Rio Grande do Norte, quinta-feira, 02 de maio de 2024

Carta Potiguar - uma alternativa crítica

publicado em 17 de abril de 2011

Quando amores se vão…

postado por David Rêgo

Um renomado escritor, Friedrich Nietzsche, uma vez afirmou que “amamos o desejo mais do que o objeto desejado“. Os psicanalistas parecem concordar plenamente com a afirmação. O desejo não tem lugar fixo, simplesmente desejamos desejos. Um outro grande escritor, Jacques Lacan, dizia que “O desejo do homem é o desejo do Outro“.

Afinal, penso, a grande dor dos amores que se vão não é propriamente a incapacidade de encontrar uma pessoa melhor (seja ela mais bonita, mais inteligente ou o que for). Não lutamos propriamente para manter pessoas, mas para manter sonhos. A grande dor dos amores que se vão são os sonhos estilhaçados, as esperanças frustradas e a necessidade de reconstruir todo nosso mundo sem saber, literalmente, por onde começar. Tudo que antes se fazia acompanhado, perde o sentido. Os melhores pratos são deixados pela metade, o vinho não tem mais sabor, as pessoas tornam-se chatas e irritantes e tudo ao nosso redor perde completamente o sentido.

Erguer-se quando nossos amores se vão representa não apenas esquecer alguém, mas reconstruir um mundo. Um mundo que criamos em nossa imaginação, que projetamos em um futuro distante e que agora se desfez, em um piscar de olhos como quem acorda de um sonho. É tão normal chorar por amores que se vão, quanto querer voltar ao sono quando acordamos de um sonho. Construir um novo mundo é bem mais difícil que derrubar um antigo. Reconstruir sentidos e criar novas necessidades é um desafio nem sempre tão fácil. Não apenas isto. Penso ser a dor dos amores que se vão necessária. Alguém que nunca sentiu o peito apertar e uma incontrolável vontade de fazer o que “não deve” (uma ligação aos prantos no meio da madrugada, uma mensagem de saudades ao meio-dia, entre tantas coisas tão comuns aos que sentem no peito uma asfixia quase insuportável) deixa de aprender muito. “Ame, ame até doer, o amor só é verdadeiro quando dói“. Não há mal em entregar-se aos sonhos e se deixar levar pelos desejos. Mesmo que estes nos venham a render noites em claro e dias intermináveis.

Nunca ter sofrido por amor não é motivo de orgulho. A dor do amor nos torna mais humanos, nos ensinam que sentimentos não são coisas bobas e que não devemos despertar desejos que não possamos corresponder. Talvez o único conforto nos amores que se vão é saber que após a turbulência teremos nos tornado pessoas melhores. Saber que cresceremos ao reconstruir um novo mundo, que nenhum amor é insuperável e que nossos desejos são voláteis quando não possuem terreno firme para manter-se. Enfim, é isso.

 

David Rêgo

Sociólogo, antropólogo e cientista político (UFRN). Professor do ensino médio e superior. Áreas de interesse: Artes marciais, política, movimentos sociais, quadrinhos e tecnologia.

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