Rio Grande do Norte, domingo, 05 de maio de 2024

Carta Potiguar - uma alternativa crítica

publicado em 11 de março de 2012

O calazar que mata silencioso e o estado que não reage

postado por Daniel Menezes

Enquanto exaltamos o fato de que ultrapassamos o Reino Unido e nos tornamos a sexta economia do mundo, tem gente no Brasil que sofre por causa de doenças medievais.

O jornalista Cezar Alves, que alimenta o bom blog “Retrato do Oeste”, apresenta bem o cenário que deveria ser motivo de vergonha coletiva.

 

Do Retrato do Oeste (http://www.nominuto.com/blog/retrato-do-oeste/

O calazar que mata silencioso e o estado que não reage

 

Tenho defendido aqui e nas ruas um trabalho sério de combate ao calazar em todo o Rio Grande do Norte, considerando que é de uma doença de tratamento cruel e que se não tratado corretamente não tem como sobreviver. É morte certa.

Como é público, meu irmão contraiu calazar em Mossoró/RN e o sofrimento que ele passou durante o tratamento não desejo nem mesmo ao responsável pelo combate a doença no Estado, que deveria existir com o máximo de seriedade.

E em Mossoró os números e a atenção dada ao ser humano com calazar são de arrepiar. Provamos na pele a irresponsabilidade acrescida de incompetência para encontrar a cura.

Mossoró registrou quase mil sacrifícios de cães com a doença em 2011. Neste mesmo período, 22 pessoas tiveram diagnóstico positivo e 4 mossoroenses não resistiram.

Em 2012, pelo menos 3 mossoroenses já foram diagnosticados com calazar. Não existe registro de óbito. Também se tivesse acontecido, não teria como. Entendam o motivo!

Como se trata de uma doença do século XV é fácil combatê-la. É um protozoário que geralmente usa o cão para se multiplicar e chegar ao ser humano através de um mosquito.

Combate-se o mosquito, o cão e pronto. Só isto.

O complicado mesmo para o mossoroense é o diagnóstico e o tratamento. Quando meu irmão precisou, no dia 5 de fevereiro, não tinha o teste rápido e nem o exame de comprovação na cidade.

E havia outras 10 ou 15 pessoas com indicação médica para fazer o teste rápido e, dando positivo, fazer uma bateria de exames, que também não é disponibilizado em Mossoró.

Meu irmão, com muito esforço de nossa família, conseguiu o teste, os exames de comprovação e o tratamento no Hospital Giselda Trigueiro, em Natal.

Já recebeu alta e está em casa. Recupera-se muito bem.

Não sei se por sacanagem ou por desorganização mesmo, no dia 8 março, exatamente um mês e três dias após termos procurado o teste rápido no Hospital Rafael Fernandes, em Mossoró, ligaram para a residência de meu irmão chamando-o para fazer os exames.

Minha família agradeceu e informou que o mesmo já estava curado.

No dia 5 de fevereiro, quando houve a prescrição médica para realizar o teste, meu irmão estava muito debilitado e certamente se tivesse esperado um mês e 3 dias já teria morrido. Esta foi a informação repassada pelos médicos que gentilmente nos acompanharam em Mossoró.

Quanto aos outras pessoas que precisavam do teste rápido e dos exames de comprovação, peço desculpas por não ter qualquer informação a respeito. Estava junto com minha família correndo atrás do atendimento de saúde para meu irmão. Fico devendo.

Passado o pesado, voltei às ruas e ao trabalho. Encontrei cães com sintomas de calazar não só em Mossoró, mas em Macaíba e Ceará Mirim. E creio que o mesmo ocorre em outras cidades da região também. Existem registros de calazar em toda esta região.

E onde tem um, não é somente um, infelizmente.

Foto: Cezar Alves

Daniel Menezes

Cientista Político. Doutor em ciências sociais (UFRN). Professor substituto da UFRN. Diretor do Instituto Seta de Pesquisas de opinião e Eleitoral. Autor do Livro: pesquisa de opinião e eleitoral: teoria e prática. Editor da Revista Carta Potiguar. Twitter: @DanielMenezesCP Email: dmcartapotiguar@gmail.com

2 Responses

  1. Bruno Rafael disse:

    A questão do calazar é alarmante, mas atrelado a ele vem outros problemas como raiva, dermomicoses etc. São doenças veiculadas por animais vadios, não apenas cães. Ou seja, o problema é muito maior ao observado.
    Porém, não podemos culpar apenas o Estado. Cidadãos desavisados e, muito pior, negligentes não tomam os devidos cuidados com a reprodução de seus animais de estimação e acabam por abandoná-los pelas ruas. Ou, ainda, alimentam animais vadios, sem se preocupar em manter a sanidade imunológica de seus colegas-de-rua; achando, por certo, que ser defensor dos animais é apenas alimentar e dar um cafuné.
    De fato, falta atenção/fiscalização por parte do Estado, mas também falta bom-senso da população. Informação não falta!

  2. Daniel Menezes disse:

    Bruno,

    concordo contigo. Há uma defesa boba dos animais, em que as pessoas alimentam passarinhos, pombos, cachorros, gatos, que atenta contra vidas humanas.

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