenvolvimento do enredo, ao contrário de alguns filmes de ação que estão mais preocupados em gastar munição do que se preocupar em contar uma boa história). Certamente quem assistir o DVD deste filme achando que vai ver um filme de faroeste comum, vai se surpreender ou se decepcionar. Mas, para aqueles que optarem pela segunda opção, de modo algum poderão ter o mesmo sentimento em relação aos atores.

Neste filme, Brad Pitt, caracterizado como um melancólico e desconfiado Jesse James, prova (mais uma vez) não ser um mero galã de Hollywood. Na medida em que a solidão paranóica do personagem, que está cercado por outros bandidos e por sua própria fama, vai se acentuando, percebemos seu conflito interno (numa interminável luta contra si mesmo) em cada gesto, em cada olhar que Pitt dá ao seu personagem. A soberania da sua interpretação só é verdadeiramente ameaçada pela perturbadora atuação de Casey Affleck (talentoso irmão de Ben Affleck), assumindo o papel de Robert Ford, o “covarde” do título. Logo nos primeiros momentos de projeção ele consegue nos incomodar com seus trejeitos infantis e inseguros. De modo algum imaginamos o quanto este personagem cresceria no filme chegando ao ponto de não só esquecermos a aversão inicial, como também substituí-la por uma certa afeição pelo personagem.

Impossível também deixar de notar as atuações de Sam Rockwell, que faz aqui um dos irmãos de Robert Ford, e de Garret Dillahunt (o exterminador do seriado de TV Terminator: The Sarah Connor Chronicles), aqui fazendo uma interessante atuação como um caipira ingênuo, membro do bando dos irmãos James.

Há também uma breve “atuação” de Nick Cave, que na verdade faz aquilo que ele sabe fazer de melhor: tocar um instrumento e cantar. Pois, o próprio assume ser um ator frustrado. Entretanto, um excelente músico que trouxe a esse filme mais um bom motivo para apreciar.

Mas o grande orquestrador deste peculiar faroeste é, sem dúvida, o diretor Andrew Dominiki, e um dos seus maiores feitos é o de desconstruir o mito de Jesse James e criar simpatia pelo seu assassino, o inicialmente desagradável Robert Ford. Fazendo refletir e perceber que as fantasias que levaram Jesse James a alcançar a fama que ele usufruiu na sua época, se espelham nas atitudes de Robert Ford. Mostrando assim a questão da fama e da sua irresponsável e patética busca, representada pelos protagonistas deste filme, numa desastrosa e melancólica conseqüência. Com isso há uma quebra no habitual antagonismo bandido/mocinho, comum aos filmes do gênero.

Ficha técnica:

título original: (The Assassination of Jesse James for the Coward Robert Ford)

lançamento: 2007 (EUA)

direção: Andrew Dominik

atores: Brad Pitt, Mary-Louise Parker, Casey Affleck, Sam Rockwell.

duração: 160 min

gênero: Faroeste

Mario Rasec

Designer gráfico, artista visual, ilustrador e roteirista de HQs. Autor de Os Black (quadrinho de humor) e de outras publicações.

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