Rio Grande do Norte, domingo, 05 de maio de 2024

Carta Potiguar - uma alternativa crítica

publicado em 26 de março de 2012

Henrique Alves e a falsa tese do fisiologismo

postado por Daniel Menezes

Henrique Alves, deputado federal (PMDB-RN), foi apontado como o grande líder daquilo que a revista Isto É classificou como o “fisiologismo” na base aliada. Seria um dos pivôs das investidas contra o governo, conforme matéria que versa sobre o azedamento das relações entre presidência e congresso.

01) a ideia de “fisiologismo” é bastante pobre, se a gente quiser pensar as relações políticas um pouco além das percepções comuns, que não costumam atingir a profundidade de uma gilete deitada. Qual o partido que ganha que não quer ocupar os espaços estatais, até para desenvolver seu projeto político? Quem não quer participar?! Mais. A disputa por eles é até, em certo sentido e até determinada intensidade, saudável. Introduz competitividade dentro do sistema. Estranho seria se os partidos vencedores resolvessem abdicar dos postos de poder. Pior. Ver o grupo vencedor repassar os cargos para uma burocracia estatal autônoma, que numa situação extrema, criaria uma ditadura tecnocrática e sufocaria a sociedade. O Estado não é uma empresa. Precisa de uma agenda social e política capitaneada por parte significativa da sociedade legitimada nas urnas para caminhar.

02) Henrique Alves é liderado de Michel Temer. A quem interessa pintar Henrique Alves de Fisiologista, enquanto Michel Temer aparece como grande constitucionalista?! O que marca a diferença entre os dois, se fazem parte do mesmo grupo?

03) Henrique Alves, se eleito presidente da câmara, trará recursos para o estado, até para se legitimar ainda mais no nosso RN. Quero acreditar nisso. 2014 ele quer senador. E sabe, de alguma forma, que precisa mostrar serviço. Porém, vem enfrentando forte disputa dentro do PMDB pelo posto maior. Não existe partido monolítico internamente, por mais que ele se mostre externamente coeso (o que também não vem sendo o caso). Outras bandas do PMDB não irão engolir com facilidade. Lutarão também pelo espaço. Há ainda os demais partidos, e até mesmo o PT, que, na primeira oportunidade, não dormirão no ponto. Basta ter força e contexto propício para tanto.

Longe de expressar uma suposta crítica verdadeira, ou pelo menos a tentativa de alcançá-la, a matéria está mais para míssil teleguiado, que apela para uma visão moralista e irreal da política.

Daniel Menezes

Cientista Político. Doutor em ciências sociais (UFRN). Professor substituto da UFRN. Diretor do Instituto Seta de Pesquisas de opinião e Eleitoral. Autor do Livro: pesquisa de opinião e eleitoral: teoria e prática. Editor da Revista Carta Potiguar. Twitter: @DanielMenezesCP Email: dmcartapotiguar@gmail.com

6 Responses

  1. […] Henrique Alves e a falsa tese do fisiologismo […]

  2. Estudante disse:

    Olha só a pobreza da ideia de “fisiologismo”: Aguinaldo Ribeiro, ministro do governo PT. Bacaninha a cultura política que a Carta Potiguar tenta propagar…

    http://g1.globo.com/politica/noticia/2012/03/anunciada-em-2010-internet-gratis-em-joao-pessoa-nao-saiu-do-papel.html 

    Ah, é mais uma da Mídia Golpista, aquela que tem a mágica capacidade de criar denúncias contra os ministros do governo PT, num contexto que não tem nada a ver com fisiologismo, né? É claro que quem pensa assim, não costuma “atingir a profundidade de uma gilete deitada”.

    Pois melhor mesmo é utiliza a definição de política da Carta Potiguar: “de um ponto de vista estrutural e axiológico, é a arte de esconder os erros do seu partido político e encará-los como fazendo parte da prática de uma esfera social intocável, isto é, os políticos do seu partido”.

    Essa definição cai como uma luva.

  3. Daniel Menezes disse:

    Estudante,

    eu tentei ressaltar que a luta por cargos não tem a ver com “fisiologismo”. Os partidos aliados disputam espaços. Faz parte da luta democrática. Isto não pode ser confundido com escandalos políticos, etc.
    O próprio PMDB é costumeiramente enquadrado por tentar ganhar espaço. Porém, o PT, além de outros partidos, quando tem a oportundiade, ampliam os seus espaços.
    A luta por cargos é algo “normal” da política. Estranho seria se os partidos lutassem para recusar os cargos e postos no estado, que conforme weber, traz ganho material e simbólico.
    A questão do Agnaldo já é outra coisa. Não aí a disputa por cargo, mas a apropriacao privada de recurso público.

  4. Brunno disse:

    Gostei da análise, serve como contraponto. Entretanto, precisamos compreender que os motivos da luta por espaço no poder, denominada por fisiologismo, não é motivada por um projeto para a nação, o Estado ou mesmo o governo, não se trata de um quadro programático, mas de interesses mesquinhos/particulares de um grupo encastelado no poder.

  5. Daniel Menezes disse:

    Também passa por isso, mas por mais que o projeto seja “particularista”, esses mesmos grupos precisam alocar recursos para implementar políticas públicas junto aos seus eleitores e obter com isso legitimidade.
    Dilma vetou as emendas dos parlamentares, o que não é legal, pois o mecanismo é previsto.
    Ela tenta desarticular as antigas lideranças partidárias para colocar outras em seus lugares dos mesmos partidos, mas mais a mercê da força dela e alinhada com o governo.
    Se vai dar certo… não sei.
    Só sei que os grupos já bem encastelados não são compostos de meninos buchudos.
    Sarney, Renan, Romero, Henrique, Eunicio, etc… não nasceram ontem, como às vezes Dilma parece considerar…

  6. Americo disse:

    O problema, Daniel, é que Henrique Alves é deputado há mais de 40 anos e não sabe de nenhum projeto político, de sua autoria ou por ele defendido, que tenha representado um ganho às instituições ou um avanço político-social.

    Como você bem disse, é legítima a “disputa” por cargos pelos grupos vencedores da eleição, no entanto, o fisiologismo aparece na medida em que Henrique e afins projetam o preenchimento de cargos para práticas, no mínimo, duvidosas ou controvertidas, em prol de seu grupo político (ou seria econômico?). Ou você acha que foi a TV Cabugi e a Tribuna do Norte – ambas deficitárias na “gestão” dos Alves – que o deixaram tão rico?

    Ademais, o fisiologismo também aparece a cada eleição – ou após ela -, com a bandalhada de Henrique e do PMBD para o lado do governo, sempre. No fundo, posso até concordar que a matéria tem sua intenção moralista e hipócrita, que talvez – muito possivelmente – dissimule a briga por espaços políticos no governo, no entanto, não deixa de ser incontroverso que o PMDB pratica um fisiologismo dos mais baratos, puros, sem intenção sequer de firmar seus próprios espaços e bandeiras – eles não as tem.

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