Rio Grande do Norte, segunda-feira, 06 de maio de 2024

Carta Potiguar - uma alternativa crítica

publicado em 24 de abril de 2012

Imprensa esconde real pano de fundo do “ambiente hostil ao empresariado no RN”

postado por Daniel Menezes

AMBIENTE HOSTIL TEM NOME

A imprensa do RN esconde o pano de fundo do “ambiente hostil”, a real queixa do empresário Flávio Rocha. Em sua entrevista a Tribuna do Norte, que ainda repercute, está explícito um recado bastante claro. Não se trata do governo, mas dos entes “reguladores-fiscalizadores”, ou seja, Ministério Público do Trabalho e Tribunal Regional do Trabalho.

Não tem nada a ver com ausência de incentivos. Até porque o RN, através de várias administrações, já cedeu terrenos, isenções fiscais, desregulamentações, etc.

O nó da questão está no fato de que as empresas do ex-deputado federal quebraram Termo de Ajustamento de Conduta firmado com o MPT e foram obrigadas a pagar multas milionárias. Até agora o revés não foi deglutido.

TRABALHO DEGRADANTE

O conteúdo do Termo dizia respeito a tentativa de normatizar as práticas e ambiente de trabalho nas fábricas do empresário, conforme legislação vigente.

Conforme MPT:

O acordo encerra uma ação de execução em que o Ministério Público do Trabalho cobrava multa por descumprimento de normas de saúde e segurança no trabalho nas unidades de produção da empresa.

No Termo de Ajuste de Conduta, a Guararapes comprometera-se a adequar suas instalações, máquinas e mobiliário, para evitar acidentes de trabalho e danos à saúde dos trabalhadores.

A empresa também deveria criar programas de prevenção de riscos no ambiente de trabalho e de vigilância epidemiológica de doenças profissionais, uma vez que foram detectados muitos casos de lesões por esforços repetitivos.

Constaram-se, também, denúncias de que a empresa não recebia atestados médicos válidos, não realizava exames médicos periódicos e limitava a quantidade de vezes e o tempo de uso do banheiro durante o expediente.

Durante os exames periódicos, os médicos da Guararapes questionavam as trabalhadoras sobre os métodos contraceptivos utilizados por elas e se as funcionárias estavam grávidas, situação vedada expressamente em lei.

EM RESUMO, o grupo guararapes fazia controle de natalidade dos seus funcionários, não aceitava atestados médicos como comprovantes, mantinha os funcionários trabalhando em condições precárias e adoecedoras e, de quebra, limitava idas e tempo de permanência no banheiro. Um tipo de capitalismo que promove uma relação trabalhista que não mais se pratica na contemporaneidade, além de tudo ser proibido por lei no Brasil.

O Ministério Público e o Tribunal Regional do Trabalho fizeram os seus papéis.

Em nova declaração, o empresário Flavio Rocha afirmou que, “se as condições mudarem, não levará a fábrica para o Ceará”.

O que significa mudança de condições?

Perdão das multas?

Amordaçar os entes reguladores (TRT e MPT)?

GOVERNO ENDOSSA A PRESSÃO

Tendo sido ajudado pelo empresário, o governo rosado endossa a pressão e, por tabela, deslegitima a justiça do trabalho e o ministério público. Resta saber se a sociedade irá também aceitar tal situação.

CIDADANIA

Vejam bem. Não estou negando a necessidade de oferecer incentivos e criar ambiente empresarialmente atrativo. Infelizmente, a guerra fiscal, que Dilma promete acabar, torna a geração do cenário imprescindível.

Mas as necessidades de um empresário não podem ditar os rumos de todo um estado em todos os seus aspectos. Não podem sobrepujar o ministério público do trabalho, que é um poder que, em última instância, emana do povo.

Devemos empoderar o MP e não enfraquecê-lo. A dignidade do trabalhador é inviolável. A volta ao passado pode ser catastrófica.

BASE SOCIAL DA (FALTA DE) LIBERDADE DE IMPRENSA

Numa cidade como Natal, um jornalista/site/blog/portal bater de frente com os interesses de grupos empresariais, construtoras, sindicatos de empresas de ônibus significa a morte social. Os empregos minguam, as possibilidades de patrocínio desaparecem, as agências de publicidade olham de modo atravessado. Diante deste contexto, o modo como a imprensa (não) atua se torna compreensível.

Daniel Menezes

Cientista Político. Doutor em ciências sociais (UFRN). Professor substituto da UFRN. Diretor do Instituto Seta de Pesquisas de opinião e Eleitoral. Autor do Livro: pesquisa de opinião e eleitoral: teoria e prática. Editor da Revista Carta Potiguar. Twitter: @DanielMenezesCP Email: dmcartapotiguar@gmail.com

6 Responses

  1. Andrea Linhares disse:

    Daniel,
    vc afirma que “o governo rosado endossa a pressão
    e, por tabela, deslegitima a justiça do trabalho e o ministério público”. Poderia  informar com base em que ações concretas tomadas pelo governo você baseia sua afirmação?

  2. Daniel Menezes disse:

    Com base nos mais variados discursos proferidos. Há um autor, talvez meio surrado, que dizia que uma palavra também é um ato.

    A tese que propagam é que: “é melhor um trabalhador que adoeça de vez enquando, do que um desempregado com saúde”.

  3. Paulao disse:

    Daniel, você não falou do call center da riachuelo. Se você investigar irá encontrar bastante coisa. Já reclamamos da situação, mandando emails para jornais mas de nada adiantou. ninguém deu uma notinha de nada daquilo que agente falou.

  4. Daniel Menezes disse:

    Caro, me mande email com o seu contato. Já soltei algumas Tweets, mas posso fazer texto sobre o assunto..

  5. Americo disse:

    Daniel, eu li a entrevista com Flávio Rocha, como diria PHA, do tipo “púlpito” ou “levanta que eu corto”, e fiquei com a pulga atrás da orelha. Eu já imaginava os problemas trabalhistas que a Guararapes enfrentava, mas ignorava a real dimensão.

    Seu Nevaldo e Flávio fazem parte daqueles capitalistas que adoram ver o empregado no chicote, pelo visto, para sustentar a vida nababesca que levam. O cinismo do sujeito é tão grande que sugere até o erguimento de uma estátua para homenagear o pai. Só se for estátuas como a dos Generais da Ditadura, para nunca mais esquecermos dos desatinos que impuseram a cidadãos inocentes.

    Esse tipo de subemprego não faz falta, ou não faria, se o governo de ocasião fosse minimamente competente para formular políticas de atração e incentivos a investimentos de valor agregado. Ah, e é sempre bom lembrar, que o empresário gosta de emparedar os governos, ganhar todos os tipos de benefícios possíveis, mas ao menor sinal de crises ou “ambientes hostis”, cai fora. O compromisso dessa gente é só com o próprio bolso.

    É preciso MUITO choque de cultura, comunicação e educação, para o povo acordar e romper com esse modelo de capitalismo selvagem, doentio, que promove uma desigualdade de renda massacrante, acaba com a saúde dos trabalhadores de baixo da pirâmide, para o patrão poder desfilar, todo ano, os carrões, lanchas, iates e mansões novos.

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"Ambiente hostil ao empresariado no RN" tem nome

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